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24 de dezembro de 2025 - 15h58
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NATAL

Viagens longas e saudade marcam a rotina de quem cruza o país para o Natal

Histórias em rodoviárias revelam o esforço de brasileiros para manter o encontro familiar na principal data do ano

24 dezembro 2025 - 14h05
Movimento intenso na rodoviária reflete a busca de brasileiros por reencontros familiares no Natal.
Movimento intenso na rodoviária reflete a busca de brasileiros por reencontros familiares no Natal. - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

A travessia começa antes mesmo do embarque. Entre filas, cadeiras ocupadas e malas organizadas com cuidado, a diarista Maria dos Navegantes, de 51 anos, aguardava na rodoviária de Brasília (DF) o início de uma viagem de mais de 700 quilômetros até Frutal (MG). Moradora de Valparaíso de Goiás (GO), ela tinha dois desafios imediatos: conter a ansiedade e acomodar duas caixas e três malas no bagageiro do ônibus.

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O destino tinha motivo certo. Maria passaria o Natal ao lado da filha Gabriela, de 26 anos, e das netas Eloá, de 5, e Isabela, de 3, após um ano sem se verem. O custo da viagem — mais de R$ 1 mil em passagens de ida e volta — impede visitas frequentes ao longo do ano, mas não anulou o desejo de estar presente na data mais simbólica para a família.

“Nas minhas caixas, o que mais tem são presentes que eu fui comprando ao longo do ano. Não vejo a hora de abraçá-las. Esse é o meu presente de Natal”, contou, enquanto calculava as horas que faltavam para rever as meninas.

O movimento intenso em terminais rodoviários no fim de ano reflete mais do que deslocamentos. Segundo levantamento do Instituto Locomotiva, o Natal é a principal data de encontro familiar no Brasil. A pesquisa aponta que 61% dos brasileiros dizem estar sempre com a família nessa ocasião, enquanto 32% afirmam que isso acontece às vezes.

O estudo, realizado com mais de 4 mil pessoas acima de 18 anos, indica ainda que as mulheres participam mais desses encontros: 65% relatam presença frequente em reuniões familiares mensais, contra 58% dos homens. Para 68% dos entrevistados, rituais familiares e datas comemorativas são importantes, e 75% afirmam que a felicidade só é completa quando compartilhada com quem se ama.

O valor simbólico da data levou a família da pedagoga Laíssa Macedo, de 26 anos, a antecipar a ceia de Natal para o dia 21 de dezembro. Moradora de Brasília, ela decidiu passar o período natalino longe de casa, participando de uma ação missionária social em Conceição da Paraíba, a quase 2 mil quilômetros de distância.

Laíssa vai atuar na entrega de materiais escolares e itens de higiene a comunidades em situação de vulnerabilidade. “Será um Natal diferente. Minha família sentiu, mas entendeu. Só volto no final de janeiro”, explicou.

Na mesma missão, a cuidadora de idosos Rosiane Martins, de 23 anos, também se despediu dos seis irmãos antes da viagem. “Pensamos que podemos ter uma ceia diferente e criar laços de família com pessoas que ainda não conhecemos”, disse.

Apesar do desejo de reunir todos, a distância ainda é uma barreira para muitas famílias. A pesquisa do Instituto Locomotiva revela que 65% dos brasileiros passam menos tempo com a família do que gostariam e que nove em cada dez pessoas têm parentes que moram longe.

Na rodoviária de Brasília, a agricultora Adelina Maria de Jesus, de 67 anos, não escondia a emoção ao falar da dificuldade de reunir os quatro filhos no Natal. Com renda mensal de um salário mínimo, ela e o marido vivem em um assentamento rural em Rubiataba (GO), a mais de 400 quilômetros da capital. Os filhos estão espalhados por diferentes regiões do país em busca de trabalho.

“Tenho esperança de que um dia vamos ter dinheiro para nos reunir de verdade. Esse seria meu sonho de Natal”, afirmou. Segundo ela, a família não passa um Natal completa há mais de 15 anos.

O reencontro também é o que motiva a diarista Joselita da Conceição, de 51 anos, que viajava com a filha Josielle e dois netos rumo a Ituberá (BA). A expectativa não era apenas pela ceia, mas pelas 19 horas de viagem de ônibus até rever o mar e reunir uma família numerosa.

“Quero que meus filhos convivam com os primos. No fim do ano, é tempo para isso”, contou. A ceia reunirá cerca de 30 parentes, muitos deles vistos apenas nessa época. “Já são 15 anos trabalhando longe, mas no Natal o mar e a família nos esperam”, disse, sorrindo.

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