
Na tarde da última quarta-feira (15 de outubro), o plenarinho da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul ficou cheio de vozes vindas do campo. Agricultores, representantes de movimentos sociais, gestores públicos e instituições financeiras se reuniram para discutir um tema que, para quem vive da terra, é decisivo: o acesso ao crédito da agricultura familiar.

O encontro foi proposto pelo deputado Zeca do PT, presidente da Comissão de Desenvolvimento Agrário, Assuntos Indígenas e Quilombolas. Ele chamou o debate para tratar das dificuldades enfrentadas por pequenos produtores na hora de conseguir financiamento pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), principal linha de crédito do país voltada ao setor.
Zeca relatou que, muitas vezes, os agricultores são tratados de forma desigual dentro das agências bancárias. “Muitos produtores relatam que são destratados ou tratados com arrogância. Isso atinge diretamente a autoestima do agricultor familiar, que vê o fazendeiro ser levado para dentro do banco, receber cafezinho e água gelada, enquanto ele se sente subestimado porque está com a botina suja e as mãos calejadas”, contou.
O deputado defendeu que o atendimento aos pequenos produtores precisa ser humanizado e eficiente. “Os agricultores familiares não são pequenos — são grandes na importância social e econômica que representam”, afirmou.
Durante a reunião, também participaram a deputada Gleice Jane (PT), o vereador de Campo Grande Landmark Rios (PT), além de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Agraer, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.
O deputado Zeca do PT denunciou o tratamento desigual nas agências bancárias e defendeu atendimento mais humano.
Gleice apresentou propostas enviadas por agricultores, com foco na regularização ambiental e no crédito. Entre as sugestões, estão a criação de linhas de financiamento específicas para poços e irrigação de baixo impacto, com subsídios, além da municipalização da gestão ambiental voltada a pequenos produtores.
A coordenadora do MDA, Marina Ricardo Nunes, destacou a importância de melhorar o atendimento bancário, especialmente no interior do Estado. “As reclamações são constantes. Precisamos qualificar o atendimento nas agências. Os gerentes devem estar preparados para orientar adequadamente os agricultores”, afirmou.
O diretor-presidente da Agraer, Fernando Luiz Nascimento, reforçou que a agricultura familiar é prioridade para o Governo do Estado. Segundo dados da agência, entre 2015 e 2025 foram investidos R$ 19,8 milhões, beneficiando 27,5 mil famílias. Para a safra 2025/2026, estão previstos R$ 6,7 milhões para atender 3.447 famílias em 35 municípios.
Deputada estadual Gleice Jane durante fala no encontro que debateu o acesso ao crédito e a valorização da agricultura familiar.
As ações incluem mecanização agrícola, distribuição de sementes e calcário e apoio à produção de comunidades indígenas e quilombolas. “Essas iniciativas representam o compromisso do Estado com a inclusão produtiva e a melhoria da qualidade de vida das famílias”, afirmou o gerente Arnaldo Santiago Filho.
Os bancos também apresentaram números positivos. O representante do Banco do Brasil, Ronderson Soares, informou que o crédito do Pronaf cresceu 21,31% na safra 2024/2025, chegando a R$ 284,5 milhões contratados.
Já a Caixa Econômica Federal anunciou que tem ampliado o atendimento direto nas comunidades rurais e colônias de pescadores. O gerente Ricardo Sampaio explicou que o processo é totalmente digital, e a liberação dos recursos vai direto ao fornecedor, garantindo o uso correto do crédito.
Participantes da reunião sobre o fortalecimento da agricultura familiar realizada no plenarinho da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
A representante da Cactvs, Isabelle Werner de Mello, parceira da Caixa no programa Conquista+, disse que, nos últimos quatro meses, foram feitas 663 propostas, somando R$ 4,62 milhões em financiamentos. “Se a documentação estiver correta, o crédito é liberado em até 30 dias”, afirmou.
Ao final, Zeca do PT avaliou o encontro como um passo importante para garantir que o agricultor familiar tenha o mesmo respeito e acesso que qualquer outro produtor. “Fortalecer o Pronaf é fortalecer o campo e o alimento que chega à mesa de cada brasileiro”, resumiu.
