
Armas de fogo apreendidas em Mato Grosso do Sul ajudaram a esclarecer crimes em diferentes regiões do país por meio do SINAB (Sistema Nacional de Análise Balística), ferramenta que cruza dados de projéteis e estojos usados em ações criminosas. Dois episódios recentes mostram como a tecnologia tem ampliado a capacidade de investigação da Polícia Científica no Estado, que já confirmou 58 coincidências balísticas desde que aderiu ao sistema, em julho de 2023.

Um dos casos envolveu um homicídio ocorrido no interior de Mato Grosso do Sul. Após a apreensão da arma e análise no Núcleo de Balística Forense (NBF), os vestígios foram cadastrados no SINAB e, posteriormente, conectados a um crime anterior no Estado de Mato Grosso. O chamado “hit” interestadual foi confirmado após confronto físico realizado em laboratório da Politec-MT.
“É um exemplo claro de como o banco nacional conecta fatos criminosos que, até então, estavam isolados. A integração entre os estados fortalece o esclarecimento de crimes e a atuação da perícia técnica”, destacou a perita criminal Karina Rébulla Laitart, responsável pelo banco de perfis balísticos em Mato Grosso do Sul.
Perita do Núcleo de Balística Forense realiza análise de projétil com tecnologia de imagem 3D. Foto: Divulgação/Polícia Científica de MS
Arma apreendida por porte ilegal estava ligada a quatro crimes em Campo Grande - Outro caso chamou atenção pela origem discreta. Uma arma foi apreendida durante uma abordagem por porte ilegal em Campo Grande. Embora o episódio não envolvesse, à primeira vista, crimes violentos, os peritos decidiram incluir o armamento no banco nacional. A decisão revelou-se crucial: o SINAB identificou que a mesma arma esteve presente em quatro cenas de crime anteriores na capital.
A coincidência foi comprovada após confronto físico entre os estojos encontrados nessas ocorrências e a arma apreendida. Todos os laudos foram encaminhados às delegacias responsáveis pelas investigações.
“Alguns casos, como porte ilegal em áreas rurais, não são automaticamente elegíveis para o banco. Mas analisamos o contexto: tipo da arma, calibre, perfil do portador. Às vezes, um caso aparentemente simples se torna chave para resolver investigações maiores”, explicou Karina.
Desde a adesão ao SINAB, o banco estadual de perfis balísticos de Mato Grosso do Sul tem se expandido de forma contínua. Já são mais de 1.247 elementos inseridos na base nacional, entre projéteis, estojos e armas associadas a crimes em diferentes regiões.
O trabalho do Núcleo de Balística Forense conta com equipamentos de última geração, fruto de um investimento superior a R$ 5,9 milhões. A estrutura inclui microscópio digital de comparação, sistema de imageamento 3D e câmara para recuperação de projéteis, o que permite precisão na análise dos vestígios e agilidade nas respostas técnicas.
Como funciona o SINAB - Coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o SINAB integra bancos de dados de todo o país. A plataforma utiliza a tecnologia IBIS (Integrated Ballistics Identification System), capaz de gerar imagens tridimensionais de marcas deixadas por armas de fogo em projéteis e estojos. Essas marcas funcionam como uma “impressão digital” da arma, permitindo comparações precisas entre ocorrências de diferentes estados.
A meta do governo federal é ampliar o alcance do sistema em todo o território nacional, promovendo mais integração entre os institutos de criminalística e fortalecendo a capacidade de elucidar crimes com o apoio da tecnologia.
