
Na última semana, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) oficializou uma decisão que parecia incerta: manter o ramal ferroviário de Ponta Porã como parte opcional no projeto de relicitação da Malha Oeste. A medida, fruto de meses de discussões técnicas e audiências públicas, reacendeu o otimismo entre produtores rurais, empresários e lideranças locais.

O trecho de 355 quilômetros, que conecta Ponta Porã a importantes polos agrícolas, como Maracaju e Sidrolândia, é mais do que um amontoado de trilhos enferrujados. É uma artéria logística por onde passam – ou deveriam passar – toneladas de soja, milho e carne bovina com destino aos mercados nacionais e internacionais.
Por anos, a ferrovia esteve mais próxima do abandono do que da modernização. Vagões velhos, trilhos desgastados e um horizonte nebuloso marcaram as últimas décadas. A decisão da ANTT, no entanto, sinaliza uma oportunidade de reverter esse cenário e recolocar o transporte ferroviário no centro do desenvolvimento regional.
Debate técnico e político no Ministério dos Transportes sobre a importância estratégica do ramal ferroviário de Ponta Porã para o escoamento agrícola de Mato Grosso do Sul.
Um mapa de trilhos e esperanças - A decisão de manter o ramal ferroviário veio após a conclusão da Audiência Pública nº 5/2023, realizada entre abril e maio do ano passado em Campo Grande e Brasília. O processo não foi simples: relatórios técnicos, depoimentos de especialistas e manifestações de setores produtivos moldaram o parecer final da agência reguladora.
Na prática, o que foi garantido não é uma solução definitiva, mas um passo importante. O trecho de Ponta Porã permanece no mapa da Malha Oeste, mas sua operação e revitalização dependem agora dos próximos capítulos da relicitação.
Além de garantir a permanência do ramal, a ANTT incluiu no projeto trechos obrigatórios que deverão ser considerados pela futura concessionária. Houve ainda espaço para sugestões adicionais, como a possibilidade de novos trechos serem incluídos em propostas futuras.
Mesa de negociação no Ministério dos Transportes. Representantes de Mato Grosso do Sul apresentam argumentos para a inclusão do ramal de Ponta Porã na nova concessão ferroviária.
O passado e o futuro da ferrovia - A Malha Oeste, que percorre o Mato Grosso do Sul, é uma peça-chave no quebra-cabeça logístico do Brasil Central. Por ela, passam não apenas grãos e carnes, mas também os sonhos de crescimento sustentável de uma região que depende cada vez mais de eficiência no transporte de carga.
No entanto, o abandono da ferrovia nas últimas décadas comprometeu sua capacidade de escoamento. Muitos produtores migraram para o transporte rodoviário, mais caro e menos sustentável. A esperança agora é que a relicitação traga investimentos privados robustos, capazes de modernizar os trilhos e transformar a logística regional.
O vice-governador José Carlos Barbosa (Barbosinha) está sentado enquanto o senador Nelsinho Trad e o ministro dos Transportes, Renan Filho, apertam as mãos ao final da reunião.
O que vem agora? Com o relatório final aprovado, o plano de relicitação segue para o Ministério dos Transportes, que dará os próximos passos. Se tudo correr bem, o Mato Grosso do Sul poderá, finalmente, assistir à revitalização de uma ferrovia que há muito tempo deixou de ser prioridade.
O impacto esperado vai muito além do agronegócio. Uma ferrovia funcional representa menos caminhões nas estradas, menos emissão de gases poluentes e uma redução expressiva nos custos de transporte. É uma equação que beneficia produtores, consumidores e o meio ambiente.
Por enquanto, o clima é de alívio – e de expectativa. A manutenção do ramal ferroviário de Ponta Porã pode ser apenas o início de uma nova fase para a infraestrutura logística do estado. Mas, como em toda boa promessa brasileira, o verdadeiro teste será transformar o papel em aço, trilhos e locomotivas funcionando a todo vapor.
