
Apontado como um dos principais nomes ainda ativos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta, será transferido para um presídio de segurança máxima no Estado de São Paulo, conforme decisão publicada pelo Tribunal de Justiça (TJ-SP) no dia 31 de julho.

Segundo o TJ, caberá à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) definir em qual unidade Tuta ficará custodiado. Até o momento, de acordo com a pasta, ele ainda não deu entrada no sistema prisional paulista.
Prisão e trajetória criminosa
Tuta foi preso em maio deste ano na Bolívia, quando tentava renovar sua identidade boliviana utilizando documentos falsos do Brasil. A captura foi possível graças a uma operação conjunta entre autoridades bolivianas e a Polícia Federal (PF) brasileira.
Desde 2020, ele era considerado foragido da Justiça brasileira, e por um período foi visto como o “número 1 do PCC em liberdade”. Apesar de ter perdido esse posto dentro da hierarquia da facção, segue influente na cúpula da organização.
No ano passado, Tuta foi condenado pela Justiça de São Paulo a 12 anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa, como resultado da Operação Sharks, que apura o esquema de envio de R$ 1,2 bilhão ao exterior oriundo de atividades criminosas do PCC, como o tráfico de drogas.
Mandados e relação com policiais da Rota
Tuta foi alvo de mandados de prisão em 2020 e 2023, mas conseguiu escapar de ambos. Investigações conduzidas pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo revelaram que ele recebia informações privilegiadas de agentes da Rota, que o alertavam sobre operações policiais que estavam para ocorrer.
O esquema veio à tona após o assassinato do delator Antônio Vinícius Gritzbach, ocorrido no ano passado. O nome de Tuta apareceu como um dos principais beneficiados pela rede de vazamentos.
Ligação com o tráfico internacional e Moçambique
O criminoso já ocupou a posição de adido comercial do consulado de Moçambique em Belo Horizonte (MG) — um dos países que o PCC passou a utilizar como rota alternativa para o tráfico internacional de drogas.
Em 2021, a Polícia Federal interceptou cinco toneladas de cocaína no Porto do Rio de Janeiro, que fariam escala justamente em Moçambique antes de seguir para a Espanha.
Plano de fuga de Marcola e falsa morte
De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, referência no combate ao crime organizado no Brasil, o PCC espalhou informações falsas sobre a morte de Tuta. A estratégia visava despistar o Ministério Público e a Justiça, enquanto o criminoso arquitetava um plano de resgate de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso desde 1999 e líder máximo da facção.
"Ele inclusive chegou a ser dado como morto pelo próprio PCC por ter tido má conduta na gestão da facção. Depois, descobrimos que era uma contrainformação dada pelo próprio PCC para que as autoridades policiais e o Ministério Público não incomodassem mais o Tuta, uma vez que ele estava incumbido do plano de resgate do Marcola", afirmou Gakiya ao Estadão.
Envolvimento nos ataques de 2006
Tuta também é apontado como um dos principais articuladores do PCC em liberdade durante os ataques de maio de 2006 em São Paulo. À época, a facção reagiu à transferência de seus líderes para presídios de segurança máxima com ataques a delegacias, prédios públicos e ônibus, resultando na morte de 564 pessoas, entre elas 59 agentes públicos.
A repressão ao episódio marcou um dos capítulos mais violentos da história recente do estado e consolidou a influência do PCC dentro e fora dos presídios.
Próximos passos
A transferência de Tuta deve ocorrer nos próximos dias, assim que a SAP definir a unidade prisional. A expectativa é de que ele seja mantido em regime de isolamento, com restrições severas de comunicação, como medida para conter qualquer tentativa de articulação criminosa a partir da prisão.
