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SEGURANÇA PÚBLICA

PCC alugou casa e usou drones para vigiar promotor Lincoln Gakiya, dizem investigações

Promotor afirma que facção mapeou rotina, fotografou esposa de Medina e negociava fuzis; Gaeco realiza nova operação para desarticular célula

24 outubro 2025 - 15h55Redação O Estado de S. Paulo
Promotor Lincoln Gakiya detalha esquema do PCC que alugou imóvel e usou drones para monitorar sua rotina; Gaeco deflagrou nova operação.
Promotor Lincoln Gakiya detalha esquema do PCC que alugou imóvel e usou drones para monitorar sua rotina; Gaeco deflagrou nova operação. - Foto: Reprodução

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya afirmou nesta sexta-feira, 24, que integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) chegaram a alugar uma residência a cerca de 900 metros do condomínio onde mora para monitorar sua rotina. Em coletiva, Gakiya relatou ainda que a facção utilizou drones para vigiar sua casa e que foram encontrados registros — prints e mapas — com trajetos e horários de deslocamentos. As suspeitas integram a investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), que realizou nova operação contra a célula na manhã desta sexta.

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“Havia também uma residência que provavelmente foi locada, justamente para facilitar esse acompanhamento, a cerca de 900 metros do condomínio que eu resido”, disse Gakiya à imprensa. “Eu tive minha casa vigiada por drones. Havia uma casa próxima ao meu condomínio que foi utilizada como base para monitorar minha rotina. Foram encontrados diversos prints de tela com o trajeto que eu utilizo diariamente para me deslocar para o Ministério Público, e também algumas rotinas, como academia. Elas foram remetidas para o setor que eles denominam de Sintonia Restrita do PCC”, detalhou o promotor em entrevista à GloboNews.

Investigação mostra estrutura organizada e compartimentada - O inquérito do Ministério Público aponta a existência de um setor específico do PCC, identificado como “Sintonia Restrita”, responsável por mapear e operacionalizar atentados contra autoridades. Segundo os promotores, essa célula atuava de forma altamente compartimentada: cada integrante tinha função definida e, em muitos casos, não conhecia o desenho completo do plano, o que dificultava a detecção.

Entre os elementos apreendidos e anotados pela investigação estão prints de telas com trajetos, áudios que sugerem negociação de armamento — inclusive fuzis — e mapas com georreferenciamento de locais em Presidente Prudente, incluindo a sede do Ministério Público local. Em um dos aparelhos apreendidos, os investigadores localizaram imagens do carro da mulher do diretor de presídios Roberto Medina, o que comprova o monitoramento de familiares.

De acordo com o Gaeco, “os criminosos já haviam identificado, monitorado e mapeado os hábitos diários de autoridades, num plano meticuloso e audacioso que demonstrava o grau de periculosidade e ousadia da organização”. Por isso, a operação deflagrada hoje buscou neutralizar os agentes que integravam a célula antes que atentados pudessem ser executados.

O promotor Lincoln Gakiya afirmou ainda que a tentativa de eliminálo estaria ligada a um mesmo “salve” — expressão usada por facções para designar ordens coletivas — que culminou com a execução do exdelegadogeral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, morto em emboscada na Praia Grande. “E adianto também que provavelmente faz parte do mesmo salve, de uma mesma ordem, que culminou com a morte, infelizmente, do Dr. Ruy Ferraz Fontes. Nesse mesmo salve havia a ordem para me matar e matar o Dr. Roberto Medina também”, afirmou Gakiya.

Ruy Ferraz Fontes era figura central no enfrentamento ao PCC: como delegado com mais de 40 anos de carreira, foi responsável por indiciar a cúpula da facção no início dos anos 2000. A execução dele, segundo as autoridades, tem conexão direta com o modo de atuação da célula investigada.

Alvos e método: autoridades, familiares e policiais - As apurações identificaram uma lista de alvos que incluía tanto autoridades do Ministério Público quanto agentes do Batalhão de Ações Táticas Especiais (Baep) da Polícia Militar, segundo promotores. Entre os citados pelos investigadores estão o promotor Lincoln Gakiya e o coordenador de presídios da região oeste de São Paulo, Roberto Medina — ambos apontados pela facção como “cadáveres excelentes”, termo que indica o valor político e midiático de uma execução para o grupo criminoso.

Medina, destacado nas investigações, coordena penitenciárias onde estão detidas a maioria das lideranças do PCC no estado. A proximidade entre o trabalho que conduziu e a escolha dos alvos explica, para os investigadores, o volume e a precisão do monitoramento.

Além de casas alugada como base de observação, o uso de drones para vigiar residências e a coleta de dados via captura de telas e georreferenciamento demonstram um padrão de sofisticação logística que, segundo o Gaeco, exige resposta coordenada entre Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Penal.

Em resposta ao esquema identificado, o Gaeco intensificou ações de inteligência e investigações, com operações realizadas nesta sexta-feira para prender integrantes da célula e apreender material que comprove a articulação dos planos. A ProcuradoriaGeral de Justiça do estado divulgou nota reafirmando apoio às autoridades ameaçadas e elogiou a atuação integrada das polícias e do Ministério Público para neutralizar o risco.

Em comunicado, a Procuradoria afirmou ainda: “Graças à atuação integrada do Ministério Público, da Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Penal, o tentame não se consumou. A população pode ficar tranquila. As instituições continuarão desempenhando o seu papel constitucional: defender a sociedade e combater os que vivem à margem da lei!”

Gakiya e Medina: alvos antigos e atuação contra o PCC - Tanto Lincoln Gakiya quanto Roberto Medina são figuras conhecidas no esforço de combate ao crime organizado em São Paulo. Gakiya integra o Gaeco e atua contra o PCC há mais de duas décadas. Medina, por sua vez, coordena a administração das unidades prisionais da região oeste — função que o coloca em choque direto com a estrutura de comando do grupo dentro dos presídios.

A natureza dos cargos de ambos explica por que foram escolhidos como alvos: suas decisões e operações têm impacto direto sobre a execução de políticas prisionais e sobre a repressão às lideranças da facção.

A descoberta de uma célula especializada em planejar atentados contra agentes públicos revela fragilidades na segurança preventiva e exige aperfeiçoamento de mecanismos de proteção a autoridades e seus familiares. Especialistas em segurança ouvidos pelas autoridades citam três pontos críticos:

Compartimentação das células: a divisão por funções dificulta a investigação, pois cada integrante conhece apenas uma parte do plano.

Uso de tecnologia: drones, georreferenciamento e coleta de imagens via redes sociais ampliam a capacidade de vigilância dos criminosos.

Vulnerabilidade de familiares: a exposição de rotinas de esposas, filhos e residências cria pontos de pressão para intimidar agentes públicos.

Para autoridades, o caso serve de alerta sobre a necessidade de protocolos mais rígidos de proteção e sobre a importância da atuação conjunta entre Ministério Público, polícias e órgãos estaduais para reagir a ameaças dessa natureza.

O Gaeco informou que as investigações prosseguirão e que novas fases operacionais podem ocorrer à medida que mais informações sejam levantadas. A atuação envolverá análise forense de aparelhos apreendidos, verificação de registros de aluguel de imóveis, rastreamento de comunicações e cooperação com forças de segurança locais para ampliar o cerco sobre a organização.

Promotores adiantaram também que as ordens de prisão e medidas cautelares serão executadas conforme o levantamento de indícios. A prioridade, segundo o Ministério Público, é preservar a integridade física dos alvos e impedir que a facção execute ações planejadas.

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