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23 de dezembro de 2025 - 09h27
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EDUCAÇÃO NO CAMPO

Projeto aposta em tecnologia e educação para manter jovens no maior assentamento da América Latina

Iniciativa em escola estadual de Ponta Porã busca frear êxodo rural e criar oportunidades de renda sustentável

23 dezembro 2025 - 07h20Maria Edite Vendas
Projeto em escola do assentamento Itamarati integra educação e tecnologias sociais para fortalecer a permanência dos jovens no campo.
Projeto em escola do assentamento Itamarati integra educação e tecnologias sociais para fortalecer a permanência dos jovens no campo. - (Foto: EE Nova Itamarati / UFGD)
Terça da Carne

Para enfrentar o êxodo rural e garantir que as futuras gerações tenham condições de permanecer no campo com perspectivas reais de emprego e renda, o Governo de Mato Grosso do Sul mantém um projeto de desenvolvimento voltado à profissionalização de estudantes do assentamento Itamarati, em Ponta Porã. A iniciativa é desenvolvida na Escola Estadual Nova Itamarati, em parceria com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e aposta no uso de tecnologias sociais alinhadas à realidade da comunidade.

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Reconhecido como o maior assentamento demarcado da América Latina, o Itamarati enfrenta, nos últimos anos, um movimento crescente de saída de jovens para centros urbanos em busca de oportunidades. O cenário evidencia a necessidade de fortalecer o sentimento de pertencimento e criar caminhos concretos de desenvolvimento local e autonomia econômica.

Foi nesse contexto que surgiu o projeto de extensão da UFGD, com apoio do Governo do Estado, para apresentar alternativas de inovação, geração de renda e subsistência às famílias do assentamento, tendo a escola como eixo central de transformação social.

“A proposta da UFGD é levar tecnologias sociais para desenvolver novas formas de gerar renda, emprego e perspectivas de permanência dentro da comunidade. As unidades escolares se tornam espaços de discussão, especialização e profissionalização dessas tecnologias”, explicou Douglas Henrique Alencar, educador ambiental da Secretaria de Estado de Educação (SED).

Segundo ele, a atuação da SED é fundamental para integrar essas soluções ao ambiente escolar. “A Secretaria viabiliza a discussão das tecnologias sociais no âmbito da escola, preparando os estudantes do assentamento, que futuramente serão os agentes responsáveis por ampliar essas iniciativas, trabalhando com empreendedorismo, inovação e desenvolvimento local”, destacou.

Na Escola Estadual Nova Itamarati, o projeto se materializa por meio da instalação de diferentes tecnologias sociais que dialogam diretamente com o currículo escolar. A proposta é aproximar teoria e prática, permitindo que estudantes e professores experimentem soluções aplicáveis ao próprio território onde vivem.

Entre as iniciativas já implantadas ou em fase de implantação estão geradores de biogás, tanques para criação de peixes, sistemas de compostagem para produção de adubo orgânico, além de projetos de aquaponia. Essas tecnologias passam a integrar as atividades pedagógicas e ampliam a compreensão dos alunos sobre inovação no campo e sustentabilidade.

Para o diretor da escola, Jucélio Salmazo, a parceria com a universidade tem impacto direto na formação dos estudantes. “A UFGD nos ajuda bastante com doação de mudas e projetos de aquaponia. O contato com os professores universitários faz com que os alunos vejam a universidade como algo acessível, próximo deles. Isso estimula, principalmente no terceiro ano do ensino médio, o desejo de prestar vestibular e fazer o Enem, buscando uma universidade pública”, afirmou.

As ações fazem parte do trabalho desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento Rural (CDR) da UFGD, que há oito anos atua no assentamento com projetos de pesquisa e extensão voltados ao fortalecimento da agricultura familiar e da bioeconomia.

A professora Juliana Carrijo, da UFGD, coordena iniciativas nas áreas de aquaponia, piscicultura e soluções sustentáveis, além de ferramentas pedagógicas para o fortalecimento das escolas do campo.

“O CDR é um macroprojeto da UFGD no assentamento. Temos cerca de 60 professores e alunos trabalhando juntos em diversas temáticas ligadas à agricultura familiar e à bioeconomia. Uma das principais demandas é a sucessão rural, ou seja, criar condições para que os jovens permaneçam no campo com oportunidades sustentáveis”, explicou.

O projeto piloto foi implantado na Escola Estadual Nova Itamarati, considerada a maior unidade rural de ensino do Mato Grosso do Sul. A iniciativa busca desenvolver e sistematizar uma metodologia que possa ser replicada em outras escolas do campo, criando espaços coletivos de educação, ciência, tecnologia e inovação voltados à agricultura familiar.

“A proposta é criar um espaço inovador com tecnologias sociais escolhidas pelos próprios professores. Essas tecnologias são integradas pedagogicamente às disciplinas ministradas, tornando o aprendizado mais conectado à realidade dos alunos”, destacou Juliana.

O convênio prevê investimento superior a R$ 1,4 milhão e envolve a atuação conjunta da Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), responsável pelo suporte técnico e financeiro ao projeto.

“O projeto funciona como uma vitrine tecnológica, com espaços lúdicos, interativos e replicáveis, conectados a todas as disciplinas e diferentes faixas etárias. Por meio da inovação social e das tecnologias sociais, é possível fortalecer a identidade do território e promover a sucessão rural”, concluiu a professora.

Ao integrar educação, ciência e desenvolvimento sustentável, a iniciativa busca transformar a escola em um polo de inovação e apontar novos caminhos para que os jovens do assentamento Itamarati enxerguem no campo não apenas um lugar de origem, mas também de futuro.

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