
Antes de assassinar a jornalista e ex-noiva Vanessa Ricalte, 42, na tarde de ontem (12) em Campo Grande, o músico Caio Nascimento, 35, já tinha um histórico de agressões. Com passagens por roubo, violência doméstica contra a própria mãe e irmã e relatos de perseguição contra Vanessa nos dias que antecederam o feminicídio, Caio se encaixa no perfil de agressores reincidentes.
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"Há relatos de perseguição nos dias anteriores ao crime, algo que, infelizmente, é muito comum em casos de feminicídio. Durante a investigação, surgiram também indícios de cárcere privado, com relatos de que o agressor não permitia que Vanessa saísse de casa", afirmou a delegada Elaine Benicasa nesta quinta-feira (13). "Foi somente quando conseguiu escapar que ela procurou a delegacia para registrar a ocorrência. Além disso, há testemunhos que indicam que ela vinha sendo exposta a constantes situações de violência e intimidação", acrescenta.
A delegada Elaine Benicasa deu detalhes do crime nesta manhã - (Foto: Ana Clara Ruiz)
Antes mesmo de conhecer Vanessa, Caio já tinha um histórico problemático. Ele era conhecido pelo comportamento agressivo e instável. Além do envolvimento com drogas, também acumulava episódios de violência doméstica contra familiares.
Vanessa era chefe de comunicação do Ministério Público do Trabalho de MS - (Foto: Reprodução)
"O suspeito já possuía um histórico de crimes e transtornos, com passagens por roubo, tentativas de suicídio e registros de violência doméstica contra a mãe e a irmã", explicou a titular da Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher (DEAM). "Esse histórico é importante porque mostra um padrão de comportamento agressivo que não começou agora. Muitas vezes, o agressor já deu sinais claros antes do feminicídio, mas não houve uma resposta eficaz que impedisse a escalada da violência", alerta.
A relação com Vanessa durou quatro meses e, nesse período, a convivência se tornou insustentável. Ele se tornou controlador, agressivo e passou a ameaçá-la. Mesmo depois de Vanessa pedir o fim do relacionamento, ele se recusou a sair da casa dela. A jornalista conseguiu escapar e registrou um boletim de ocorrência na madrugada anterior ao assassinato. No depoimento, ela relatou que estava sendo ameaçada por Caio e pediu uma medida protetiva, que foi concedida rapidamente pela Justiça.
Por precaução, voltou à delegacia no dia seguinte para verificar se o agressor já havia sido notificado. No entanto, como a intimação ainda não havia ocorrido, a medida protetiva ainda não tinha efeito prático.
Vanessa e Caio ficaram juntos por quatro meses - (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
"Ela seguiu todos os procedimentos corretos", afirmou. "Compareceu à delegacia, solicitou a medida protetiva e a medida foi deferida rapidamente, ainda durante o plantão, antes mesmo do prazo estipulado pelo juiz. No entanto, para que a medida protetiva tenha eficácia, o agressor precisa ser formalmente intimado. Quando Vanessa retornou à delegacia para acompanhar o andamento da solicitação, a delegada plantonista imprimiu a medida já deferida, mas explicou que o agressor ainda não havia sido notificado."
A polícia ofereceu abrigo a Vanessa na Casa da Mulher Brasileira, mas ela recusou, acreditando que poderia buscar apoio com amigos. "Oferecemos a Vanessa um abrigo, como de praxe, pois sabemos que muitas vítimas têm receio de retornar para casa", destacou Benicasa. "Em determinado momento, ela mencionou que poderia ficar na delegacia ou na casa de uma amiga, mas acabou decidindo voltar para sua residência. E, lamentavelmente, os fatos se desenrolaram da maneira que vimos."
Frieza após o assassinato - Um amigo de Vanessa que a acompanhou para buscar as coisas de casa, relatou que Caio estava alterado quando ela chegou em casa. Ele fingiu que iria embora, mas, enquanto o amigo fazia uma ligação pedindo ajuda, Caio pegou uma faca na cozinha e desferiu três golpes no tórax da jornalista.
A testemunha conseguiu arrastar Vanessa para um cômodo e trancar a porta, enquanto Caio esmurrava a madeira e fazia ameaças. Depois, como se nada tivesse acontecido, ele se acalmou e pediu um cigarro e uma bebida.
Por meio das redes, Caio afirmava que era produtor musical - (Foto: Reprodução/Rede Sociais)
"Isso mostra um comportamento extremamente frio e calculista", afirmou a delegada. "Após perceber a gravidade do que havia feito, o agressor se acalmou e, segundo a testemunha, chegou a pedir um cigarro e uma bebida. Enquanto isso, a vítima agonizava dentro do cômodo trancado pelo amigo". Quando a polícia chegou, ele estava trancado no andar superior da casa e não ofereceu resistência à prisão.
O que acontece agora? - Caio Nascimento está preso e será indiciado por feminicídio. Ele optou por permanecer em silêncio durante o interrogatório, mas a delegada já trabalha para traçar seu perfil violento e reunir provas contundentes contra ele.
"Nosso foco é trabalhar na instrução do procedimento, pois, infelizmente, lidamos com uma tragédia consumada", disse. "Pretendo ouvir ex-namoradas do agressor a fim de traçar seu perfil e reforçar as provas contra ele. O objetivo é construir um caso sólido que aumente as chances de ele receber a pena mais severa possível."
Agora, o músico será indiciado por feminicídio - (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
A investigação também busca confirmar os relatos de perseguição e possíveis episódios de cárcere privado antes do assassinato. O objetivo é entender a escalada da violência e garantir que ele seja julgado com o máximo rigor.
"Infelizmente, sempre que ocorre um crime grave como esse, a responsabilidade parece recair exclusivamente sobre a Polícia Civil. No entanto, é importante lembrar que fazemos parte de um sistema maior. Todas as ações tomadas desde o momento em que a vítima procura a delegacia devem ser compreendidas dentro desse contexto", reforçou. Caio responderá por feminicídio qualificado, podendo pegar até 30 anos de prisão.

