
A Polícia Federal (PF) identificou movimentações milionárias feitas em agências da Caixa Econômica Federal e do Santander para alimentar um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao setor de combustíveis. Segundo relatório da corporação, foram 9.560 depósitos em espécie, que somaram R$ 331 milhões, sem que os clientes fossem identificados, como exige a legislação antilavagem.

O delegado Mateus Marins Corrêa de Sá, do Grupo de Investigações Sensíveis (Gise), destacou que nenhum dos depósitos acima de R$ 30 mil foi corretamente comunicado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A investigação faz parte da Operação Tank, desdobramento da Operação Carbono Oculto, que já havia mirado distribuidoras e empresários suspeitos de comandar a fraude.
A evolução do esquema de fraudes de combustíveis no Paraná descoberto pela Operação Tank: uso de fintechs e falta de fiscalização de banco Foto: Reprodução / Polícia Federal
Como funcionava o esquema - De acordo com a PF, a movimentação era registrada em nome da Tycoon Technology Instituição de Pagamento, sediada em Curitiba e ligada a Rafael Belon, preso em agosto. A empresa operava depósitos em dinheiro vivo, vindos principalmente de postos de gasolina, por meio de ordens de crédito por teleprocessamento (OCT) e contas-bolsão, que escondiam os verdadeiros donos do dinheiro.
Os recursos abasteciam outras empresas e bancos envolvidos no esquema, como o BK Bank, que sozinho movimentou R$ 46 bilhões em cinco anos, sendo R$ 17,7 bilhões em operações consideradas suspeitas pelo Coaf. Parte do dinheiro também foi repassada a empresas ligadas ao empresário Mohamad Hussein Mourad, o Primo, e a Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Loco — apontados como líderes da organização criminosa. Ambos estão foragidos.
Na Caixa, duas contas abertas em Guarulhos receberam R$ 164,9 milhões em depósitos não identificados. Só após seis meses de insistência da PF, o banco informou que parte dos depósitos era atribuída a Rafael Belon. Os principais destinatários dos valores foram o BK Bank (R$ 126 milhões) e empresas ligadas a Mourad.
No Santander, uma agência no bairro Bom Retiro, em Curitiba, registrou R$ 91,2 milhões em créditos, sendo mais de 90% relacionados a transações via OCT. A PF aponta que, embora o banco tenha comunicado 879 operações ao Coaf, não realizou análise de risco adequada.
O Banco Rendimento e a fintech Line também aparecem no relatório da PF por manterem contas ocultas ligadas à Tycoon. Juntas, movimentaram milhões em valores considerados típicos de lavagem de dinheiro.
A Justiça Federal de Curitiba decretou a prisão preventiva de 14 investigados. Entre os presos está Rafael Belon; já Mourad e Beto Loco seguem foragidos.
O que dizem os bancos
Santander afirmou que mantém “sistemas robustos e contínuos de controle” e não comenta casos específicos.
Caixa informou colaborar com as autoridades e que os dados são sigilosos.
Banco Rendimento declarou seguir as normas do Banco Central.
A Line e a Duvale Distribuidora de Combustíveis, citadas pela PF, não se manifestaram.
