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26 de novembro de 2025 - 23h20
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EDUCAÇÃO E DESIGUALDADE

Taxa de analfabetismo entre idosos negros ainda é mais que o dobro da de brancos

Estudo do Cedra mostra que, apesar da queda nas taxas gerais, desigualdade racial na alfabetização persiste

25 novembro 2025 - 17h05
Estudo mostra que idosos negros ainda enfrentam alta taxa de analfabetismo no Brasil, apesar dos avanços
Estudo mostra que idosos negros ainda enfrentam alta taxa de analfabetismo no Brasil, apesar dos avanços - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Mesmo com avanços significativos na redução do analfabetismo no Brasil, as desigualdades raciais ainda marcam fortemente o acesso à educação. Um levantamento realizado pelo Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), com base nos dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mostra que o índice de analfabetismo entre idosos negros (60 anos ou mais) continua sendo mais do que o dobro do verificado entre os brancos.

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Em 2012, a taxa de analfabetismo entre idosos negros era de 36,0%, enquanto entre os brancos era de 15,4%. Já em 2023, as taxas caíram para 22,1% e 8,7%, respectivamente. Embora a diferença entre os dois grupos tenha diminuído de 20,6 para 13,4 pontos percentuais, a distância ainda é expressiva.

Para Marcelo Tragtenberg, membro do conselho deliberativo do Cedra, o cenário exige atenção. "Houve melhora, mas não sabemos se é por motivo geracional, se os novos idosos estão mais escolarizados ou pelo processo de urbanização. Para isso, seria importante uma busca ativa para matrículas em Educação de Jovens e Adultos (EJA) e até uma política de incentivos, como o programa Pé de Meia, mas voltada para a população mais velha que não chegou aos níveis básicos de escolaridade", afirmou.

Jovens avançam, mas desigualdade ainda existe - Entre os jovens (15 a 17 anos), o estudo revela um quadro mais positivo. A taxa de analfabetismo dos negros caiu de 2,4% em 2012 para 0,9% em 2023. Já entre os brancos, passou de 1,1% para 0,6%. A diferença, que era de 1,3 ponto percentual, caiu para 0,3 p.p. uma melhora mais acentuada entre os jovens negros.

Na faixa etária de 25 a 29 anos, as taxas também apresentaram redução: entre homens negros, o índice caiu de 2,8% para 1,3%; entre homens brancos, foi de 1,3% para 0,7%. Já entre mulheres negras, a queda foi de 1,3% para 0,7%, e entre mulheres brancas, de 0,7% para 0,3%.

Diferenças persistem entre adultos - Na população de 30 a 39 anos, o estudo aponta que, em 2012, a taxa de analfabetismo era de 7,0% para negros e 2,5% para brancos. Em 2023, os números caíram para 2,2% e 1,1%, respectivamente. Ainda assim, pessoas negras desta faixa etária hoje enfrentam índices próximos aos de brancos há mais de uma década.

O levantamento também mostra que a taxa de analfabetismo entre mulheres negras com mais de 15 anos era de 10,8% em 2012, ante 5,1% entre as mulheres brancas. Em 2023, os percentuais caíram para 6,6% e 3,3%, respectivamente diferença que, embora menor, continua expressiva.

Já entre os homens negros com mais de 15 anos, a taxa caiu de 11,5% para 7,4% no período analisado. Entre os brancos, a redução foi de 4,8% para 3,4%. Ou seja, mesmo com a queda nos índices gerais, a desigualdade entre os grupos permanece evidente.

Reflexo de desigualdades históricas - A pesquisa do Cedra evidencia que, embora o país tenha avançado na alfabetização nos últimos anos, as desigualdades raciais seguem estruturando o acesso ao direito básico à educação. Especialistas apontam que os altos índices de analfabetismo entre a população negra mais velha são reflexo de décadas de exclusão educacional, especialmente durante os períodos em que políticas públicas eram inexistentes ou ineficazes para garantir acesso universal à escola.

Segundo Tragtenberg, é preciso que o poder público atue com políticas específicas para enfrentar essas desigualdades. Ele defende a criação de programas voltados à alfabetização de idosos negros, com estímulos que considerem as dificuldades de mobilidade, renda e acesso a equipamentos públicos.

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