
Em pleno domingo de eleição, dia 6 de outubro de 2024, milhares de eleitores em todo o Brasil descobriram que a tecnologia, apesar de prometer facilidade, nem sempre entrega o que se espera. O aplicativo e-Título, que deveria ser uma alternativa prática para justificar a ausência nas urnas, apresentou instabilidades logo nas primeiras horas da manhã. O problema? Um congestionamento virtual causado pelo grande volume de acessos.

Usuários frustrados se depararam com mensagens de erro ao tentar justificar o voto. “Nossos canais de atendimento estão congestionados. Aguarde e tente novamente em instantes”, era a resposta que aparecia para muitos. A função "Justificativa de Ausência" no aplicativo simplesmente não funcionava, deixando milhares de eleitores na expectativa.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) agiu rápido, reconhecendo o problema. Em uma nota oficial, afirmou que o grande número de acessos simultâneos ao e-Título provocou uma fila virtual. O conceito, por si só, parece estranho. Uma fila invisível dentro de um aplicativo. O TSE garantiu que a situação foi "normalizada", embora as redes sociais estivessem ainda repletas de relatos de dificuldades.
A fila que ninguém viu - Se antes, as filas em dias de eleição eram físicas, com pessoas se amontoando nas portas das escolas ou nos ginásios eleitorais, agora a fila se digitalizou. E com ela, a frustração também. “Eu tentei justificar logo cedo, mas o app só dizia que estava congestionado. Parece que voltamos ao tempo das filas enormes, só que agora não dá nem para ver a fila”, comentou um eleitor em uma rede social. Essa sensação de espera, misturada com o sentimento de impotência digital, resume o desafio de um Brasil que tenta se adaptar às novas ferramentas, mas enfrenta uma realidade ainda imperfeita.
A justificativa de voto, um processo simples na teoria, ganhou uma nova camada de complexidade quando se tornou digital. Se antes bastava ir até uma zona eleitoral para explicar por que não votou, agora essa ação depende da internet, de servidores que suportem a demanda e, no final das contas, de uma conexão que funcione. Para muitos eleitores, a fila invisível virou uma piada amarga. "Parece que a fila está lá, só que ninguém sabe o tamanho", brincou um usuário do Twitter, enquanto esperava para conseguir justificar.
O que está em jogo - A digitalização do processo eleitoral no Brasil não é novidade. Desde a introdução das urnas eletrônicas nos anos 1990, o país vem se destacando pelo uso de tecnologias que simplificam a votação. O e-Título, lançado alguns anos atrás, é mais uma dessas inovações. Ele permite que os eleitores tenham seu título de eleitor no celular, além de justificar a ausência e consultar informações sobre sua situação eleitoral. Em teoria, a ferramenta deveria facilitar a vida de quem não pode comparecer às urnas. Mas como as instabilidades deste domingo mostraram, a tecnologia pode ter seus próprios desafios.
A nota do TSE tentou tranquilizar os eleitores: "Os eleitores têm até às 17h para justificar pelo aplicativo. Caso não consigam, ainda terão 60 dias após o pleito para regularizar sua situação". Parece simples, mas o episódio levanta uma questão mais profunda: estamos realmente preparados para confiar tão plenamente na tecnologia para algo tão importante quanto o processo eleitoral? Se um aplicativo como o e-Título não consegue suportar a demanda, o que isso diz sobre a capacidade do sistema de se expandir ainda mais no futuro?
Uma lição digital - Os relatos de instabilidade no e-Título não devem ser vistos como um fracasso total, mas sim como uma chamada de atenção. A fila virtual que pegou muitos de surpresa reflete uma realidade mais ampla: o Brasil ainda está no meio de sua transição digital. Apesar do sucesso da urna eletrônica, que é referência mundial, a extensão dessa lógica para outros aspectos do processo eleitoral ainda enfrenta desafios.
No fim, os eleitores que não conseguiram justificar no prazo ainda terão 60 dias para regularizar sua situação. Mas para aqueles que esperavam resolver tudo no dia da eleição, o domingo foi um lembrete de que nem sempre a tecnologia é tão ágil quanto prometido. A fila virtual pode ter sido uma metáfora perfeita para um sistema que, apesar de inovador, ainda precisa lidar com os gargalos da realidade digital brasileira.
