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14 de outubro de 2025 - 18h51
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POLICIAL

Polícia desmonta laboratório que adulterava uísques e apreende rede que vendia bebidas com metanol

Suspeito comprava garrafas caras, reabastecia com líquido falsificado e revendia; operação prendeu seis e cumpriu 20 mandados

14 outubro 2025 - 14h05Malu Mões
Polícia Civil apreendeu laboratório clandestino em São José dos Campos usado para reabastecer garrafas de uísque; seis presos e 20 mandados cumpridos.
Polícia Civil apreendeu laboratório clandestino em São José dos Campos usado para reabastecer garrafas de uísque; seis presos e 20 mandados cumpridos. - Foto: Policia Civil de SP
Terça da Carne

A Polícia Civil de São Paulo localizou e desativou um laboratório clandestino usado para adulterar bebidas alcoólicas em São José dos Campos durante operação coordenada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). A ação, realizada nesta terçafeira (14), resultou na prisão de seis pessoas e no cumprimento de 20 mandados de busca e apreensão em oito municípios do estado: São Paulo, Santo André, Poá, São José dos Campos, Santos, Guarujá, Presidente Prudente e Araraquara.

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Segundo a delegada Leslie Caran Petrus, responsável pelas investigações, o esquema consistia em adquirir garrafas originais de uísque de alto valor — citadas como custando entre R$ 3 mil e R$ 4 mil — e, em seguida, recheálas manualmente com uma bebida falsificada. Para não levantar suspeitas, o produto adulterado era vendido a preço similar ao original. “Esse indivíduo adquiria garrafas de bebidas de renome, marcas que custam de R$ 3 a 4 mil. Então, ele comprava por 10% do valor da garrafa original. Eram enviados também os lacres, as tampinhas falsas, tudo isso. A partir disso, ele tinha as bombonas de uísque e de outras bebidas falsas e ele fazia de uma forma manual, botava o funil, colocava aquela bebida falsa, fechava, lacrava e revendia”, descreveu a delegada.

Objetivos da operação e materiais apreendidos - A operação teve como objetivo localizar e apreender produtos, maquinários e materiais usados na produção das bebidas falsificadas, além de celulares, documentos e outros objetos que possam colaborar para identificar os envolvidos e comprovar a prática criminosa. O foco das equipes do Deic incluiu tanto o ponto de produção — o laboratório clandestino em São José dos Campos — quanto pontos de distribuição e revenda nas demais cidades onde foram cumpridos mandados.

A investigação aponta que o processo de falsificação era feito de forma artesanal: o conteúdo das garrafas originais era substituído por outro líquido armazenado em bombonas; tampas, lacres e rótulos falsificados eram utilizados para dar aparência de autenticidade às embalagens antes da revenda.

A operação ocorre no contexto de um aumento nas ocorrências de intoxicação por metanol no país. Conforme dados do Ministério da Saúde divulgados nesta segundafeira (13), o Brasil registra 32 casos confirmados de intoxicação por metanol, com 181 ocorrências em investigação e 320 suspeitas descartadas. Foram confirmadas cinco mortes atribuídas ao consumo da substância, todas no estado de São Paulo — três na capital, uma em São Bernardo do Campo e outra em Osasco.

O estado de São Paulo concentra o maior número de notificações: são 100 casos em investigação e 23 ocorrências confirmadas, segundo os números oficiais citados pelas autoridades. A relação entre o esquema de adulteração e os episódios de intoxicação está entre os focos da apuração, na tentativa de identificar eventuais vínculos entre produtos falsificados e as contaminações registradas.

Risco sanitário e repercussão - A comercialização de bebidas adulteradas com metanol pode representar risco sanitário grave. Investigadores e autoridades de saúde acompanham de perto os desdobramentos e buscam mapear canais de produção e distribuição que coloquem consumidores em risco. A apreensão de maquinário, líquidos, embalagens e documentos é considerada essencial para interromper fluxos que alimentam o mercado ilegal e para reunir provas para processos criminais.

A delegada Leslie Caran Petrus detalhou parte do modus operandi para demonstrar como a aparente sofisticação das embalagens — com lacres e tampinhas agora identificadas como falsificadas — servia para ludibriar compradores e comerciantes menos atentos: a estratégia de vender a preços equivalentes aos das garrafas originais era uma forma de evitar que o produto chamasse atenção por ser excessivamente barato.

Além da detenção dos seis suspeitos nesta etapa da investigação, a operação contou com ações em diferentes regiões do estado, o que aponta para uma estrutura de atuação que ultrapassava o município onde foi localizado o laboratório. Os 20 mandados cumpridos em cidades variadas buscam desarticular a cadeia que supostamente ia desde a produção até a comercialização dos produtos adulterados.

O Deic coordenou as equipes responsáveis pelas buscas e prisões, com a finalidade de recolher elementos que apoiem a responsabilização criminal dos envolvidos — tanto no crime de produção e venda de produtos industrializados falsificados quanto em possíveis crimes contra a saúde pública, caso seja comprovada a contaminação por metanol.

Os números divulgados pelo Ministério da Saúde, mencionados pela Polícia Civil no curso das investigações, mostram uma concentração de ocorrências no Estado de São Paulo, que registra a maior parte das notificações em apuração. Das cinco mortes confirmadas até o momento, todas foram em território paulista, o que reforça o foco das operações policiais e inquéritos na região.

As autoridades de saúde seguem apurando os casos em todo o país, com a lista de ocorrências em investigação englobando 181 registros que ainda exigem checagem laboratorial e rastreamento de produtos consumidos. Já as 320 suspeitas descartadas foram retiradas da lista após análise, segundo o balanço oficial.

Próximos passos das investigações - A polícia informou que os materiais apreendidos serão submetidos a perícia para identificar a composição dos líquidos utilizados nas adulterações, e que documentos e aparelhos eletrônicos recolhidos passarão por análise forense para estabelecer a cadeia de produção, fornecedores de insumos e pontos de venda. Esses elementos são considerados cruciais para consolidar o caso e encaminhar denúncias ao Ministério Público.

A investigação também deverá verificar a existência de eventuais conexões entre as bebidas apreendidas e os casos de intoxicação por metanol já confirmados, com a colaboração de órgãos de saúde pública responsáveis pela investigação epidemiológica.

Embora a investigação esteja em curso e os resultados das perícias ainda não tenham sido divulgados, a ação da Polícia Civil evidencia a necessidade de vigilância policial e sanitária sobre cadeias de comercialização de bebidas alcoólicas, especialmente aquelas que possam apresentar indícios de falsificação. Consumidores são aconselhados a procurar canais oficiais caso desconfiem de produtos irregulares e reportar estabelecimentos que comercializem bebidas sem procedência comprovada.

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