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30 de setembro de 2025 - 17h32
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JUSTIÇA

Corregedor do CNJ quer acabar com juízes 'TQQ' e critica aposentadoria como punição

Ministro Mauro Campbell, do STJ, aponta falhas na fiscalização e diz que jornada reduzida é "absurda" e incompatível com a função pública

30 setembro 2025 - 14h45Juliano Galisi
Corregedor do CNJ, Mauro Campbell, defende fim dos juízes TQQ e critica aposentadoria remunerada como punição
Corregedor do CNJ, Mauro Campbell, defende fim dos juízes "TQQ" e critica aposentadoria remunerada como punição - Foto: Luiz Silveira/Agencia CNJ
Terça da Carne

O corregedor nacional de Justiça e ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell, afirmou que vai intensificar as ações para acabar com o que chama de “juízes TQQ” — magistrados que atuam apenas às terças, quartas e quintas-feiras, em descumprimento à carga horária prevista na legislação. O termo é usado para descrever magistrados que, muitas vezes, sequer residem nas comarcas onde trabalham, especialmente em regiões afastadas, e concentram suas atividades em apenas três dias da semana.

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“Não me conformo com isso. É um absurdo”, afirmou o ministro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo ele, o regime informal "TQQ" afronta os princípios da moralidade e da eficiência no serviço público.

Punições brandas e aposentadoria como ‘prêmio’

Campbell também fez críticas duras à Lei Orgânica da Magistratura (Loman), que regula a conduta dos juízes no Brasil. Ele classificou como “prêmio” a aposentadoria compulsória com vencimentos integrais, aplicada a magistrados condenados por desvios graves, como fraudes ou corrupção.

“O que seria uma punição passa a ser um prêmio”, disse o ministro, referindo-se ao fato de que, mesmo afastados da função por má conduta, os juízes continuam a receber parte significativa de seus salários com base no tempo de contribuição e nos maiores vencimentos da carreira.

Segundo levantamento do Estadão, a aposentadoria compulsória custa cerca de R$ 60 milhões por ano aos cofres públicos e não guarda relação com os critérios aplicados pela Previdência Social aos demais trabalhadores, o que aprofunda a percepção de desigualdade e impunidade.

Histórico da prática e resistência

A existência de juízes “TQQ” foi detectada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2008, quando a Corregedoria identificou que diversos magistrados concentravam suas atividades apenas em três dias úteis, por não residirem nas comarcas onde atuavam.

Desde então, diferentes presidentes e corregedores do CNJ prometeram coibir a prática, mas as ações esbarram em resistência institucional e em pressões de entidades representativas da magistratura.

“Houve um julgamento de um TQQ no CNJ. Mas, para se chegar a esse julgamento, o relator quase apanhou. Associações de classe quase deram nele”, relatou Campbell, ao reforçar o desafio que é enfrentar a estrutura corporativista que resiste a mudanças na carreira.

Impacto na imagem do Judiciário

O modelo de punição criticado por Campbell, somado à jornada irregular dos “TQQs”, tem repercutido negativamente na imagem do Judiciário. Em sua crítica, o ministro reforça que o país precisa de juízes comprometidos com a função pública, especialmente em tempos de descrédito das instituições.

“Imagine, juízes ganhando uma fábula se comparar com um trabalhador comum e ainda por cima não querem residir na comarca. Faça-me o favor”, disparou.

Propostas e próximos passos

A intenção de Mauro Campbell é propor revisões na Loman, de modo a tornar as punições mais severas e adequadas à conduta dos magistrados. O corregedor também deve apresentar diretrizes mais rígidas de controle de frequência e atuação presencial dos juízes, com foco especial em comarcas do interior e regiões com menor fiscalização.

A revisão da Loman, porém, depende do Congresso Nacional, que é responsável por alterar a legislação. Campbell defende que essa discussão seja enfrentada de forma séria e transparente, com o objetivo de reconquistar a confiança da sociedade.

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