
A ofensiva conjunta das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro nas favelas do Complexo do Alemão e da Penha, realizada na terça-feira (28), terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais. A ação, considerada a maior em número de vítimas em décadas, expôs a escalada bélica do Comando Vermelho (CV), que utilizou táticas semelhantes às de conflitos armados, como uso de drones com explosivos, uniformes camuflados e armamento de guerra.
ATENÇÃO - Traficantes fogem para a mata durante uma megaoperação das Polícias Militar e Civil no Alemão e na Penha, RJ.
— André Aranda (@Andre17121979) October 28, 2025
Os criminosos vestem roupas de combate, utilizam coletes à prova de balas e portam armas de grosso calibre. pic.twitter.com/yo1kZIq9WQ
Durante a operação, 113 pessoas foram presas, dez adolescentes apreendidos e 118 armas foram recolhidas, incluindo 90 fuzis. O balanço foi divulgado pelo governo fluminense na tarde da quarta-feira (29), que classificou a ação como um “sucesso”. Em contrapartida, a Defensoria Pública apontou indícios de ilegalidades na condução da operação.
Polícia exibe fuzis apreendidos durante operação contra o Comando Vermelho realizada na terça, 28 Foto: Mauro Pimentel/AFP
Imagens captadas no local mostram integrantes do CV com roupas camufladas, balaclavas e coturnos. Um dos suspeitos chegou a publicar nas redes sociais uma foto com fuzil e touca preta antes de ser preso. Além da vestimenta, a facção utilizou drones comerciais adaptados para lançar explosivos, prática comum em zonas de guerra como Ucrânia e Gaza.
Segundo especialistas em segurança pública, o uso de tecnologia militar por facções representa uma nova etapa no enfrentamento do crime organizado. Os drones do tipo FPV (First Person View), comprados pela internet por até R$ 10 mil, são capazes de transportar granadas e podem voar em baixa altitude, dificultando a detecção por helicópteros.
O balanço do governo revelou ainda um grande poder de fogo nas mãos do tráfico. Foram apreendidos, além das armas, 14 artefatos explosivos, centenas de carregadores e milhares de munições ainda não contabilizadas. Também foram descobertos laboratórios clandestinos com insumos importados para fabricação de armamentos.
Equipamentos como câmeras termográficas, bloqueadores de GPS e estratégias de contrainteligência mostram o nível de organização da facção. As autoridades afirmam que o tráfico vem se estruturando com equipamentos semelhantes aos utilizados por exércitos.
Os confrontos ocorreram em uma área densamente povoada e com geografia desafiadora. No Complexo do Alemão vivem cerca de 54 mil pessoas, e no bairro da Penha, mais de 58 mil. Ruas estreitas e construções irregulares dificultam a entrada das forças de segurança.
“São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem. Casas construídas de forma irregular, becos que é impossível fazer o patrulhamento”, disse o secretário de Segurança Pública do estado, Victor Santos.

Moradores relataram ter encontrado dezenas de corpos em uma área de mata na Serra da Misericórdia, próximo à comunidade da Penha. Segundo a associação de moradores, 72 corpos foram levados à Praça São Lucas, alguns com sinais de tortura, cortes profundos e até decapitação.
“Fizeram um necrotério lá dentro da favela: abriram os corpos como se fossem médicos”, afirmou uma moradora, sem se identificar, ao jornal Estadão.
As imagens e relatos geraram comoção nas redes sociais e entre entidades de direitos humanos, que pedem investigação sobre os procedimentos adotados durante a operação.
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou que os únicos mortos da operação foram os quatro agentes de segurança. “As verdadeiras vítimas foram os policiais”, declarou, reforçando que a ofensiva visou recuperar território tomado pelo crime.
Enquanto o governo comemora os resultados da ação, cresce a pressão por apuração independente. A Defensoria Pública Estadual já solicitou informações sobre os procedimentos e aponta para possível uso excessivo da força e mortes sob circunstâncias não esclarecidas.
