
O Mato Grosso do Sul recebe, a partir desta semana, uma oficina técnica e uma base temporária da Defesa Civil Nacional para enfrentar os efeitos da seca no Pantanal. A ação faz parte do Plano Nacional de Enfrentamento à Estiagem Amazônica e Pantanal (PNEAP/2025), lançado pelo governo federal como resposta à pior crise hídrica dos últimos anos na região.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que 17% do bioma já foi atingido por queimadas em 2024, o equivalente a 2,6 milhões de hectares. Um levantamento do MapBiomas aponta ainda uma queda de 61% na área alagada do Pantanal em relação à média histórica.
Ações coordenadas - As oficinas, que ocorrerão em Campo Grande, têm o objetivo de alinhar medidas locais com as estratégias federais. “Como se trata de um plano nacional, essa etapa das oficinas é muito importante para que o planejamento dos órgãos federais tenha conexão com a realidade local”, afirma Rafael Félix, coordenador-geral de Gerenciamento de Desastres da Defesa Civil Nacional.
Além de Mato Grosso do Sul, nove estados da Amazônia Legal também vão receber oficinas e bases temporárias: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. No Pará serão duas bases; no Amazonas, três. As estruturas serão instaladas em prédios públicos já existentes.
A missão será conduzida por técnicos da Defesa Civil Nacional, integrantes do Sistema Federal de Proteção e Defesa Civil (SIFPDEC), com experiência em articulação interinstitucional.
Prevenção e logística - O PNEAP prevê ações preventivas em vez de respostas emergenciais tardias. Um dos objetivos centrais é antecipar o envio de insumos essenciais por via fluvial, antes do colapso dos rios, evitando o uso de transporte aéreo, mais caro e limitado.
“Nos últimos anos, comunidades só puderam ser atendidas por via aérea, o que encareceu as ações. Com o PNEAP, conseguimos antecipar a entrega por via fluvial, garantindo abastecimento e economia”, diz Félix.
O plano articula diversos setores — como saúde, assistência social, meio ambiente e defesa civil — e se baseia no Plano de Ação Integrada (PAI). Entre os eixos de atuação estão:
- Monitoramento: acompanhamento hidrológico e meteorológico para identificar áreas de risco;
- Assistência humanitária: apoio emergencial às populações afetadas;
- Logística: transporte e armazenamento antecipado de insumos;
- Proteção e saúde: fornecimento de materiais médicos e estratégias de atendimento em comunidades isoladas;
- Governança: coordenação entre órgãos públicos e comunicação integrada.
Bioma sob pressão - Desde 2018, o Pantanal enfrenta secas prolongadas, agravadas por eventos climáticos extremos e aumento das temperaturas. A vegetação seca funciona como combustível para as queimadas, cuja propagação tem sido cada vez mais rápida e intensa.
“A seca extrema em 2024 intensificou a ocorrência e a propagação de incêndios”, diz Eduardo Rosa, da equipe MapBiomas Água.
Com biodiversidade única e importância ambiental global, o Pantanal tem sofrido pressão crescente. O desafio do PNEAP é unir forças locais, estaduais e federais para responder de forma articulada aos impactos da estiagem — e evitar um colapso ambiental e humanitário.
