
Mais de 2.200 pessoas morreram após um forte terremoto atingir a região montanhosa do leste do Afeganistão, no último domingo (31), segundo atualização divulgada nesta quinta-feira (4) pelo governo do Taleban. O tremor, de magnitude 6, devastou vilarejos inteiros na província de Kunar, uma das mais atingidas, onde a maioria das construções é feita com madeira e tijolos de barro.

O porta-voz do Taleban, Hamdullah Fitrat, informou que os esforços de busca e resgate continuam, mas o terreno acidentado, deslizamentos de terra e a precariedade da infraestrutura dificultam o trabalho das equipes de socorro. Estima-se que 98% dos prédios da província tenham sido danificados ou destruídos, de acordo com relatório da organização Islamic Relief.
"É impossível viver lá"
Em meio aos escombros, milhares de famílias enfrentam não apenas a dor da perda, mas também a insegurança e o desespero por abrigo e assistência. Muhammad Israel, morador de um dos vilarejos destruídos, relatou que o terremoto soterrou sua casa e seu gado.
“Mal consegui tirar meus filhos de lá. Os tremores continuam acontecendo. É impossível viver lá”, disse ele. A família agora está refugiada em um acampamento médico montado pela ONU no distrito de Nurgal, um dos mais afetados.
“O problema é que também estamos sem abrigo aqui. Estamos vivendo a céu aberto”, completou.
Resposta limitada e déficit de recursos
As autoridades locais montaram tendas e iniciaram a distribuição de suprimentos emergenciais, mas a resposta humanitária está longe de atender à demanda. Cortes de financiamento e a falta de infraestrutura logística agravam a crise.
O Conselho Norueguês para Refugiados afirmou que sua equipe no Afeganistão foi reduzida de 1.100 funcionários, em 2023, para menos de 450 atualmente. A organização disse dispor de apenas US$ 100 mil em caixa, com um déficit imediato de US$ 1,9 milhão para a resposta emergencial.
“Precisaremos comprar itens assim que recebermos financiamento, mas isso pode levar semanas, e as pessoas estão passando por dificuldades agora”, alertou Maisam Shafiey, consultora do conselho.
“Elas precisam de tudo”
No campo da ONU em Nurgal, o médico Shamshair Khan descreveu uma realidade devastadora. “Nem esses remédios nem esses serviços são suficientes. Essas pessoas precisam de mais remédios, mais tendas. Elas precisam de comida e água potável. Estão sofrendo muito”, desabafou.
A situação se soma a um cenário já frágil: o país enfrenta seca severa, crise econômica e o retorno recente de cerca de 2 milhões de afegãos deportados de países vizinhos.
Enquanto helicópteros e equipes de resgate tentam alcançar os vilarejos isolados, trabalhadores humanitários relatam que precisam caminhar por horas em meio a escombros e encostas instáveis para prestar atendimento às vítimas.
A comunidade internacional tem sido convocada a ampliar a ajuda, mas a resposta ainda é tímida diante da escala da tragédia.
