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GERAL

Líder comunitária é presa por ligação com tráfico do PCC na Favela do Moinho

Alessandra Moja é acusada de atuar como braço financeiro e operacional do irmão, traficante Leo do Moinho

8 setembro 2025 - 14h15Rayssa Motta, Fausto Macedo e Marcelo Godoy
Famílias estão sendo removidas pelo Governo Estadual para a demolição da Favela do Moinho, uma das últimas da região central
Famílias estão sendo removidas pelo Governo Estadual para a demolição da Favela do Moinho, uma das últimas da região central - (Foto: Tiago Queiroz / Estadão)
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Alvo principal da Operação Sharpe, deflagrada nesta segunda-feira (8), Alessandra Moja Cunha foi presa sob suspeita de atuar como cúmplice do irmão, Leonardo Moja, conhecido como "Leo do Moinho", apontado como líder do tráfico de drogas na Favela do Moinho, região central de São Paulo. A ação é um desdobramento da Operação Salus et Dignitas, que no ano passado revelou o esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) no centro da capital paulista.

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Segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Alessandra, que se apresenta como líder comunitária, exercia papéis estratégicos dentro da estrutura criminosa. Ela seria responsável por gerir os prédios construídos pelo irmão na favela — usados para abrigar traficantes e armazenar drogas — e administrar um ferro-velho que funcionava como fachada para lavagem de dinheiro, registrado em nome de outro irmão, Jefferson Francisco Moja Teixeira, já denunciado no processo.

Mensagens interceptadas mostram que Alessandra mantinha contato constante com Leo do Moinho, prestando contas sobre a movimentação financeira do ferro-velho. Em uma das conversas registradas, ela avisa o irmão sobre a presença da Polícia Civil no local, chegando a enviar foto da viatura.

As investigações apontam que Alessandra também teria papel direto na gestão do “controle social” da comunidade, atuando como uma espécie de síndica dos interesses do tráfico local. O Ministério Público relata que ela teria cobrado propinas de famílias que entraram em acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para reassentamento, como parte do projeto de criação de um parque na região.

“O cadastro das famílias teria sido condicionado ao pagamento de valores à família Moja”, diz a investigação. Para os promotores, Alessandra era peça central na arrecadação de recursos do tráfico e de outras atividades ilegais, com o objetivo de branqueamento de capitais.

As funções da investigada também incluíam intermediar conflitos internos e demandas cotidianas da comunidade com o irmão traficante. Um dos diálogos obtidos pelo MP mostra Alessandra pedindo a Leo do Moinho providências sobre o descarte de lixo em um ponto próximo à linha do trem.

Foi ela quem alertou o irmão sobre a deflagração da Operação Salus et Dignitas, em 6 de agosto de 2024, com a mensagem: “Operação. Agora.”

Além de Alessandra, outras dez pessoas tiveram prisão preventiva decretada. Entre elas estão:

  • Yasmin Moja Flores, filha de Alessandra
  • Leandra Maria de Lima, cunhada de Leo do Moinho
  • José Carlos Silva, o "Carlinhos", apontado como sucessor de Leo no tráfico da região
  • Jorge de Santana e Cláudio dos Santos Celestino, o "Xocolate", responsáveis por esconder armas e drogas
  • Ronaldo Batista de Almeida, o "Chorão", e Reginaldo Terto da Silva, o "Naldo", que faziam a segurança dos prédios usados pelo grupo
  • Ademário Goes dos Santos, o "Ligeirinho", subordinado à segurança
  • Paulo Rogério Dias, suspeito de distribuir as drogas produzidas e armazenadas na favela

A primeira fase da investigação revelou como o PCC montou uma rede de galpões e ferros-velhos usados para receptar objetos furtados, especialmente fios de cobre, e lavar dinheiro. A operação também identificou a exploração de moradores da Cracolândia, que trabalhavam em condições degradantes, sendo pagos com drogas e bebidas.

Ao decretar as prisões, a juíza Mariana Moraes Labre, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem, destacou que ficou "evidenciada a imperiosidade dos investigados para a estrutura delitiva havida na região, o que demonstra o perigo concreto à ordem pública".

A defesa dos envolvidos ainda não se manifestou. O espaço segue aberto para posicionamentos.

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