
A onça-pintada que matou o caseiro Jorge Ávalo, em um pesqueiro na região de Aquidauana, a 140 km de Campo Grande, na última segunda-feira (21), vinha sendo cevada — termo usado para quando animais silvestres são atraídos com comida. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (22) pelo secretário-adjunto da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, (Semadesc), Arthur Falcette.

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“Outro ponto relevante é que há indícios de que o animal estava sendo cevado no local — ou seja, atraído com alimento. Isso é ilegal e extremamente perigoso. É crime ambiental, previsto na legislação, e pode alterar o comportamento natural dos animais”, afirmou o secretário, reforçando que esse tipo de ação pode levar a tragédias como a que vitimou o trabalhador.
Buscas por onça que matou caseiro em Aquidauana continuam em meio à cheia dos rios Miranda e Aquidauana.
Segundo Falcette, o comportamento da onça foi extremamente atípico. “Com base nas informações já coletadas, o comportamento do animal foi bastante atípico — algo que não é comum. Esse tipo de ocorrência não é recorrente”, explicou.
Após o ataque, equipes da Polícia Militar Ambiental (PMA) foram enviadas à região com o apoio de guias locais. Como já noticiado pelo portal A Crítica, durante as buscas, o grupo foi surpreendido pela mesma onça, que ainda protegia os restos da carcaça da vítima. O felino tentou atacar novamente e feriu um dos guias no braço. Ele foi socorrido e levado para atendimento em Miranda, enquanto o animal fugiu.
Com a situação fora do comum, uma nova equipe foi mobilizada, desta vez com o reforço do pesquisador Gediendson Araújo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), um dos maiores especialistas em manejo de onças-pintadas no Brasil. O pesquisador integra uma rede com instituições como o Instituto Onça-Pintada e o Projeto Panthera.
“Segundo o professor, que já teve dezenas de encontros com onças no Pantanal, o comportamento habitual desses animais ao encontrarem humanos é fugir, não atacar. A não ser em situações extremas, como fome intensa ou quando estão acuados, o que aparentemente não era o caso. Por isso, ele destacou que se trata de um comportamento extremamente atípico”, explicou comandante da PMA Coronel Rodrigues.
As buscas continuam concentradas na sede da fazenda onde o ataque aconteceu. “Três onças foram avistadas nas imediações, mas restringimos a zona de busca à casa-sede, pois esse animal específico tem se movimentado ali nos últimos dias. Isso é essencial para garantir que seja capturado o correto”, complementa o policial.
Com base nas evidências — pegadas, imagens de câmeras de segurança e registros de movimentação —, os especialistas identificaram que o animal responsável seria um macho adulto, com peso entre 90 e 100 kg, e o único que retornou à sede da fazenda à noite.
Afinal, qual será o destino da onça após a captura? - A expectativa é de que, após a captura, o animal seja encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), onde passará por exames. “Isso servirá para confirmar se, de fato, é o mesmo animal envolvido no ataque. A partir disso, serão avaliadas as características do animal, e a equipe técnica decidirá qual programa será mais adequado”, explicou secretário-adjunto Arthur Falcette.
O destino da onça — se retornará à natureza ou permanecerá em cativeiro — dependerá de avaliações técnicas e do parecer de instituições federais credenciadas para lidar com casos desse tipo.
Enquanto isso, o governo e as equipes de campo reforçam que a população local está sendo acompanhada. “Estamos junto com os líderes locais — inclusive com a matriarca da família diretamente impactada nesse caso”, destacou o secretário.
O caso serve como alerta para os riscos do contato impróprio com animais silvestres. “É importante que as pessoas compreendam que alimentar animais selvagens é uma prática extremamente perigosa. Pode parecer inofensivo ou até admirável, mas traz consequências graves, como essa. Não é apenas ilegal: é uma ameaça à vida de todos que vivem ou trabalham no Pantanal”, finalizou o comandante da PMA.
Dificuldades nas buscas - Enquanto isso, equipes de resgate e autoridades ambientais continuam em busca da onça-pintada. A operação de captura do animal é dificultada pelas fortes chuvas recentes, que elevaram o nível dos rios Miranda e Aquidauana, tornando o acesso à área ainda mais complicado.
A ação começou na noite de terça-feira (22) e conta com o apoio de sete profissionais da Semadesc. No local, veterinários avaliarão o comportamento do animal para determinar se ele poderá ser reintegrado ao habitat natural ou se precisará de tratamento específico antes da reintrodução.
