
O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou na manhã desta quinta-feira (16) o adiamento da sessão conjunta que analisaria os vetos ao projeto de lei do licenciamento ambiental. A decisão, que já vinha sendo tratada como provável nos bastidores, confirma o impasse entre o governo e o Senado e expõe a tensão política em torno das pautas que travam no Parlamento.

A sessão também previa a votação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, mas o texto não foi aprovado a tempo pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), o que inviabilizou sua inclusão na pauta.
Durante a quarta-feira (15), o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), já havia defendido o adiamento, citando a falta de consenso sobre os vetos com a senadora Tereza Cristina (PP-MS), que lidera a Coalizão das Frentes Produtivas. A estratégia de aliados de Alcolumbre também era aguardar a aprovação do PLDO para votar todos os temas de forma conjunta.
Bastidores e ruídos - Ao longo do dia, os sinais de adiamento se intensificaram. Alcolumbre chegou a cancelar as votações do plenário do Senado, em meio a rumores de que teria uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio da Alvorada. O encontro, contudo, não foi confirmado.
Nos bastidores, a reunião seria uma tentativa de reforçar a articulação política de Alcolumbre para emplacar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) — seu aliado e atual presidente do Senado — como indicado de Lula à vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo com o adiamento ainda não oficializado, senadores de oposição já haviam sido informados por mensagem de que a sessão não ocorreria. Ainda assim, Alcolumbre insistiu publicamente que a votação estava mantida. “Quem tem a prerrogativa de marcar ou desmarcar as sessões do Congresso é o presidente da Casa”, afirmou, visivelmente incomodado com os rumores.
A senadora Tereza Cristina chegou a se reunir com Alcolumbre no fim da noite, mas deixou o gabinete sem detalhar o teor da conversa. A incerteza, no entanto, persistiu até a manhã desta quinta-feira, quando o adiamento foi confirmado oficialmente “a pedido do governo”.
Impacto político - O recuo de Alcolumbre ocorre em um momento de fragilidade na articulação política do Planalto, às vésperas da COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA). O governo teme que uma votação sem acordo leve à derrubada em massa dos vetos do projeto de licenciamento ambiental, o que criaria desgaste internacional na área ambiental.
Internamente, parlamentares avaliam que Alcolumbre se sentiu desautorizado pelos colegas e tenta recuperar espaço político pressionando Lula pela indicação de Pacheco ao Supremo. O senador, contudo, nega estar em campanha pelo aliado.
“Qual indicação?”, respondeu ao ser questionado sobre o tema por jornalistas.
Enquanto o impasse político se arrasta, medidas de interesse do governo seguem na dependência direta de Alcolumbre, entre elas o PLDO de 2026, o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, a Medida Provisória do tarifaço e a análise dos vetos presidenciais.
