TCE
SEGURANÇA DAS MULHERES

'Protege' reúne educação, segurança e IA no combate à violência contra a mulher em MS

Programa estadual aposta em ações integradas e tecnologia para garantir proteção e acesso a serviços até nos municípios mais distantes

7 agosto 2025 - 16h40Iury de Oliveira, Jamille Gomes e Douglas Vieira
Secretários apresentam o programa estadual que usa IA e ações integradas para enfrentar a violência contra a mulher em MS.
Secretários apresentam o programa estadual que usa IA e ações integradas para enfrentar a violência contra a mulher em MS. - (Foto: Jamille Gomes)

O Governo de Mato Grosso do Sul lançou oficialmente, nesta quinta-feira (7), o Protege, um programa estadual permanente e intersetorial voltado ao enfrentamento da violência contra a mulher. A iniciativa, anunciada em coletiva na Governadoria, reúne secretarias de diferentes áreas e traz como uma de suas inovações o uso de inteligência artificial para ampliar o acesso à rede de proteção no estado.

Canal WhatsApp

Um dos principais destaques da nova política pública é a criação da Vitória, uma assistente virtual baseada em IA que funcionará via WhatsApp, desenvolvida para atender mulheres vítimas de violência, especialmente aquelas que vivem em regiões mais remotas. “A Vitória vai facilitar o acesso à informação e aos serviços públicos. Ela mostrará onde buscar ajuda em qualquer cidade do estado, inclusive com links diretos, por exemplo, para pesquisar antecedentes do agressor”, explicou a secretária de Cidadania, Viviane Luiza.

A ferramenta está em fase final de testes e será apresentada oficialmente no dia 27 de agosto, durante o encerramento da campanha Agosto Lilás. “Queremos garantir que, ao entregarmos esse serviço à população, ele funcione plenamente e represente mais uma política pública real a favor das mulheres sul-mato-grossenses”, acrescentou Viviane.

A secretária de Cidadania, Viviane Luiza A secretária de Cidadania, Viviane Luiza (Foto: Jamille Gomes)

O Protege surge como resposta direta ao caso de Vanessa, vítima de feminicídio que gerou grande comoção e acendeu um alerta sobre as falhas nas estruturas de atendimento à mulher no estado. “Esse é um marco triste que escancarou a necessidade de mudanças urgentes. O Protege simboliza essas mudanças com ações efetivas e ferramentas que já estão sendo implementadas”, afirmou o governador em exercício José Carlos Barbosa, o Barbosinha.

Barbosinha destacou que o programa atua em duas frentes: repressiva, por meio da segurança pública, e preventiva, com foco na educação, saúde, assistência social e cidadania. “Se não trabalharmos as causas estruturantes do machismo, vamos continuar enxugando gelo. A segurança pública sozinha não resolve”, disse.

O governador em exercício José Carlos Barbosa, o BarbosinhaO governador em exercício José Carlos Barbosa, o Barbosinha (Foto: Jamille Gomes)

A Secretaria de Educação também está envolvida no programa com ações voltadas à formação dos jovens. Um dos projetos já programados é o Trilhas Formativas, que mobilizará grêmios estudantis para discutir temas ligados à violência de gênero.

“A escola pode ser a única referência adequada para muitos jovens. A ideia é horizontalizar o debate e trabalhar o tema de forma transversal no currículo, criando um ambiente que estimule a mudança cultural”, explicou o secretário de Educação, Hélio Daher. Entre os produtos previstos está a produção de um e-book com boas práticas desenvolvidas nas escolas.

O Protege prevê ainda o fortalecimento da rede de acolhimento e proteção, incluindo iniciativas já em andamento, como o programa Recomeços, que oferece apoio financeiro a mulheres abrigadas vítimas de violência. Segundo a secretária Patrícia Cozzolino (Sead), as beneficiárias recebem um salário mínimo por até um ano, além de R$ 6 mil para mobiliar suas novas casas, garantindo condições mínimas de autonomia.

A secretária Patrícia Cozzolino (Sead)A secretária Patrícia Cozzolino (Sead) (Foto: Jamille Gomes)

“Também criamos um incentivo extra de R$ 300 para mulheres que retornam aos estudos formais. É uma política de reestruturação de vida para que essas mulheres não fiquem presas a ciclos de violência por falta de oportunidades”, detalhou Cozzolino.

Outro ponto importante é a qualificação dos atendentes. “Capacitação não pode ser algo pontual. Ela precisa ser constante. O primeiro contato na delegacia é decisivo, e o policial precisa entender a importância da escuta acolhedora”, reforçou o secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira.

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira passou por adaptações, como a criação de cabines de atendimento mais reservadas. O mesmo modelo será replicado no interior, com instalação de salas de escuta e espaços que garantam privacidade às vítimas.

“Estamos saindo do modelo antigo, que já não dava conta da complexidade dessas denúncias. Nosso foco é garantir que qualquer mulher, em qualquer cidade, possa se sentir segura ao procurar ajuda”, afirmou Videira.

O secretário também destacou que o estado tem atuado com transparência na divulgação dos dados, o que contribui para a formulação de políticas mais eficazes. “Aqui, feminicídio é tratado como feminicídio desde o início. Não maquiamos números. Isso é essencial para avançar”, enfatizou.

O secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos VideiraO secretário de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira (Foto: Jamille Gomes)

O Protege não é um plano engessado. Segundo Viviane Luiza, trata-se de um conjunto dinâmico de ações que continuará se adaptando. “Estamos aferindo a resposta das mulheres. Elas estão confiando mais, procurando mais. Isso mostra que estamos no caminho certo, mas também que precisamos manter o movimento constante”, afirmou.

Essa abordagem flexível inclui também a força-tarefa da Polícia Civil, inicialmente criada para dar conta do passivo de mais de seis mil boletins e que agora será permanente. A ação envolve deslocamento de delegadas para o interior e visa acelerar o atendimento às vítimas e a aplicação de medidas protetivas.

Além da IA Vitória, o governo trabalha para descentralizar ainda mais os canais de atendimento. As ações do Protege chegarão aos 79 municípios de MS, com investimentos diretos nos serviços locais. Um exemplo citado por Viviane foi o repasse de R$ 210 mil ao município de Pedro Gomes para estruturação da rede local.

“Queremos que toda mulher saiba exatamente onde procurar ajuda, independente de onde ela viva. E que ela tenha meios para isso – seja por um número de WhatsApp, seja por uma sala de escuta acolhedora”, resumiu a secretária.

O lançamento do Protege representa uma tentativa do governo estadual de romper com o ciclo histórico de violência que marca Mato Grosso do Sul – estado que figura entre os mais violentos para mulheres no país. Mas, mais do que números e estatísticas, o programa busca criar um ambiente onde o acolhimento, a informação e a punição caminhem lado a lado.

“O agressor precisa saber que o Estado vai reprimir. Mas, ao mesmo tempo, precisamos transformar as raízes desse problema. E isso só será possível com políticas públicas que envolvam toda a sociedade”, concluiu Barbosinha.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop

Deixe seu Comentário

Veja Também

Mais Lidas