
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebe neste domingo, 28, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, em Mar-a-Lago, na Flórida, para uma reunião considerada decisiva nas negociações que buscam encerrar a guerra iniciada após a invasão russa ao território ucraniano, em fevereiro de 2022. O encontro ocorre em um momento de aumento da pressão militar da Rússia sobre Kiev e de avanços nos rascunhos de um possível acordo de paz.
A reunião acontece no clube privado de Trump em Palm Beach, onde o presidente norte-americano passa o período de férias. De acordo com Zelenski, a pauta inclui temas sensíveis como garantias de segurança, acordos econômicos e disputas territoriais, especialmente sobre a região de Donbass, no leste da Ucrânia, área central do conflito e ainda sob forte divergência entre Kiev e Moscou.
Nos dias que antecederam o encontro, a Rússia intensificou ataques com mísseis e drones contra a capital ucraniana. A escalada militar é vista por autoridades ucranianas como uma tentativa de ampliar a pressão política às vésperas das negociações.
Em publicação feita no sábado, 27, na rede X, Zelenski afirmou que o país está disposto a buscar o fim do conflito, mas ressaltou a necessidade de firmeza nas tratativas. “A Ucrânia está disposta a fazer o que for necessário para parar esta guerra. Precisamos ser fortes na mesa de negociações”, escreveu.
Ele também reagiu aos bombardeios recentes, afirmando que a Ucrânia busca a paz enquanto a Rússia mantém ações militares. Segundo o presidente ucraniano, o apoio conjunto da Europa e dos Estados Unidos é fundamental para conter o presidente russo, Vladimir Putin.
Apoio internacional e recursos para reconstrução
Antes de viajar para os Estados Unidos, Zelenski participou de uma reunião com o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, em Halifax, no sábado, 27. No encontro, Carney anunciou um novo pacote de ajuda econômica de 2,5 bilhões de dólares canadenses, o equivalente a cerca de 1,8 bilhão de dólares americanos, destinado à reconstrução da Ucrânia.
Ao comentar os recentes ataques russos a Kiev, Carney classificou as ações como “barbárie” e afirmou que tanto Zelenski quanto Trump têm papel importante na criação de condições para uma “paz justa e duradoura”, em um momento considerado crucial para o futuro do conflito.
Avanços nas negociações de paz
A reunião entre Trump e Zelenski também sinaliza avanços no trabalho conduzido pelos negociadores norte-americanos nas últimas semanas. Segundo o presidente ucraniano, um rascunho de proposta com cerca de 20 pontos já estaria aproximadamente 90% concluído. A informação foi dada a jornalistas na sexta-feira, 26, e coincide com avaliações otimistas feitas por autoridades dos Estados Unidos após encontros realizados em Berlim no início do mês.
Durante as negociações, os Estados Unidos concordaram em oferecer à Ucrânia garantias de segurança semelhantes às concedidas a países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A proposta surgiu após Zelenski indicar disposição para abrir mão da candidatura formal da Ucrânia à aliança militar, desde que o país receba proteção equivalente contra possíveis ataques futuros da Rússia.
Segundo fontes próximas às tratativas, o objetivo é estabelecer um mecanismo que reduza o risco de novos confrontos armados após um eventual acordo de cessar-fogo.
Questões pendentes e semanas decisivas
Zelenski afirmou que ainda existem pontos sem consenso entre Kiev e Washington. Entre eles estão as disputas territoriais, o futuro da usina nuclear de Zaporizhia e o financiamento necessário para a recuperação do país no período pós-guerra. Também permanecem pendências técnicas relacionadas às garantias de segurança e aos mecanismos de monitoramento internacional.
Na semana passada, o presidente ucraniano declarou que sua equipe já transmitiu a posição oficial da Ucrânia aos Estados Unidos e que representantes do governo Trump fariam o mesmo junto à Rússia.
Zelenski também revelou estar disposto a retirar tropas do coração industrial do leste da Ucrânia como parte de um plano de encerramento do conflito, desde que a Rússia faça o mesmo. A proposta prevê a criação de uma zona desmilitarizada, supervisionada por forças internacionais.
Contato entre Rússia e Estados Unidos
O Kremlin confirmou que mantém diálogo com os Estados Unidos sobre o tema. Na sexta-feira, 26, o porta-voz Dmitry Peskov afirmou que houve contato entre as partes e que ficou acertada a continuidade das conversas.
“Foi acordado continuar o diálogo”, disse Peskov a jornalistas, sem entrar em detalhes sobre os termos discutidos.
Enquanto isso, Trump segue empenhado em tentar encerrar a guerra durante seu primeiro ano de mandato. O presidente norte-americano já reconheceu publicamente as dificuldades de alcançar um acordo, em contraste com declarações feitas durante a campanha eleitoral de 2024, quando afirmava ser possível resolver o conflito em curto prazo.
Antes da reunião deste domingo, Zelenski avaliou que as próximas semanas tendem a ser intensas. Em publicações recentes, afirmou que ainda há questões delicadas a serem resolvidas e que o desfecho dependerá do grau de pressão internacional sobre Moscou e do apoio contínuo à Ucrânia.

