
As consequências da megaoperação policial que resultou em 132 mortes nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, continuam impactando a rotina de milhares de estudantes. Nesta quarta-feira (29), pelo menos quatro universidades e 55 escolas permaneceram com aulas presenciais suspensas, reflexo direto da ação considerada a mais letal já registrada no Estado.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) suspendeu todas as atividades presenciais — acadêmicas e administrativas — em seus campi da capital e de Duque de Caxias, mantendo apenas os serviços essenciais. Decisão semelhante foi adotada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que também paralisou suas atividades em Niterói.
Já a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) migrou as aulas para o formato remoto e suspendeu as atividades presenciais administrativas.
Escolas estaduais e municipais também afetadas - Na rede estadual, a Secretaria de Educação informou que seis escolas não abriram as portas nesta quarta-feira. No auge do conflito, na terça-feira (28), 35 escolas estaduais precisaram suspender suas atividades por falta de segurança. Segundo a pasta, os diretores têm autonomia para decidir sobre o funcionamento das unidades, visando preservar a integridade física de alunos, professores e servidores. O conteúdo pedagógico deverá ser reposto futuramente.
Na esfera municipal, a situação é ainda mais grave. A Secretaria Municipal de Educação confirmou que 49 escolas seguem fechadas nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha, onde ocorreu a operação. Essas unidades seguem o protocolo "Acesso Mais Seguro", desenvolvido em parceria com a Cruz Vermelha Internacional, para avaliar os riscos antes da retomada das atividades.
O número oficial de mortos durante a operação segue impreciso. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro afirmou que 132 pessoas perderam a vida durante a ação policial. Inicialmente, o governador Cláudio Castro anunciou 64 mortes, mas, nesta quarta, corrigiu a informação para 58. Segundo ele, o número pode continuar mudando conforme avançam os trabalhos do Instituto Médico Legal (IML) e da perícia.
A ação foi deflagrada com o objetivo de atingir o Comando Vermelho (CV), uma das principais facções criminosas do Estado. No entanto, a operação gerou forte repercussão nacional e internacional por seu elevado número de mortos e pelos impactos diretos à vida civil, especialmente nas áreas de moradia e educação.
Críticas e apelos por medidas urgentes - Entidades de direitos humanos, movimentos sociais e organizações educacionais têm se posicionado de forma crítica à operação. Além do número de vítimas, os grupos denunciam o clima de terror instaurado nas comunidades, a insegurança para circular pelas ruas e o prejuízo educacional causado pela suspensão prolongada das aulas.
Especialistas em segurança pública alertam que a militarização das ações em áreas de grande vulnerabilidade social tem reflexos diretos no desempenho escolar e no desenvolvimento de crianças e adolescentes que vivem nessas regiões. A interrupção das aulas, mesmo que temporária, aprofunda desigualdades já existentes.
Enquanto isso, o Governo do Estado do Rio de Janeiro ainda não apresentou um plano de retomada das atividades nas áreas afetadas nem anunciou ações específicas para garantir a segurança de alunos, professores e funcionários das escolas e universidades.
