1º Encontro Regional MIDIACOM MS
RESTAURAÇÃO AMBIENTAL

Com R$ 6,7 milhões, Rio Taquari tenta reescrever sua história e recuperar o tempo perdido

Projeto de restauração ambiental no MS promete recuperar 378 hectares e transformar a vida de 160 produtores rurais

3 fevereiro 2025 - 16h33Da Redação
Vista aérea da Bacia do Rio Taquari revela áreas degradadas que serão alvo do projeto de restauração.
Vista aérea da Bacia do Rio Taquari revela áreas degradadas que serão alvo do projeto de restauração. - Foto: Divulgação

O Rio Taquari, um dos principais corpos d’água do Pantanal, há anos é sinônimo de problema ambiental: erosão, assoreamento e pastagens degradadas. Agora, uma nova tentativa de reverter décadas de danos vem com um investimento de R$ 6,7 milhões. O projeto “Caminhos das Nascentes: Restauração Ambiental na Bacia do Taquari” pretende restaurar 378 hectares ao longo dos próximos quatro anos em áreas críticas de Mato Grosso do Sul. É a resposta do meio ambiente a quem dizia que o Taquari estava condenado.

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Financiado pelo edital Floresta Viva — iniciativa do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) com apoio do BNDES —, o projeto envolve um consórcio improvável: de um lado, o setor público, com o Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL) e prefeituras locais. Do outro, organizações privadas, como o Instituto Taquari Vivo e a SOS Pantanal. Juntas, as instituições miram os municípios de Costa Rica e Alcinópolis, onde a degradação das margens do rio impacta diretamente a fauna, a flora e a produtividade agrícola.

O diretor do Instituto Taquari Vivo, Renato Roscoe, está otimista: “É um projeto que une ciência e prática. Não estamos falando de plantar árvores de forma aleatória. Vamos atuar de maneira estratégica para garantir resultados duradouros na recuperação ecológica.”

Pastagens recuperadas e novas sementes no mercado
O projeto começa pelas fazendas Continental e São Tomás, dois pontos de grande degradação na bacia. Ali, serão recuperados 900 hectares de pastagens. O método inclui restauração ativa, com plantio de árvores nativas, construção de terraços e bacias de captação de água. “Essas áreas foram muito exploradas sem manejo adequado”, explica Rômulo Louzada, fiscal ambiental do IMASUL. “Agora, queremos mostrar que a recuperação é possível e que ela pode trazer benefícios econômicos.”

O plano não é apenas salvar o Taquari, mas também transformar a região em um polo de restauração ecológica. A previsão é que a demanda por mudas e sementes nativas cresça exponencialmente, beneficiando viveiros e pequenos produtores locais. Para Leonardo Gomes, diretor executivo da SOS Pantanal, a ideia é reverter anos de negligência: “Não estamos falando apenas de recuperação ambiental. Estamos criando uma nova dinâmica econômica na região, onde natureza e produção caminham juntas.”

O impacto não é pequeno. Mais de 160 produtores rurais participarão de capacitações sobre manejo sustentável do solo. A expectativa é que eles incorporem práticas que melhorem a produtividade sem esgotar os recursos naturais.

O Taquari está no vermelho: décadas de danos acumulados
O Taquari é um dos rios que formam o complexo hídrico do Pantanal, mas sua situação atual é resultado de anos de desmatamento e ocupação desordenada. O assoreamento bloqueia o fluxo natural da água, transformando grandes trechos do rio em áreas alagadas, o que prejudica tanto o ecossistema quanto a atividade agropecuária. “O Pantanal não está isolado. O que acontece no Taquari tem efeito em toda a região. Não podemos mais ignorar isso”, afirma Letícia Koutchin Reis, coordenadora do projeto.

A recuperação das pastagens degradadas nas duas fazendas é apenas a ponta do iceberg. No Parque Estadual Nascentes do Rio Taquari (PENT) e no Monumento Natural Municipal Serra do Bom Jardim, áreas de conservação ambiental serão revitalizadas. “Esses locais funcionam como barreiras naturais contra a degradação. Recuperá-los significa proteger também as áreas produtivas ao redor”, explica Roscoe.

Erosão avançada em trecho do Rio Taquari: um dos desafios que o projeto "Caminhos das Nascentes" pretende combater. |Foto: Divulgação

R$ 6,7 milhões e um cronograma apertado - O projeto conta com um cronograma bem definido e um orçamento robusto:

  • R$ 6,7 milhões investidos em restauração ambiental e capacitação de produtores;
  • 378 hectares de áreas degradadas recuperados em quatro anos;
  • 900 hectares de pastagens revitalizadas nas fazendas Continental e São Tomás;
  • 160 produtores rurais capacitados para práticas de manejo sustentável;
  • Aumento da demanda por mudas e sementes nativas, com impacto direto na economia local.

Leonardo Gomes destaca que a colaboração entre diversos setores foi essencial para tirar o projeto do papel. “O setor privado não faria isso sozinho. O setor público também não. É uma parceria que mostra como podemos alinhar interesses econômicos e ambientais.”

Uma tentativa ousada — e com prazo de validade - O edital Floresta Viva foi desenhado para apoiar projetos de restauração ecológica em biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. No entanto, há uma questão: a verba não é ilimitada, e o tempo está correndo. O cronograma prevê o início imediato das ações de plantio e manejo, mas a eficácia depende da adesão dos produtores e da eficiência na execução.
“Não é só plantar árvores. É cuidar do solo, monitorar o crescimento e garantir que essas áreas não sejam degradadas novamente”, enfatiza Roscoe. Para isso, serão utilizados sistemas de monitoramento e avaliação periódica dos resultados.

Para quem vive na região, como pequenos produtores de Alcinópolis, o projeto é visto com ceticismo e esperança. “Já vimos muitas promessas. Se dessa vez funcionar, será uma bênção. Nosso pasto já não aguenta mais”, diz Joaquim dos Anjos, dono de uma pequena propriedade no entorno do Taquari.

Ravinas e voçorocas evidenciam o impacto da degradação do solo na região da Bacia do Rio Taquari. | Foto: Divulgação

O futuro do Taquari está em jogo - Rômulo Louzada, do IMASUL, acredita que o projeto tem potencial para ser replicado em outras bacias hidrográficas do Pantanal. “Se conseguirmos estabilizar a situação no Taquari, podemos aplicar o mesmo modelo em outros rios que enfrentam problemas semelhantes.”
No final das contas, a recuperação do Taquari não é apenas uma questão ambiental. É uma tentativa de mostrar que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há espaço para soluções inovadoras.

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