
O empresário Renê da Silva Nogueira Junior, que confessou ter matado o gari Laudemir de Souza Fernandes, em 11 de agosto, em Belo Horizonte, orientou a esposa — a delegada Ana Paula Lamêgo Balbino — a entregar à polícia uma arma diferente da usada no crime.

De acordo com o inquérito ao qual o Estadão teve acesso, Renê enviou mensagens pedindo:
“Entrega a 9 milímetro. Não pega a outra.”
A pistola utilizada no homicídio, uma Glock calibre .380, pertencia à delegada e foi apreendida pela Polícia Civil.
Mensagens recuperadas
Segundo a investigação, os textos foram enviados quando Renê já sabia que seria levado à delegacia. Embora tenham sido apagados, a perícia conseguiu recuperá-los.
Em outra mensagem, o empresário minimiza a gravidade do ocorrido:
“Amor, eu não fiz nada. Estava no lugar errado, na hora errada.”
A polícia ressalta que os conteúdos não tiveram resposta da delegada.
Tentativa de interferência
Ainda conforme o inquérito, Renê buscou ajuda de um ex-integrante do comando da PM mineira, pedindo que intercedesse junto a policiais que o cercavam:
“Estou cercado por PMs. Poderia me ajudar? Estão dizendo que matei um gari.”
O empresário foi preso em uma academia horas após o crime. Posteriormente, já detido, escreveu uma carta alegando que a morte teria sido um “acidente”.
O crime
Renê atirou em Laudemir após uma discussão porque o caminhão de coleta de lixo, dirigido por um colega da vítima, bloqueava parcialmente a rua. O gari foi socorrido pela PM, mas não resistiu.
No dia 29 de agosto, Renê foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, além de porte ilegal de arma e ameaça.
Repercussão e investigações paralelas
A delegada Ana Paula Lamêgo Balbino está afastada por 60 dias da Polícia Civil por motivos de saúde, mas segue sendo investigada pela Corregedoria da corporação.
O advogado da família da vítima, Tiago Lenoir, disse que as mensagens reforçam a tentativa de manipular a apuração:
“As provas colhidas como mensagens, vídeos e laudos revelam tentativas de interferência. Não descansaremos até que todos os responsáveis, por ação ou omissão, sejam punidos com o rigor da lei.”
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o processo segue em tramitação na Corregedoria e que novas informações serão divulgadas ao término do procedimento.
