
Na semana passada, Porto Murtinho viveu um momento de mobilização pela proteção dos direitos das mulheres, em meio a um cenário que ainda revela as lacunas na luta contra a violência doméstica. A cidade foi palco de uma série de ações organizadas pela Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJMS), que incluiu desde rodas de conversa até reuniões interinstitucionais. O esforço, que aconteceu de 4 a 8 de novembro, fez parte do projeto Juizado Especial Federal Itinerante, uma parceria da Justiça Federal com o Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

A iniciativa atraiu mulheres em situação de vulnerabilidade que vivem na região e buscou mais do que apenas orientar: ofereceu um espaço de escuta, em que cerca de 30 mulheres puderam compartilhar suas histórias e entender melhor as ferramentas que a lei oferece para sua proteção. Em meio a relatos de resistência e frustração com o sistema de apoio, foram abordados temas como a Lei Maria da Penha e os programas #TodosPorElas e ConectaJus Mulher, que oferecem medidas protetivas e acompanhamento jurídico em um clique. A ideia foi dar às mulheres uma nova perspectiva sobre o que significa ter acesso a direitos que, no papel, parecem garantidos.
Um aspecto central do evento foi a presença de diversos profissionais de áreas como saúde, assistência social e segurança pública, todos envolvidos de algum modo no atendimento a mulheres vítimas de violência. No dia 7, um encontro com representantes desses setores revelou um esforço quase heroico da rede de apoio local, que enfrenta dificuldades estruturais para garantir um atendimento contínuo e eficaz. Para a equipe da Coordenadoria da Mulher, esse tipo de diálogo é essencial para entender onde o sistema falha e como a justiça pode ajudar a remediar esses problemas.
“Nós sabíamos da carência desse atendimento, mas estar aqui, no campo, ouvindo diretamente da comunidade e dos profissionais locais, torna as necessidades ainda mais evidentes”, comentou um dos representantes do TJMS. A iniciativa em Porto Murtinho, de acordo com a equipe, é parte de um compromisso que o tribunal assumiu de levar o enfrentamento da violência para além dos grandes centros e de ampliar o acesso das mulheres a um sistema de proteção verdadeiramente acolhedor.
Esse projeto pontual simboliza uma aposta do TJMS em ações que coloquem as mulheres como protagonistas de suas próprias histórias, mas também evidencia um contexto em que o alcance da justiça precisa se renovar constantemente para alcançar quem mais necessita. A esperança, para muitas das mulheres que participaram, é de que a iniciativa não seja apenas mais uma em um cronograma de boas intenções, mas que represente uma mudança real no modo como o sistema se relaciona com aquelas que muitas vezes ficam invisíveis para ele.
