
Preso em Olinda (PE) após ação conjunta das polícias de São Paulo e Pernambuco, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 21 anos, é apontado como um hacker de alto nível que invadiu sistemas das polícias estaduais e do Judiciário brasileiro. Além de ameaçar de morte o influenciador digital Felca, ele é investigado por envolvimento em rede de pornografia infantil e comercialização de dados sigilosos.

Segundo o delegado Eronides Menezes, responsável pelo caso, Cayo Lucas chegou a acessar credenciais e informações confidenciais de órgãos de segurança pública, inclusive do sistema da própria Polícia de Pernambuco. Durante a operação, os agentes também prenderam Paulo Vinícius, que confessou vender dados obtidos de forma ilegal por valores entre R$ 20 e R$ 30 no Telegram.
“Ele (Cayo Lucas) confessou que tinha acesso a todos os sistemas das polícias do Brasil, do Poder Judiciário, de mandados de prisão... E conseguia até inserir informações falsas sobre mandados contra qualquer pessoa”, relatou o delegado.
Mandados falsos e ameaças online
A investigação aponta que o grupo criava mandados de prisão fraudulentos, que eram usados para abrir contas bancárias, lavar dinheiro e ameaçar pessoas, como o youtuber Felca. De acordo com a polícia, os crimes virtuais estavam relacionados a represálias contra a denúncia de conteúdo pedófilo nas redes sociais.
Felca — que tem 8,4 milhões de inscritos no YouTube, 17,7 milhões de seguidores no Instagram e 870 mil na rede X (ex-Twitter) — publicou no início de agosto um vídeo intitulado “Adultização”, em que denuncia influenciadores e perfis que sexualizam crianças e adolescentes para fins de monetização.
O vídeo desencadeou uma onda de ataques contra o criador de conteúdo. Em mensagens enviadas por e-mail, Cayo Lucas o ameaçou com frases como:
“vc vai se ferrar muito sua vida após a denunciando ele prepara pra morrer vc vai pagar com a sua vida (sic)”
“vc vai morrer se prepara por sua vida vc corre risco e vc vai pagar com a vida vc e um otário pedófilo (sic)”
Acesso a sistemas oficiais e credenciais clonadas
A operação que resultou nas prisões encontrou, no local, um computador logado em sistemas da Polícia de Pernambuco, com as credenciais de um policial militar. Também foram apreendidas anotações contendo logins e senhas de sistemas da Secretaria de Defesa Social e de outros órgãos estatais.
Cayo Lucas teria tentado se eximir da responsabilidade ao afirmar que os dados pertenciam a Paulo Vinícius, mas o delegado Menezes não tem dúvidas: “Ele não apenas confessou como havia provas materiais no computador. A suspeita é que ele fornecia as credenciais e o outro as utilizava”.
Ambos foram autuados em flagrante por invasão de dispositivo informático com acesso a dados sigilosos, e o delegado já solicitou a conversão das prisões em preventivas.
Reação política e nova legislação
A repercussão do vídeo de Felca e das ameaças recebidas mobilizou não apenas a polícia, mas também o Congresso Nacional. Parlamentares passaram a pressionar pela aprovação de medidas mais rigorosas contra crimes online.
Em resposta à mobilização, a Câmara dos Deputados aprovou, no último dia 20, o projeto de lei conhecido como “ECA Digital”, uma atualização do Estatuto da Criança e do Adolescente com foco na proteção de menores em ambientes digitais.
A proposta havia ficado parada por meses, mas ganhou força após a denúncia pública do youtuber e os desdobramentos da investigação.
Pornografia infantil e redes criminosas
A polícia também apura o envolvimento de Cayo Lucas com a venda e disseminação de pornografia infantil, prática considerada gravíssima pelas autoridades e com penas que podem ultrapassar 10 anos de prisão.
O caso reforça os alertas sobre a atuação de redes criminosas na deep web e o uso de plataformas de mensagens criptografadas para atividades ilegais, como venda de dados, ameaças, extorsão e abuso sexual de menores.
