Grupo Feitosa de Comunicação
(67) 99974-5440
(67) 3317-7890
19 de novembro de 2025 - 18h08
uems
SEGURANÇA NA AMAZÔNIA

Facções dominam mais de um terço das cidades da Amazônia Legal e ampliam o narcogarimpo

Levantamento do Fórum de Segurança mostra avanço do Comando Vermelho e PCC, que controlam rotas de drogas, armas e garimpos ilegais na floresta

19 novembro 2025 - 15h45Ítalo Lo Re
Facções dominam mais de um terço da Amazônia Legal e controlam rotas de drogas e garimpos ilegais.
Facções dominam mais de um terço da Amazônia Legal e controlam rotas de drogas e garimpos ilegais. - Foto: Reprodução

Mais de um terço das cidades da Amazônia Legal registram atualmente a presença de facções criminosas, com destaque para o avanço do Comando Vermelho (CV), que já domina 202 municípios da região. A constatação faz parte da quarta edição do relatório Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, durante a COP-30, em Belém (PA).

Canal WhatsApp

Com 286 cidades sob influência — 84 delas em disputa com outras facções —, o CV se consolida como o grupo dominante na floresta amazônica. Fundada há mais de quatro décadas no Rio de Janeiro, a facção ocupa áreas estratégicas de fronteira, como Tabatinga (AM), e atua em sinergia com cartéis de drogas da Colômbia e do Peru, controlando parte das rotas fluviais e terrestres de escoamento de cocaína, armas e minérios ilegais.

“A expansão das facções criminosas constitui um dos principais desafios à segurança pública, à governança territorial e à soberania nacional na Amazônia”, alerta o estudo. Segundo os pesquisadores, esse avanço está associado ao uso estratégico da floresta para a consolidação de rotas do tráfico e à interiorização do crime, fenômeno que conecta áreas isoladas aos grandes centros consumidores nacionais e internacionais.

Narcogarimpo, cocaína e domínio do território - Além do tráfico de drogas, o relatório chama atenção para a conexão entre facções e o garimpo ilegal, prática que deu origem ao termo “narcogarimpo”. O Comando Vermelho atua como verdadeiro “síndico” do garimpo em territórios como a Terra Indígena Sararé, no Mato Grosso, onde impõe controle sobre a extração e cobra taxas de exploração. O local registrou 28,6 km² de desmatamento em 2024.

O CV utiliza embarcações regionais, lanchas rápidas e até “mulas” humanas para escoar drogas por portos como os de Manaus, Belém, Santarém, Macapá e Barcarena. Já o Primeiro Comando da Capital (PCC), hegemônico em São Paulo, aposta nas rotas aéreas clandestinas, aproveitando pistas de pouso em garimpos ilegais e reservas ambientais.

Ao todo, 344 dos 772 municípios da Amazônia Legal (44,6%) têm registro de atuação de facções, com 258 apresentando presença de apenas um grupo e 86 em situação de disputa. É um aumento expressivo em relação à edição anterior do estudo, de 2023, que registrava presença de facções em 178 cidades.

Entre as facções citadas no relatório estão:

Comando Vermelho (CV)

Primeiro Comando da Capital (PCC)

Bonde dos 40 (B40)

Bonde do Maluco (BDM)

Guardiões do Estado (GDE)

Família Terror do Amapá (FTA)

Trem de Aragua (Venezuela)

Ex-FARC Acácio Medina (Colômbia)

Estado Maior Central (Colômbia)

Outros grupos regionais como o Primeiro Comando do Maranhão (PCM), União Criminosa do Amapá (UCA), e Piratas do Solimões também foram mapeados, totalizando 17 facções com atuação direta.

Morte, violência e pressão sobre comunidades indígenas - A presença das facções está diretamente relacionada ao aumento da violência na Amazônia. Em 2024, foram registradas 8.047 mortes violentas intencionais na região, com taxa de 27,3 assassinatos por 100 mil habitantes — 31% acima da média nacional. O Amapá lidera o ranking com 45,1 homicídios por 100 mil.

As disputas por território afetam diretamente comunidades indígenas, muitas vezes usadas como corredores logísticos para o tráfico. A diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno, alerta: “É comum que as facções utilizem populações indígenas e terras indígenas como pontos de passagem ou estrutura para sua logística”.

Além de Mato Grosso, que tem 92 cidades sob influência de facções, o Pará também preocupa, com 91 municípios registrados. O Acre é o único estado amazônico onde todas as cidades apresentam presença de facções.

Após a morte do narcotraficante Jorge Rafaat, em 2016, no Paraguai, o PCC consolidou rotas pela Bolívia e começou a avançar para o eixo do Solimões, disputando espaço com o CV. Hoje, a rivalidade entre os dois grupos estrutura boa parte do mapa da violência na região.

Segundo os pesquisadores, o CV prioriza o domínio do território e oferta de “serviços” — modelo semelhante ao que exerce em favelas do Rio de Janeiro. Já o PCC atua de forma mais discreta, com foco no tráfico internacional em larga escala, controlando pontos estratégicos e rotas para escoamento de grandes cargas de drogas.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop

Deixe seu Comentário

Veja Também

Mais Lidas