
Letícia Ferreira Araújo, de 25 anos, morreu atropelada na noite de sábado (9) em Cassilândia, a 419 quilômetros de Campo Grande. O principal suspeito é o companheiro, Vitor Ananias, também de 25 anos, preso em flagrante pela Polícia Militar. O caso é investigado pela Polícia Civil como feminicídio.

Minutos antes do crime, Letícia tentou ligar para o 190 para pedir socorro, mas a ligação caiu antes que conseguisse informar seu endereço ou dados pessoais. Pouco depois, um vizinho telefonou para relatar o atropelamento.
Versão do suspeito e depoimentos de testemunhas - Ao ser preso, Vitor afirmou que o atropelamento teria sido um acidente. Segundo ele, após uma discussão, manobrava o carro quando Letícia, que estava do lado de fora, segurou o volante e perdeu o equilíbrio.
A versão é contestada por testemunhas ouvidas na delegacia. Um vizinho relatou que ouviu gritos de socorro e, logo depois, barulho de pneus patinando. Ao olhar para a rua, viu Letícia correndo e o marido acelerando o veículo em sua direção, atingindo-a pelas costas sem qualquer tentativa de frear ou desviar.
Após o impacto, o autor teria permanecido alguns instantes dentro do carro, aproximado-se da vítima caída e, em seguida, voltado para casa sem prestar socorro.
A mãe de Vitor, também ouvida pela polícia, contou que o casal vivia junto há cerca de sete anos e que o relacionamento era marcado por discussões e agressões mútuas. Ela disse já ter aconselhado o filho a se separar, mas ele não aceitava. No dia do crime, estava trabalhando e, ao chegar em casa, encontrou Letícia já sem vida.
Segundo a perícia, não havia marcas de frenagem no local e a distância entre a garagem e o ponto do impacto exigiria aceleração para causar a gravidade registrada. O crime foi presenciado pelo filho do casal, de apenas seis anos.
Dinâmica do crime - De acordo com a Polícia Civil, Letícia foi atingida por um Volkswagen Gol que, após o atropelamento, colidiu contra o muro de uma residência. A ausência de marcas de frenagem reforça a suspeita de que a ação foi proposital. O suspeito foi encontrado na casa onde morava, próxima ao local, e recebeu voz de prisão.
Uma testemunha confirmou que a dinâmica é compatível com os danos no veículo. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento e devem auxiliar nas investigações.
O delegado Igor Duarte Sousa representou pela prisão preventiva de Vitor, que segue detido. Este é o segundo feminicídio registrado em Cassilândia em 2025 e o 22º em Mato Grosso do Sul no ano.
Agosto Lilás: sinais que podem salvar vidas - O caso ocorreu durante o Agosto Lilás, mês de combate à violência doméstica. A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul divulgou recentemente um episódio que demonstra como códigos discretos podem ajudar vítimas a pedir socorro.
No início deste ano, uma mulher em Campo Grande ligou para o Copom (Centro de Operações da PM) pedindo “dipirona”, palavra usada como código para indicar que estava em perigo. Ao perceber que não era um pedido de remédio, o atendente fez perguntas para confirmar a situação. Quando questionada sobre “a dosagem” — metáfora para a gravidade da violência —, ela respondeu “30 miligramas”, indicando alto risco.
Uma equipe foi enviada imediatamente e conseguiu retirar a vítima de casa em segurança. Dias depois, ela ligou novamente para agradecer o atendimento rápido. A identidade foi preservada para evitar exposição.
A PM reforça que sinais verbais, gestos de mão e até o uso de batom vermelho podem ser estratégias seguras para pedir ajuda sem alertar o agressor.
