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SÃO PAULO

Policiais viram réus por execução de morador de rua em São Paulo; imagens contradizem versão oficial

Justiça aceitou denúncia contra PMs acusados de matar Jeferson de Souza com três tiros de fuzil, mesmo rendido; gravação da câmera corporal desmente relato dos agentes

7 agosto 2025 - 19h00José Maria Tomazela
Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo contra os dois policiais e eles se tornaram réus por homicídio qualificado.
Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo contra os dois policiais e eles se tornaram réus por homicídio qualificado. - (Foto: PM-SP)

Dois policiais militares viraram réus por homicídio qualificado após a morte de Jeferson de Souza, de 24 anos, ocorrida na noite de 13 de junho, na região central de São Paulo. Morador de rua, Jeferson foi morto com três tiros de fuzil à queima-roupa, mesmo estando desarmado e rendido. A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo nesta quarta-feira (6), considerando que o crime teve motivo torpe e foi praticado contra uma vítima sem chance de defesa.

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O caso veio à tona com a divulgação das imagens da câmera corporal de um dos policiais, que mostram que Jeferson chorava e mantinha as mãos na nuca antes de ser executado. A gravação desmente a versão inicial apresentada pelos agentes, de que o rapaz teria tentado tomar a arma de um deles.

Os dois PMs envolvidos — o tenente Alan Wallace dos Santos Moreira e o soldado Danilo Gehrinh — foram presos preventivamente em julho e permanecem detidos no Presídio Militar Romão Gomes.

As imagens obtidas pela reportagem mostram Jeferson sendo revistado após descer de uma árvore. Os policiais o levam até uma área fora do alcance das câmeras públicas, atrás de uma pilastra. Ali, o soldado Danilo faz uma foto do jovem com o celular e envia para alguns contatos. Em seguida, Jeferson começa a chorar e, obedecendo às ordens dos PMs, se encosta na pilastra com as mãos sobre a cabeça.

O tenente Alan está ao lado dele, armado com um fuzil. Nesse momento, o outro policial, que usava a câmera corporal, coloca a mão sobre o equipamento e o desvia, impedindo o registro da ação. Poucos segundos depois, Jeferson aparece caído, já morto. Ele foi atingido na cabeça, no tórax e no braço.

Viaturas da PM e uma equipe dos Bombeiros chegaram logo após os disparos. Nas gravações, é possível ouvir conversas informais entre os agentes. Um dos policiais comenta que a câmera de seu colega é monitorada pela Central da PM, o que gerou preocupação sobre a gravação do ocorrido. A câmera do tenente estava desligada.

No boletim de ocorrência registrado pelos policiais, consta que Jeferson foi abordado após descer de uma árvore em um ponto entre a Rua da Figueira e o Viaduto Antônio Nakashima, na região da Sé. Os PMs alegaram que, ao descobrir que ele era procurado por crimes como estupro e agressão, tentaram levá-lo à delegacia. Segundo os agentes, Jeferson teria tentado tomar a arma de um deles, o que motivou os disparos.

No entanto, a investigação revelou que Jeferson não tinha antecedentes criminais. Ele era natural de Alagoas e havia se mudado para São Paulo há nove anos em busca de trabalho. Nenhum mandado de prisão ativo foi encontrado contra ele.

As imagens contradizem a alegação de resistência. Para o Ministério Público, o caso trata-se de uma execução.

Denúncia por homicídio qualificado

A juíza Patrícia Álvarez Cruz aceitou a denúncia do promotor Enzo Boncompagni, que apontou que a vítima foi morta mesmo estando “rendida e subjugada”. O promotor também destacou a tentativa do segundo policial de esconder a execução ao cobrir a lente da câmera corporal no momento dos disparos.

Em sua decisão, a magistrada foi enfática ao afirmar que os policiais agiram movidos por “mero sadismo” e demonstraram “absoluto desprezo pela condição humana”, especialmente diante da vulnerabilidade social de Jeferson.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que os dois agentes seguem presos e respondem a processo disciplinar. Um Inquérito Policial Militar (IPM) está em andamento, conduzido pela Corregedoria da PM. Em nota, a pasta afirmou que "repudia veementemente" a conduta dos envolvidos e que a corporação "não compactua com qualquer tipo de excesso ou desvio de conduta".

O comando da PM solicitou a prisão dos agentes assim que teve acesso às imagens da câmera corporal.

Até o momento, a defesa dos policiais não se manifestou.

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