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Policial prende assassino do próprio pai 25 anos após crime: 'Justiça feita'

Crime ocorreu em 1999, em Roraima, por causa de uma dívida de R$ 150; filha da vítima tinha 9 anos na época e entrou na Polícia Civil há dois meses

28 setembro 2024 - 07h35Caio Possati
Gislayne de Deus, escrivã que ajudou na prisão do homem condenado pela morte do pai dela 25 anos depois do crime.
Gislayne de Deus, escrivã que ajudou na prisão do homem condenado pela morte do pai dela 25 anos depois do crime. - Foto: Polícia Civil de Roraima/Divulgação

A Polícia Civil de Roraima prendeu na quarta-feira, 25, na capital Boa Vista, um homem condenado pelo assassinato do comerciante Givaldo José Vicente de Deus, em fevereiro de 1999. O criminoso, identificado como Raimundo Alves Gomes, 60 anos, que já tinha a prisão decretada de forma definitiva desde 2019, foi localizado em uma região de chácaras na capital roraimense.

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Ao saber da notícia da prisão, a escrivã Gislayne de Deus, de 35 anos, filha de Givaldo, chorou de alívio. "É o encerramento de um ciclo. A gente pensava que era um momento que nunca ia chegar e, de repente, aconteceu", relatou a policial ao Estadão. A defesa de Raimundo não foi localizada pela reportagem.

Natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e formada em Direito, Gislayne ajudou os policiais a prender o autor do crime. Ela tomou posse no cargo de escrivã da Polícia Civil de Roraima há poucos meses, em julho deste ano. Antes, ocupava o cargo de agente na Polícia Penal desde 2022.

À reportagem, ela conta que o principal objetivo ao entrar na polícia era garantir maior estabilidade financeira e profissional. Mas, ter perdido o pai por uma pessoa que ainda não tinha sido presa também provocou nela, não o sentimento de vingança, mas o desejo de ajudar quem passou e passa pela mesma situação.

"Quando eu saí da (Polícia) Penal para ir para a (Polícia) Civil, vi uma oportunidade de auxiliar com meu trabalho e a dar algum tipo de resposta para as pessoas, para as famílias e também para o Judiciário, que vai levar esse investigado a cumprir a sua pena e a responder pelo crime que cometeu", diz.

O crime aconteceu há 25 anos, em fevereiro de 1999, quando a escrivã tinha nove anos. Givaldo José Vicente, pai de Gislayne, era proprietário de um comércio em Boa Vista, e Raimundo era um dos fornecedores do estabelecimento. Ambos eram conhecidos e até descritos como "amigos" pela policial. Mas, por conta de uma dívida de R$ 150, Raimundo atirou contra Givaldo em um bar, no bairro Cambará, também na capital.

Raimundo chegou a ser preso em flagrante, mas foi solto 17 dias depois, segundo Gislayne. Ela conta que toda a sua família não entendeu os motivos que levaram a Justiça a decidir pela soltura do então suspeito, que passou a responder o processo em liberdade.

"A gente vivia em alerta. Será que, se eu for para o interior, eu vou encontrá-lo? A gente ficava com essa sensação de atenção por imaginar que ele estivesse em algum lugar. Eu sempre ficava buscando (por ele)", diz Gislayne.

Raimundo foi julgado em 2016 e condenado a 12 anos de prisão, em regime fechado, pela morte de Givaldo José Vicente de Deus. Após apresentação de recursos, o mandado foi expedido de forma definitiva só em 2019. Desde então, ele esteve foragido até ser localizado e preso na última quarta-feira.

Gislayne conta que a investigação na Delegacia Geral de Homicídios (DGH) já tinha sido encerrada e que só restava cumprir o mandado de prisão que estava em aberto.

"Os colegas dizem que a prisão (do Raimundo) foi por minha causa porque eu levei o mandado de prisão e pedi para a DGH (Delegacia Geral de Homicídios) procurar por ele sem, claro, abandonar as outras investigações em curso", diz a escrivã. "Eu passei só a informação, mas a parte de investigação, de levantamento de dados, de paradeiro, foi a equipe da DGH e do DEIN, o Departamento de Inteligência, da Secretaria de Segurança Pública".

"Quando os colegas fizeram a prisão, eles me ligaram. Naquele primeiro momento, eu confesso que chorei muito porque é o encerramento de um ciclo. A gente pensava que era um momento que nunca ia chegar e, de repente, aconteceu. Então, em um primeiro momento, senti muita emoção", lembra.

Gislayne conta que teve que se recompor e fez questão de conversar com o homem condenado pela morte do seu pai. "Eu vim para a DGH e foi o momento que eu o vi. Perguntei se ele sabia quem eu era, e falei: 'Eu sou a filha da pessoa que você matou e eu quero dizer que o senhor vai cumprir a sua pena e vai pagar pelo que fez'".

Segundo a escrivã, o homem pouco reagiu. Não chorou, não pediu desculpas ou esboçou algum arrependimento. Disse apenas que "não precisava ter sido assim", comentou a policial.

Gyslaine diz que a sensação de ver Raimundo preso, mesmo que ele pague apenas uma parte da pena, "é de paz e justiça". "Esse sentimento de injustiça nos acompanhou por muito tempo, praticamente durante esses 25 anos. Só tivemos a sensação de justiça efetiva, feita, agora, em 2024. E esse sentimento é indescritível", comentou.

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