
Na próxima quarta-feira (30), um auditório na Vila Santo Amaro, em Campo Grande, vai se encher de vozes com sotaques de várias partes do mundo. Venezuelanos, haitianos, bolivianos, cubanos e tantos outros migrantes vão receber, das mãos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), um pedaço de papel que vale mais do que o próprio certificado: o sinal de que a vida recomeça.

O programa UEMS Acolhe existe desde 2017. De lá para cá, já ajudou mais de 4 mil estrangeiros a aprender português, entender como a burocracia brasileira funciona e encontrar um caminho para se sentir em casa. Só neste ano, 381 pessoas serão reconhecidas – 246 alunos que concluíram o curso e 135 voluntários que deram apoio à iniciativa. O documento não serve apenas para guardar em uma gaveta: pode ser usado para processos de naturalização e facilita a busca por trabalho.
As cerimônias vão se espalhar por diferentes cidades do estado: Campo Grande (30/07), Dourados (03/08), Nova Andradina (05/08) e Corumbá (13/08). Ainda há alunos que acompanharam as aulas em Cassilândia e até pela internet. O curso tem 60 horas de duração, é totalmente gratuito e acontece ao longo de 15 semanas.
Para o professor João Fábio Sanches Silva, coordenador do programa, cada certificado representa muito mais do que o fim de um curso. “Parabenizamos todos os formandos por encarar essa jornada de aprendizado e de inserção social. Estamos de portas abertas para novos alunos que queiram continuar estudando”, diz.

Entre os formandos, há mulheres que fugiram da fome na Venezuela, jovens haitianos que chegaram após o terremoto, famílias bolivianas em busca de melhores oportunidades. São 28 nacionalidades, 57% de mulheres, um terço entre 25 e 34 anos. Alguns não chegaram a terminar o ensino médio, outros já têm diploma universitário – mas todos compartilham a mesma dificuldade: sem falar português, a vida no Brasil se torna um labirinto.
“Oferecer aulas e apoio humanitário é parte do papel social da universidade”, explica Érika Kaneta Ferri, pró-reitora de extensão. “O UEMS Acolhe é singular por oferecer acolhimento linguístico, humanitário e educacional, promovendo inclusão e transformação social.”
Em 2024, a experiência foi reconhecida pelo Tribunal de Contas da União como uma das boas práticas nacionais para atender refugiados. A credibilidade do projeto fez com que ele fosse incluído em ações conjuntas com a Polícia Federal e a Receita Federal para ajudar migrantes a obter ou renovar o Registro Nacional Migratório (RNM) e o CPF – dois documentos que costumam ser um desafio para quem acaba de chegar ao país.
Para o reitor da UEMS, Laércio de Carvalho, a universidade tem ampliado seu papel na sociedade. “O trabalho dos voluntários oferece dignidade e um leque ampliado de oportunidades, incluindo inserção no mercado de trabalho e integração com a população local”, diz.
