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29 de outubro de 2025 - 18h32
NACIONAL

Operação no RJ já tem mais mortos que massacre do Carandiru

Número de vítimas da ação nos complexos do Alemão e da Penha chega a 132, segundo a Defensoria Pública; Carandiru teve 111 mortes

29 outubro 2025 - 15h25Ederson Hising
Megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão já é a mais letal da história do Rio de Janeiro.
Megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão já é a mais letal da história do Rio de Janeiro. - (Foto: Reprodução)

A megaoperação realizada na terça-feira (28) contra o Comando Vermelho (CV), nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, já é mais letal do que o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo. Segundo a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, o número de mortos chegou a 132, superando os 111 detentos assassinados por policiais militares na Casa de Detenção do Carandiru, durante uma rebelião, há 31 anos.

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A ação mobilizou 2,5 mil agentes, helicópteros, blindados e contou com o apoio de tropas de elite da Polícia Civil e da Polícia Militar do Estado. O governo do Rio havia confirmado, até as 13h de quarta-feira (29), a morte de 119 pessoas, incluindo quatro policiais. Já a Defensoria Pública afirma que o número total de vítimas fatais subiu nas horas seguintes, após a localização de dezenas de corpos em áreas de mata.

Moradores do Complexo da Penha relataram cenas de horror. Cerca de 60 corpos foram levados por moradores até a Praça São Lucas, onde familiares e vizinhos tentavam identificar os mortos. Jéssica, moradora da região, relatou ao Estadão: “Ninguém nunca viu no Brasil o que está acontecendo aqui”.

Segundo testemunhas, muitos corpos apresentavam sinais de tortura, estavam amarrados, com marcas de facadas e, ao menos um deles, decapitado. A Polícia Civil ainda realiza a perícia para identificar as vítimas e confirmar se elas têm ligação com o tráfico de drogas ou se houve mortes de civis não envolvidos.

Operação mais letal da história do Rio - A ação foi classificada como um "sucesso" pelo governador Cláudio Castro (PL), que justificou a operação como uma resposta ao avanço das facções criminosas. Segundo o governo, o Comando Vermelho chegou a utilizar drones com explosivos para tentar conter o avanço das forças policiais.

Esta é agora a operação mais letal da história do Estado do Rio. As duas anteriores com maior número de mortes também ocorreram sob a gestão de Castro: 28 mortos no Jacarezinho (2021) e 23 na própria Penha (2022).

O massacre do Carandiru, ocorrido em 1º de outubro de 1992, era até então a ação policial mais sangrenta do país. A tragédia aconteceu após uma briga entre detentos do pavilhão 9, e a entrada da tropa de choque da Polícia Militar resultou em 111 presos executados dentro da penitenciária.

Cláudio Cruz, ex-detento e sobrevivente do episódio, contou ao Estadão em 2022 que os tiros duraram cerca de 25 minutos. “Era tiro e grito o tempo todo. Depois, silêncio e pânico”, relembrou.

A diferença, no caso da megaoperação do Rio, é o cenário: em vez de um presídio, a ação ocorreu em comunidades densamente povoadas, com escolas, creches e comércios ao redor.

Reações e críticas à operação - A Defensoria Pública, movimentos sociais e organizações de direitos humanos criticaram a ação. Entidades como a Anistia Internacional e a Justiça Global assinaram cartas de repúdio. A Defensoria reforça que ações dessa magnitude ferem decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que impõem critérios mais rigorosos para incursões policiais em áreas vulneráveis.

Além disso, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmaram que o governo federal não foi comunicado previamente da operação. A PF, que chegou a ser consultada, recusou participação por entender que o plano de ação não condizia com seu protocolo operacional.

O governo do Estado ainda não atualizou oficialmente o número de mortos, enquanto o Instituto Médico Legal continua identificando os corpos. Há relatos de desaparecimentos e de vítimas civis entre os mortos. A Defensoria Pública acompanha os casos e cobra transparência nas apurações.

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