
Às vésperas do Natal, comerciantes e moradores do Centro de Campo Grande vivem uma mistura de apreensão e esperança. De um lado, há relatos de furtos e a sensação de insegurança que impactam o fluxo de consumidores. De outro, ações da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar têm buscado reverter esse cenário, especialmente com o aumento do policiamento durante o fim de ano.
Segundo dados oficiais, o primeiro semestre de 2025 registrou 859 furtos e 112 roubos na região central, número que preocupa lojistas e associações comerciais. No entanto, operações específicas como a “Boas Festas” da Polícia Militar e o reforço estratégico da Guarda Municipal têm sido implementadas para garantir mais tranquilidade aos comerciantes e consumidores neste período de movimento.
Jorge Nammoura, mantem o comercio familiar a 53 anos na região da avenida Calogeras, e relata o o aumento da insegurança nos ultimos anos. (Foto: Alisson Lacerda)
Na Avenida Calógeras, o comerciante Jorge Nammoura, que mantém um tradicional negócio familiar há 53 anos, descreve um cenário desafiador. “Estamos tomando todos os cuidados possíveis, mas a situação está difícil. A presença de pessoas em situação de rua nas redondezas afasta muitos clientes”, relata.
Ele conta que, por precaução, adotou medidas extras de segurança, como reforço de equipe e mudanças na disposição das vitrines. Apesar disso, Nammoura reconhece que o reforço policial é fundamental. “A gente sabe que existem ações em andamento, mas gostaríamos de ver uma presença mais constante. Isso traz mais confiança”, afirma.
A comerciante Janaína Pereira, que também mora na região, compartilha da mesma percepção. “Tem noites em que o barulho e o movimento dificultam o descanso. Durante o dia, alguns usuários de drogas abordam os clientes, o que acaba afastando a clientela”, diz. Janaína, no entanto, reconhece que o problema é complexo e que a presença de forças de segurança pode ajudar a conter essas situações. “Nós vemos a Guarda em alguns pontos, mas seria bom se fosse mais frequente.”
Da sacada de sua casa, Janaina mostra que nem mesmo a luz do dia, usuarios e moradores de rua toman conta da reigão baixa do centro. (Foto: Alisson Lacerda)
Em resposta a essas demandas, a Guarda Civil Metropolitana instalou uma base móvel de atendimento no Centro, reforçando o patrulhamento com agentes posicionados em pontos estratégicos. A ação atende tanto comerciantes quanto consumidores, sobretudo durante o pico das compras de fim de ano.
Além disso, a Operação Boas Festas, lançada pelo Comando de Policiamento da Capital, vai intensificar ainda mais a presença das forças de segurança. De acordo com o coronel Emerson de Almeida, haverá um aumento de 40% no efetivo, com patrulhamento a pé, motorizado e até com o apoio da cavalaria e de aeronaves para monitoramento aéreo. “Nosso objetivo é proporcionar um ambiente seguro para que as pessoas possam comprar com tranquilidade e os comerciantes possam trabalhar com confiança”, destacou o comandante.
Agentes da Guarda Civil Metropolitana reforçam a segurança no Centro com a base móvel instalada para atendimento e patrulhamento durante o período de compras de fim de ano. ( Foto: Alisson Lacerda )
A tenente-coronel Cleide Maria, do 1º Batalhão, alerta para cuidados básicos que ajudam na prevenção. “Com o movimento intenso do comércio, as pessoas ficam mais distraídas, principalmente com o uso do celular. É importante manter atenção redobrada”, orienta.
A gerente Evelyn Paganotti, que administra uma loja de eletrônicos na área central, destaca que reforços na segurança são parte da rotina da empresa. “Nós já temos segurança o ano todo, mas no fim do ano colocamos mais um ou dois profissionais para reforçar. Também confiamos nas ações da polícia nesse período”, afirma.
Evelyn afirma que o reforço da segurança privada no periodo de fim de ano é essencial para garatir a segurança dos colaboradores e clientes. ( Foto: Alisson Lacerda)
Apesar das dificuldades, há um otimismo moderado entre os lojistas. A gerente Ana Claudia, que trabalha há 16 anos no Centro, acredita que as atrações natalinas transferidas para a região central podem aquecer as vendas. “O centro ficou um pouco esquecido nos últimos anos, mas agora esperamos um movimento maior. Isso ajuda todos nós”, comenta. Ainda assim, ela reforça a importância da presença contínua da polícia. “A presença nas esquinas ainda é esporádica. Queremos mais constância”, aponta.
Ana Claudia relata expectativas para as vendas de fim de ano, e não esconde a preocupação com a falta de segurança que afeta o movimento de clientes. ( Foto: Alisson Lacerda )
Parcerias entre lojistas e autoridades buscam soluções permanentes - A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) reforça que a segurança continua sendo a principal preocupação dos empresários da região. No entanto, destaca os avanços conquistados por meio do diálogo com as forças de segurança pública. “A intensificação do policiamento nos últimos meses foi resultado de reuniões promovidas pela entidade com as autoridades competentes”, informa a ACICG em nota.
A entidade afirma que seguirá cobrando medidas efetivas e de longo prazo, ao mesmo tempo em que incentiva comerciantes a adotarem boas práticas de segurança e manterem o canal de comunicação aberto com a polícia e a Guarda Civil.
Em 2024, a Operação Guardião havia conseguido reduzir significativamente os índices de crimes patrimoniais no Centro. Dados da época apontam que houve queda expressiva em furtos e roubos:
Furtos qualificados em comércios: de 31 para 11 casos
Furtos simples em comércios: de 50 para 20 casos
Roubos em via pública: de 46 para 20 ocorrências
Furtos simples em residências: de 24 para 11 registros
Furtos de veículos: de 35 para 21 casos
Furtos qualificados em residências: de 11 para 8 casos
Para o presidente do Conselho Comunitário de Segurança, Irwing Ferreira, a simples presença de policiais em patrulhamento já é um fator dissuasivo importante. “A maior reclamação dos comerciantes é em relação a pequenos delitos, furtos simples, que muitas vezes podem ser evitados com policiamento a pé ou em motos”, ressalta. Ferreira também destaca que as áreas mais críticas foram mapeadas e apresentadas às autoridades, o que contribui para a formulação de estratégias mais assertivas. “O importante é manter o diálogo entre comerciantes, moradores e forças de segurança", finaliza.

