Suzy Camacho, psicóloga e ex-atriz da TV Globo, foi indiciada pela Polícia Civil de São Paulo sob acusação de ter desviado mais de R$ 42 milhões do empresário Farid Curi, com quem foi casada até a morte dele, em 2022. Segundo a investigação, ela teria se aproveitado do estado de saúde debilitado do companheiro nos últimos anos de vida para movimentar, de forma irregular, contas bancárias e patrimônio em benefício próprio e de seus familiares.
O inquérito foi conduzido pelo 4º Distrito Policial (Consolação), que concluiu que Suzy centralizou as finanças do empresário após afastar os filhos dele e a funcionária que há anos cuidava da parte financeira da família. A apuração incluiu análise de declarações de Imposto de Renda, movimentações bancárias e um relatório do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
As autoridades apontam que Suzy e seu irmão, Pompilio Camacho, realizaram diversas transações consideradas incompatíveis com a renda declarada por ambos. Entre as operações investigadas, há saques em espécie que somam R$ 1,29 milhão e transferências superiores a R$ 3 milhões para contas no nome de Suzy. Pompilio, que se tornou co-titular de uma conta de Farid, também recebeu mais de R$ 1,2 milhão da mesma origem.
Outros familiares da ex-atriz, como mãe, filho e sobrinhos, também foram beneficiados com transferências que, juntas, somam aproximadamente R$ 900 mil. A polícia identificou ainda transferências para terceiros no valor de R$ 3,7 milhões — muitas delas, segundo os investigadores, com indícios de que envolviam "laranjas", usados para ocultar a origem dos recursos.
Entre os bens adquiridos por Suzy nesse período está um imóvel de R$ 2,4 milhões comprado de uma empresa falida, considerado de operação atípica. Já em nível internacional, foram registradas movimentações como uma transferência de US$ 450 mil de uma empresa das Bahamas para Suzy e a existência de contas em Mônaco e Miami, com saldo de mais de R$ 18 milhões.
Idoso teria sido isolado da família - Relatos colhidos ao longo da investigação indicam que Farid Curi, ex-sócio do grupo Atacadão, foi sendo gradualmente afastado de seus filhos e amigos após o casamento com Suzy, em 2013. Familiares relataram à polícia que visitas foram dificultadas e que a ex-atriz evitava qualquer contato próximo entre Farid e os parentes.
Os filhos do empresário descreveram mudança brusca na rotina de Farid após a união com Suzy, passando a ver o pai com menos frequência e sempre em encontros supervisionados. Uma testemunha afirmou que, em pleno Dia dos Pais, os filhos foram impedidos de visitar o empresário, mesmo após insistência.
O casamento entre Suzy e Farid foi celebrado com separação obrigatória de bens, como determina a lei para pessoas com mais de 70 anos. Apesar disso, as movimentações apontadas no inquérito não condizem com a divisão patrimonial prevista por esse regime.
Segundo o relatório final da Polícia, há indícios de que Suzy utilizou documentos falsos, pressão psicológica e até medicação para influenciar decisões patrimoniais de Farid. A investigação concluiu que os valores desviados chegaram a R$ 42,2 milhões, com parte sendo transferida a pessoas próximas ou usada para compras de alto valor.
O delegado Guilherme Sabino Corrêa, responsável pelo caso, afirma que Suzy “valeu-se da condição clínica de seu então companheiro para esvaziar indevidamente seu patrimônio, de modo sistemático e silencioso”.
O advogado de Suzy, o criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, negou qualquer irregularidade por parte de sua cliente. Segundo ele, não há crime, nem denúncia formal. D’Urso classificou as acusações como uma "armação" dos filhos de Farid.
“É tudo mentira, nada foi apurado, nenhum crime foi verificado e nenhuma denúncia criminal existe contra a Suzy”, disse ao Estadão.
Farid Curi morreu em setembro de 2022, aos 85 anos. Empresário de sucesso, foi um dos fundadores da rede Atacadão, vendida ao Carrefour por R$ 2,2 bilhões em 2013. O único imóvel que o empresário reconheceu como sendo do casal foi um apartamento no Rio de Janeiro, segundo aponta a investigação. Todo o restante do patrimônio era exclusivamente dele.
O inquérito teve início com uma representação feita pelos filhos de Farid, que acusaram Suzy de apropriação indevida de bens, proventos e rendimentos. A apuração também inclui a suspeita de que a ex-atriz teria coagido o empresário a assinar documentos como procurações, contratos e doações.
Além disso, em agosto de 2022, o Ministério Público de São Paulo denunciou Suzy por suposta falsificação de atestados médicos para se apropriar de R$ 10 milhões do ex-marido. À época, a defesa também negou as acusações.
COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS DOS FILHOS DE FARID CURI - Os criminalistas Rodrigo Carneiro Maia Bandieri e Rubens de Oliveira, que representam os filhos do empresário Farid Curi, disseram ao Estadão que confiam plenamente na Justiça e no trabalho técnico desempenhado pela Polícia Civil, em longa investigação.
"A nossa confiança se estabelece, também, nas investigações que estão em andamento."
COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA LUIZ FLÁVIO BORGES DURSO, QUE REPRESENTA SUZY CAMACHO - O criminalista Luiz Flávio Borges DUrso, que representa Suse Maria Gomes Camacho Curi, a Suzy Camacho, reagiu enfaticamente às conclusões da Polícia Civil de São Paulo.
"A Suzy é vítima de uma grande armação dos filhos do Farid. Eles, os filhos, respondem a vários inquéritos policiais, desde denunciação caluniosa, corrupção de testemunhas, perseguição e ameaça contra Suzy que, por anos, teve medida protetiva contra eles."
Segundo DUrso, os filhos do empresário teriam submetido sua cliente até à escuta ilegal e violência psicológica, além de vários outros crimes de que ela foi vítima.
"Acusaram a Suzy levianamente e a Justiça tem restabelecido a verdade."
"A Suzy foi investigada neste inquérito policial por seis anos. Os filhos do Farid, nesta guerra contra a Suzy, acusaram-na de maus tratos a idoso", argumenta o criminalista. "É tudo mentira, nada foi apurado, nenhum crime foi verificado e nenhuma denúncia criminal existe contra a Suzy."
DUrso relata que Suzy Camacho foi esposa de Farid e, por mais de 10 anos, cuidou dele.
"Os filhos do Farid receberam mais de 300 milhões de reais do pai ainda em vida e depois processaram o pai por causa de dinheiro", afirma o advogado. "A partir daí, foi estabelecida uma guerra entre os filhos dele, de um lado, e Farid e Suzy de outro."
"Após seis anos de investigação infrutífera, o delegado ao ser transferido para outro DP (o que se deu há 15 dias) apresentou este relatório também há uns 15 dias, desconsiderando tudo o que foi produzido de provas pela defesa. Somente relatou o lado dos filhos, que mentem descaradamente por causa de dinheiro. O delegado, que nada encontrou de crime, indiciou a Suzy sem fundamento, o que vai ser corrigido pela Justiça."
Segundo DUrso, os filhos do empresário usaram jornalistas para acusar Suzy de vender uma casa milionária do Farid.
"A casa de praia valia 62 milhões. Provamos que quem vendeu a casa foi a filha do Farid, pela metade do preço! E ainda não prestou contas no Inventário. Isso também gerou um inquérito policial para investigar a filha do Farid. Tem muita coisa nesse caso. Tem até processo na Corregedoria da Polícia Civil."
