
Em 2024, o hábito de adotar o sobrenome do marido nos casamentos em Mato Grosso do Sul atingiu seu menor patamar. Só 34,2% das mulheres fizeram essa mudança no registro civil. O dado foi divulgado pela Arpen/MS, associação que reúne os cartórios do estado. O levantamento considera os 303.612 casamentos realizados entre janeiro e outubro.
Na prática, isso significa que, entre os mais de 300 mil matrimônios registrados, apenas 5.206 mulheres decidiram incluir o sobrenome do cônjuge no nome. Vinte anos atrás, o cenário era outro. Em 2003, 74,7% das noivas mudaram de nome. O número total de casamentos naquele ano foi de 8.793, e 4.987 mulheres seguiram o padrão tradicional. Hoje, mesmo com um número muito maior de uniões, a escolha caiu quase pela metade.
O que esses números mostram é uma mudança de comportamento. O diretor da Arpen/MS, Lucas Zamperlini, explicou que manter o nome original virou uma escolha mais consciente. Segundo ele, casais têm discutido mais sobre identidade, igualdade e independência antes de assinar os papéis.
O Código Civil de 2002 abriu a possibilidade de que homens também adotem o sobrenome da esposa. Mas isso ainda é raro. Em 2024, só 0,49% dos maridos optaram por essa mudança. Foram 146 casos ao todo. Vinte anos atrás, em 2003, apenas 86 homens tinham feito o mesmo.
A opção que mais cresce entre os casais é a de não alterar nenhum nome. Em 2024, 50,4% das uniões seguiram esse caminho. Isso representa 7.686 casamentos em que cada pessoa manteve o próprio nome de solteiro. Em 2003, essa taxa era de apenas 14,5%, com 971 registros no estado.
Outro modelo que vem ganhando força é o da inclusão de sobrenomes por ambos os cônjuges. Em 2003, esse tipo de escolha aparecia em 9,94% das uniões, com 663 casos. Já em 2024, o número chegou a 18,2%, totalizando 2.767 registros.
As mudanças na lei também facilitaram as decisões. A Lei Federal nº 14.382, sancionada em 2022, permite incluir sobrenomes familiares a qualquer tempo, desde que o vínculo seja comprovado. A norma também simplifica as alterações após casamento ou divórcio. Filhos podem atualizar o nome quando os pais mudam o próprio registro.
O que antes era automático, agora virou decisão pessoal. E a decisão mais comum tem sido a de não mudar. Um hábito novo que começa a se firmar em todo o estado, longe do peso dos costumes de outros tempos. Nos cartórios de Mato Grosso do Sul, o nome no papel virou espelho da autonomia.

