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28 de outubro de 2025 - 17h25
OPERAÇÃO POLICIAL

Polícia prende líderes do Comando Vermelho após megaoperação no Rio

Prisões de 'Doca' e 'Belão' ocorrem em ação que deixou mortos e dezenas detidos; investigações apontam envolvimento em homicídios e ataques

28 outubro 2025 - 14h55Redação O Estado de S. Paulo
Doca e Belão da Quitungo, presos em megaoperação contra integrantes do CV no Rio
Doca e Belão da Quitungo, presos em megaoperação contra integrantes do CV no Rio - Foto: Reprodução/Portal dos Procurados
Terça da Carne

A Polícia Civil prendeu nesta terçafeira (28) Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca” ou “Urso”, e Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão do Quintungo”, apontados como as principais lideranças do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. A operação, classificada como megaoperação, resultou na morte de pelo menos dois policiais civis e 18 criminosos, e na prisão de outros 79 suspeitos, e teve como foco comunidades onde os presos exercem influência, como o Complexo da Penha e áreas da zona oeste.

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A ação policial desta terça concentrou esforços para capturar figuras consideradas centrais na hierarquia do Comando Vermelho nas comunidades da zona norte e zona oeste do Rio. Entre os alvos, destacamse Edgar Alves de Andrade — o Doca — apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como liderança do tráfico no Complexo da Penha e em localidades como Gardênia Azul, César Maia e Juramento; e Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quintungo. Segundo o MPRJ, Doca responde a graves acusações que incluem associação para o tráfico e é investigado por mais de 100 homicídios. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ) já havia denunciado Doca e outros 66 acusados por associação para o tráfico, e parte deles por prática de tortura.

A corporação informou que a operação teve alto custo humano e material: além dos mortos, há dezenas de detidos — 79 criminosos apreendidos no curso das ações — e o caso deverá gerar investigações complementares sobre cada prisão, bem como sobre as circunstâncias que culminaram nas mortes de dois policiais civis.

Perfil de Doca e acusações que pesam contra ele - De acordo com as peças do Ministério Público citadas no levantamento das investigações, Doca teria comando não só no Complexo da Penha, mas também em outras comunidades da zona oeste do Rio. Contra ele havia 34 mandados de prisão em aberto registrados no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões (BNMP). Entre os crimes atribuídos ao seu grupo está a execução de vítimas que, segundo as apurações, chegaram a incluir crianças e moradores desaparecidos.

O MPRJ aponta Doca como suposto mandante da execução de três médicos na zona sudoeste do Rio em outubro de 2023 — mortos por engano, segundo as investigações, quando um dos profissionais foi confundido com o alvo real da ação. Além disso, em maio do ano em curso o Ministério Público denunciou Doca e outros dois envolvidos pelo ataque a uma delegacia em Duque de Caxias, ocorrido em 15 de fevereiro de 2025. Na ocasião, segundo a denúncia, criminosos armados com fuzis e granadas invadiram a unidade, feriram agentes e torturaram um policial em busca de informações sobre a localização de outro suspeito preso, conhecido como Rodolfo Manhães Viana, o “Rato”.

As investigações descrevem que a investida à delegacia teria a finalidade de resgatar Rato, detido horas antes por tráfico e associação ao tráfico na Comunidade Vai Quem Quer. Rato, conforme o caso, já havia sido transferido para a Polinter, na Cidade da Polícia, quando o grupo tentou forçar a libertação.

O volume e a gravidade das acusações contra Doca e seus aliados colocam em destaque a complexidade do enfrentamento ao crime organizado nas favelas e bairros populares do Rio. Investigações que indicam responsabilização por centenas de homicídios e por operações de resgate a presos revelam uma organização com capacidade de mobilização violenta e com ações que ultrapassam o domínio territorial, atingindo também agentes estatais e estruturas policiais.

A prisão de líderes como Doca e Belão, ainda que representem um avanço nas ações policiais, costuma gerar tensão e possíveis reações no ambiente das comunidades onde esses grupos atuam — um fator que explica a magnitude da operação e o elevado número de prisões e confrontos registrados.

Consequências processuais e próximas etapas - Com as prisões, o próximo passo formal é a transferência dos detidos para unidades apropriadas e o prosseguimento das investigações. O GAECO e o MPRJ deverão consolidar o material probatório reunido durante a operação para complementar denúncias e pedir novas medidas cautelares, além de apurar as circunstâncias das mortes ocorridas no confronto, seja de policiais civis, seja de criminosos.

As autoridades responsáveis também precisarão esclarecer a dinâmica dos confrontos que resultaram em óbitos e definir responsabilidades, por meio de inspeções internas e inquéritos. Apurações que envolvem mortes em operações policiais costumam incluir análise de uso da força, condições da ação e eventual necessidade de medidas disciplinares ou criminais, quando for o caso.

Segundo as informações do Ministério Público trazidas pela investigação, as práticas atribuídas a Doca e comparsas variam desde homicídios seletivos e execuções até tentativas de resgate com emprego de armamento pesado — o que inclui uso de granadas e fuzis, conforme a denúncia referente ao ataque à delegacia em Duque de Caxias. Além disso, há relatos de tortura ligados a integrantes do grupo, com três denunciados também por esse tipo de crime.

Os fatos, conforme descritos nas peças do GAECO/MPRJ, indicam uma atuação sistêmica e prolongada, com desdobramentos que, ao longo dos anos, geraram uma série de investigações e mandados de prisão em aberto até a deflagração da operação desta terça.

A operação — cujo balanço revelava já, até a divulgação das informações, dezenas de presos e óbitos — deverá ser ponto de debate entre órgãos de segurança pública do estado, ministérios públicos e forças policiais. A prisão de dois nomes de referência na hierarquia do Comando Vermelho no Rio deve provocar um período de articulação entre delegacias, unidades especializadas e forças de inteligência para aproveitar o material apreendido, identificar redes de apoio e mapear o comando criminoso fragmentado.

Ao mesmo tempo, a necessidade de proteção para testemunhas, agentes e moradores das áreas afetadas pode levar à intensificação de medidas de segurança local e à mobilização de programas de apoio social, complementares às ações repressivas, para mitigar possíveis impactos humanitários decorrentes de confrontos e prisões.

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