A Justiça do Rio de Janeiro decidiu revogar o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) aplicado ao bicheiro Rogério Andrade, preso desde novembro do ano passado em uma penitenciária federal de segurança máxima em Campo Grande (MS). Com a decisão, ele deverá ser transferido de volta ao sistema prisional do Rio de Janeiro, onde passará a cumprir a custódia cautelar.
A determinação é da 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. O relator do processo, desembargador Marcius da Costa Ferreira, afirmou que o RDD — considerado uma medida excepcional — só deve ser aplicado quando houver real e comprovada necessidade. Para o magistrado, esse não é o caso de Rogério.
“O custodiado não apresenta perfil compatível aos critérios do sistema penitenciário federal, evidenciando a existência de constrangimento ilegal. Determino a transferência do paciente para o sistema prisional do estado do Rio para cumprimento da custódia cautelar”, escreveu o relator.
Embora tenha afastado o RDD, o desembargador reforçou que a prisão preventiva continua válida e fundamentada. Ele destacou que as investigações seguem em andamento e que permanecem “riscos concretos à ordem pública e à instrução criminal”.
Quem é Rogério Andrade - Rogério Andrade é sobrinho de Castor de Andrade, morto em 1997, um dos nomes mais conhecidos do jogo do bicho no Rio de Janeiro e patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. A morte de Castor deu início a uma disputa familiar que envolveu Paulinho de Andrade, filho do bicheiro, assassinado em 1998 — crime atribuído a Rogério — e também Fernando Iggnácio, outro integrante da família, morto anos depois.
Essa disputa marcou uma das fases mais violentas do jogo do bicho no Rio, influenciada tanto por rivalidades internas quanto por conflitos pelo controle das estruturas do jogo ilegal na cidade.
Rogério Andrade foi preso novamente em outubro de 2024, apontado como mandante do assassinato de Fernando Iggnácio, ocorrido em 2020.
O crime aconteceu no estacionamento de um heliporto no Recreio dos Bandeirantes. Iggnácio havia acabado de desembarcar de helicóptero após retornar de Angra dos Reis. Ele foi surpreendido por disparos de fuzil feitos por um atirador escondido em um terreno baldio ao lado do heliporto. Três tiros o atingiram — um deles na cabeça — causando morte imediata.
A execução reforçou a tensão histórica envolvendo as facções familiares ligadas ao jogo do bicho no Rio. A operação que prendeu Rogério em 2024 também teve como objetivo impedir novas ações violentas decorrentes desse conflito.
A revogação do RDD não altera o curso das investigações sobre o homicídio de Iggnácio nem reduz o peso das acusações contra Rogério. A mudança apenas retira o réu do regime mais rígido do sistema penitenciário federal, onde presos ficam em isolamento quase total e com limitações severas de convivência.
Com o retorno ao Rio, Rogério deve ser encaminhado a uma unidade prisional compatível com sua classificação de segurança, ainda sob prisão preventiva. A Justiça reforça que a medida não interfere no mérito do processo, mas apenas no local em que o acusado aguardará os desdobramentos do caso.
