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REABILITAÇÃO ANIMAL

Anta queimada no Pantanal se cura e volta a viver livre na natureza

Com paciência, pele de tilápia e muito cuidado, animal queimado no Pantanal retorna à natureza depois de 8 meses de tratamento

30 abril 2025 - 20h13Ricardo Eugenio
Anta ferida por incêndio no Pantanal se recupera após 8 meses e volta à natureza
Anta ferida por incêndio no Pantanal se recupera após 8 meses e volta à natureza - (Foto: Fernando Faciole)

No Pantanal, onde a natureza insiste em renascer mesmo depois da tragédia, uma anta de nome Valente reaprendeu a viver. Foram oito meses entre feridas e curativos, sessões de laser, pele de tilápia, água fresca e paciência humana. Na última sexta-feira (25), o bicho voltou a pisar no chão de onde nunca deveria ter saído.

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A história começou em 2024, durante os incêndios que castigaram o bioma. No meio de uma pastagem completamente queimada, a equipe de resgate encontrou Valente deitado, ferido, exausto, desidratado. Mal se mexia. “Ele aceitou nossa presença. Estava com tanta sede que bebeu 15 litros de água de uma vez”, lembra a bióloga Lilian Rampim, que coordenou os cuidados.

Foi o primeiro sinal de que ele queria continuar.

O tratamento envolveu uma combinação inédita de técnicas, adaptadas de procedimentos usados em seres humanos. Pomadas cicatrizantes, laserterapia, ozonioterapia e, sim, pele de tilápia — uma alternativa eficiente para tratar queimaduras, que funciona como uma segunda pele e ajuda na regeneração sem sufocar a ferida.

Valente, a anta resgatada dos incêndios no Pantanal, em seu retorno à natureza na região da Caiman, no Mato Grosso do Sul. Após 8 meses de tratamento, voltou a caminhar livre.
Valente, a anta resgatada dos incêndios no Pantanal, em seu retorno à natureza na região da Caiman, no Mato Grosso do Sul. Após 8 meses de tratamento, voltou a caminhar livre.

“Imagine um animal de 120 quilos, com as quatro patas queimadas. Todo o peso dele sobre os machucados. Foi um processo longo, mas ele cooperava. Era como se soubesse que estávamos ali por ele”, contou Lilian.

Enquanto se recuperava, Valente ganhou também o carinho da equipe. “Ao mesmo tempo que era valente, era muito dócil. Ele sabia quando a gente chegava. Tinha confiança.”

De volta ao que é dele - Na volta ao Pantanal, Valente foi acompanhado por veterinários, especialistas em fauna e fotógrafos do Onçafari, que registraram o momento. A soltura foi calma, bonita. Quando despertou, Valente usou a tromba para farejar o ar. E então, como quem reconhece o cheiro do próprio lar, seguiu seu caminho, livre.

“Não sabíamos se ele realmente morava ali. Mas a maneira como reagiu ao ambiente mostrou que sim. Ele sabia onde estava”, relatou a bióloga.

As antas são discretas. Apesar do tamanho, caminham devagar, em silêncio. Se guiam pelo olfato. São presas fáceis para onças, por isso são cautelosas. “É um animal inteligente, sensível, calado. Ser chamado de anta deveria ser elogio”, diz Lilian.

A imagem de Valente em recuperação concorreu ao Prêmio de Fotografia Ambiental da Fundação Príncipe Albert II de Mônaco. Mas, mais do que um prêmio, ele ganhou de volta o que importa: o direito de andar, farejar, viver em paz.

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