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GEOPOLÍTICA GLOBAL

Brics definem estratégia multilateral contra avanço do protecionismo

Com liderança do Brasil, bloco reforça laços comerciais e propõe reformas em instituições internacionais

8 setembro 2025 - 12h55
Reunião virtual do Brics liderada por Lula discutiu integração econômica e resposta ao protecionismo global
Reunião virtual do Brics liderada por Lula discutiu integração econômica e resposta ao protecionismo global - Ricardo Stuckert/PR
ENERGISA

Os líderes do Brics participaram, nesta segunda-feira (8), de uma cúpula virtual convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de fortalecer os mecanismos de comércio e cooperação entre os países membros. Em resposta à nova política tarifária dos Estados Unidos, o encontro reforçou a defesa do multilateralismo como estratégia conjunta frente ao avanço do protecionismo global.

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“O comércio e a integração financeira entre nossos países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo”, afirmou Lula, ao destacar o papel do grupo na construção de um novo modelo de governança internacional. Ele também defendeu que o Brics possui legitimidade para liderar a “refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas às nossas necessidades de desenvolvimento”.

Durante o discurso, o presidente brasileiro sublinhou o peso econômico do bloco: 40% do PIB mundial, 26% do comércio internacional e quase metade da população global. Também mencionou as capacidades estratégicas conjuntas para uma transição verde, tecnológica e agroindustrial. “Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia. Reunimos condições para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia”, afirmou.

Além das questões econômicas, Lula destacou a crise de governança nas instituições internacionais e o impacto das medidas unilaterais adotadas por potências como os Estados Unidos. “A OMC está paralisada há anos. Em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre comércio”, criticou. Segundo ele, o Brics é hoje vítima de práticas comerciais consideradas “injustificadas e ilegais”.

Lula também acusou os EUA de usarem a política tarifária como forma de chantagem. “A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”, afirmou. O presidente condenou as sanções secundárias e as medidas extraterritoriais que, segundo ele, comprometem a soberania dos países em desenvolvimento.

Neste ano, sob presidência brasileira, o Brics tem reforçado a necessidade de reformar organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Conselho de Segurança da ONU. Lula defendeu que o grupo chegue “unido” à próxima conferência ministerial da OMC, marcada para 2026 no Camarões.

Outro destaque da reunião foi a proposta do presidente da China, Xi Jinping, sobre a criação da Iniciativa de Governança Global (IGG), uma articulação internacional com foco na multipolaridade. A ideia surge em um cenário onde o bloco tenta consolidar uma alternativa à hegemonia ocidental nas relações econômicas e políticas.

O encontro também serviu para alinhar posicionamentos sobre conflitos internacionais. Lula lamentou o que chamou de “fracasso da comunidade internacional” em solucionar crises como a guerra na Ucrânia e o genocídio na Faixa de Gaza. Ele também criticou a presença militar dos EUA no Caribe, próximo à Venezuela. “A presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, disse.

No campo ambiental, o presidente reforçou o convite para a COP30, que será realizada em Belém, em novembro de 2025. Lula sugeriu a criação de um Conselho de Mudança do Clima na ONU, para coordenar ações hoje “fragmentadas” no cenário internacional. Ele também destacou o papel dos países em desenvolvimento no combate às mudanças climáticas e propôs usar os lucros dos combustíveis fósseis para financiar a transição energética global.

“Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer supervisão efetiva. A COP30 será o momento da verdade e da ciência”, declarou.

O encontro ainda discutiu os rumos da transformação digital no mundo e os riscos da concentração de poder nas mãos de poucas empresas. Para Lula, “sem uma governança democrática, projetos de dominação centrados em poucas empresas de alguns países vão se perpetuar”. Ele defendeu o fortalecimento da soberania digital por meio de ecossistemas regulados e independentes.

A reunião desta segunda-feira contou com a participação de líderes ou representantes da China, Egito, Indonésia, Irã, Rússia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia e Etiópia, além do Brasil.

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