Fiscais do Procon-SP interditaram um posto de combustível em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, após identificarem irregularidades graves durante uma vistoria realizada no último final de semana. A ação integra uma série de fiscalizações motivadas por denúncias de consumidores e ocorre paralelamente às investigações sobre casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas no Estado.
De acordo com o órgão de defesa do consumidor, o estabelecimento interditado descumpriu normas básicas: impediu a continuidade da vistoria, não apresentou as notas fiscais dos combustíveis comercializados e não informava os nomes dos distribuidores nas bombas de abastecimento.
Essas falhas levaram à interdição imediata do posto, cuja bandeira e endereço não foram divulgados. Por isso, a reportagem não conseguiu localizar os responsáveis pelo estabelecimento para comentarem a decisão.
A fiscalização faz parte de uma força-tarefa iniciada após o aumento de denúncias e suspeitas relacionadas à cadeia de contaminação de bebidas com metanol — substância altamente tóxica e proibida para consumo humano. Há a suspeita de que o etanol utilizado por fabricantes clandestinos de bebidas tenha sido adquirido em postos de combustíveis, alguns dos quais estariam vendendo o produto adulterado com metanol.
Em nota, o Procon-SP afirmou que "as ações de fiscalização em postos de combustíveis se tornaram mais estratégicas e necessárias por causa da suspeita das autoridades policiais, que investigam a possibilidade de adulteradores de bebidas terem adquirido etanol em postos de combustíveis, os quais, por sua vez, estariam comercializando o produto também adulterado, com a adição de metanol".
Ao todo, nove postos foram vistoriados na ação mais recente do Procon-SP e, segundo o órgão, seis deles apresentaram algum tipo de irregularidade. Apenas um — o que foi interditado — teve problemas considerados suficientemente graves para suspensão imediata das atividades.
Até o momento, não há confirmação oficial de que o posto interditado tenha comercializado combustível com metanol, nem de que estivesse envolvido diretamente com a distribuição da substância para empresas clandestinas de bebidas. No entanto, a suspeita segue sendo investigada pelas autoridades.
São Bernardo do Campo é uma das cidades mais afetadas pelos casos de intoxicação por metanol no Estado de São Paulo. O município registrou uma das cinco mortes confirmadas até o momento, a da jovem Bruna Araújo de Souza, de 30 anos. Além disso, concentra 36 dos 100 casos suspeitos que seguem em investigação, e outras duas mortes ainda estão sendo analisadas pelas autoridades de saúde.
Na semana passada, a Polícia Civil descobriu em São Bernardo uma empresa clandestina acusada de adulterar bebidas alcoólicas com etanol contaminado com metanol. Investigações apontam que o produto fraudado teria sido adquirido de um posto de combustível da cidade.
Embora o foco atual esteja nos casos de intoxicação por bebidas adulteradas, São Paulo já enfrentou outros episódios envolvendo metanol. Em agosto deste ano, uma operação conjunta da Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público desarticulou um esquema ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que utilizava metanol para adulterar combustíveis e lavar dinheiro em postos da capital e interior.
Apesar das coincidências, autoridades paulistas afirmam que não há indícios de ligação entre os casos recentes de intoxicação e o esquema criminoso desmantelado anteriormente.
As investigações continuam em curso e envolvem diferentes órgãos, como o Ministério Público, a Polícia Civil, a Vigilância Sanitária e o próprio Procon-SP. A expectativa é de que novas ações de fiscalização ocorram nos próximos dias, especialmente em regiões onde foram identificados os maiores índices de irregularidades.
