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05 de dezembro de 2025 - 14h36
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REALIDADE URBANA

Mais da metade das favelas do Brasil não tem bueiros, revela Censo 2022

Levantamento do IBGE mostra que 16,3 milhões de brasileiros vivem em comunidades urbanas com infraestrutura precária

5 dezembro 2025 - 13h50Roberta Jansen
A favela da Rocinha vista do alto: comunidade é dominada pelo Comando Vermelho, maior facção do tráfico no Rio
A favela da Rocinha vista do alto: comunidade é dominada pelo Comando Vermelho, maior facção do tráfico no Rio - (Foto: Custodio Coimbra)

Mais da metade dos moradores de favelas e comunidades urbanas no Brasil vivem em ruas sem bueiros ou bocas de lobo. É o que aponta o Censo 2022, divulgado nesta sexta-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revelou que 54,6% dos residentes dessas áreas convivem com a ausência de sistemas básicos de drenagem, o que agrava riscos de alagamentos e doenças em períodos de chuva.

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O levantamento expôs a dura realidade de 16,3 milhões de brasileiros — o equivalente à população somada de São Paulo, Fortaleza e Salvador — que vivem em 12.348 favelas espalhadas por 656 municípios do país. Ao todo, são cerca de 6,5 milhões de domicílios em áreas marcadas por sérias deficiências de infraestrutura urbana.

Sudeste concentra quase metade das favelas do país

A maior parte dessas comunidades está na região Sudeste, que concentra 48,7% do total. É onde estão localizadas algumas das maiores e mais conhecidas favelas do país, como a Rocinha, no Rio de Janeiro, e Paraisópolis, em São Paulo.

O estudo analisou 10 aspectos do entorno dos domicílios dessas comunidades: circulação de veículos, pavimentação, presença de bueiros, iluminação pública, ponto de ônibus ou van, sinalização cicloviária, calçadas, rampas para cadeirantes, arborização e obstáculos nas vias.

A pesquisa revela que 21,7% dos moradores de favelas vivem em ruas sem pavimentação. Fora dessas comunidades, essa realidade atinge apenas 8,2% da população. Além disso, 96% enfrentam calçadas com obstáculos — como postes, buracos, degraus ou desníveis — o que limita o acesso de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

O problema se agrava com a falta de acessibilidade para veículos maiores. Em 19,2% das favelas, o acesso é possível apenas por moto, bicicleta ou a pé. Já em áreas fora das comunidades, apenas 1,4% dos brasileiros vivem nessas condições.

A infraestrutura de transporte também é deficiente. Apenas 5,2% dos moradores de favelas vivem em vias com ponto de ônibus ou van, enquanto nas outras regiões urbanas essa cobertura é de 12,1%. O IBGE esclarece que o dado se refere à presença do ponto em trechos de via, não necessariamente à distância total até o ponto mais próximo.

Por outro lado, a iluminação pública está presente em 91,1% das vias dentro de comunidades urbanas, uma proporção relativamente alta, embora ainda abaixo dos 98,5% observados fora dessas áreas.

No quesito arborização, a desigualdade é ainda mais evidente: apenas 35,4% dos moradores de favelas vivem em trechos com árvores nas vias, enquanto nas demais áreas urbanas esse índice sobe para 69%.

Dois itens chamam atenção pela quase total ausência: rampas para cadeirantes e sinalização para bicicletas. Apenas 5% dos moradores de favelas têm rampas de acessibilidade em seus trechos de rua, e só 1% vive em áreas com algum tipo de sinalização voltada para ciclistas.

Para especialistas, os dados confirmam o quanto as desigualdades estruturais ainda marcam o cotidiano de milhões de brasileiros. A ausência de infraestrutura básica compromete não só a qualidade de vida, mas o acesso a direitos fundamentais, como mobilidade, saúde, segurança e dignidade.

Com a divulgação dos dados, o IBGE espera subsidiar políticas públicas mais eficazes, voltadas à inclusão urbana e à redução das desigualdades territoriais.

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