
Em meio à tensão comercial com a China, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que está elaborando um pacote de ajuda financeira para os produtores de soja americanos. A medida busca minimizar os impactos do boicote chinês às importações da oleaginosa dos EUA, que continua mesmo enquanto as negociações por um novo acordo seguem em andamento.

A informação foi confirmada pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, que afirmou à CNBC que os detalhes do pacote devem ser divulgados na próxima terça-feira (7). Ainda não se sabe o valor ou as condições da ajuda emergencial.
A China era o maior comprador da soja americana, mas deixou de adquirir o produto desde maio, em resposta direta às tarifas impostas por Trump durante sua gestão. Com a nova temporada de colheita já iniciada nos EUA, os agricultores estão preocupados com o prazo cada vez mais curto para escoar a produção ao principal cliente internacional.
“Os agricultores de soja do nosso país estão sendo prejudicados porque a China, por razões de ‘negociação’ apenas, não está comprando”, escreveu Trump em publicação na rede Truth Social. “Ganhamos tanto dinheiro com tarifas que vamos pegar uma pequena parte desse dinheiro e ajudar nossos agricultores.”
Trump afirmou ainda que a soja será tema central de sua próxima reunião com o presidente da China, Xi Jinping, marcada para daqui a quatro semanas.
Agricultores pressionados por custos e incertezas - Para o presidente da American Soybean Association, Caleb Ragland, a sinalização de apoio é bem-vinda, mas exige medidas urgentes. “Os produtores já enfrentavam custos altos e preços baixos antes mesmo da guerra comercial. Agora, perderam seu maior cliente”, explicou.
Ragland alertou que a janela de negociação está se fechando rapidamente. A China já contratou volumes significativos de soja do Brasil e da Argentina, com entregas previstas até dezembro. Sem acordo, Pequim pode simplesmente ignorar os grãos dos EUA nesta temporada.
Atualmente, a soja representa cerca de 14% das exportações agrícolas dos Estados Unidos. No ano comercial de 2022-2023, o país produziu US$ 60,7 bilhões em soja, sendo pouco mais da metade destinada ao mercado externo, segundo a associação de produtores.
Acordo de soja pode ser caminho mais viável - Apesar das divergências, analistas apontam que um acordo envolvendo a soja é uma solução “rápida e fácil” para destravar as negociações. A China impõe atualmente uma tarifa de 20% sobre os grãos dos EUA, em resposta às taxas americanas sobre produtos chineses — incluindo retaliações por questões relacionadas à entrada de precursores do fentanil no país.
Gabriel Wildau, diretor da consultoria Teneo, avalia que a retirada das barreiras comerciais à soja pode ser uma concessão simples. “A China precisa dos grãos, e os EUA têm para vender. Custaria pouco à China reverter para os fornecedores americanos.”
Enquanto isso, o mercado observa com atenção os próximos passos da Casa Branca, que ainda não indicou se recuará nas tarifas sobre o fentanil — ponto-chave para qualquer avanço nas negociações comerciais com Pequim.
