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Carga de carne roubada é saqueada por moradores e PM decide recuar para evitar confronto

Ação aconteceu na zona norte do Rio; segundo o secretário de Polícia Militar, recuo dos agentes foi para preservar vidas diante da multidão

7 agosto 2025 - 07h30Fabio Grellet
Multidão de moradores não se intimidou com o blindado da PM e levou embora toda a carne roubada.
Multidão de moradores não se intimidou com o blindado da PM e levou embora toda a carne roubada. - (Foto: Reprodução/TV Globo)

Policiais militares decidiram não impedir que uma carga de carne roubada fosse saqueada por moradores da favela da Pedreira, na zona norte do Rio de Janeiro, na manhã de quarta-feira (6). A decisão foi tomada após os agentes constatarem que estavam em número reduzido diante da multidão que se formou rapidamente para levar as caixas com o produto. A ação durou poucos minutos e terminou com toda a carga levada por populares.

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O roubo aconteceu por volta das 10h, quando um caminhão que transportava carnes do Mato Grosso para uma distribuidora no bairro Fazenda Botafogo foi interceptado por dois criminosos armados em uma moto, enquanto trafegava pela avenida Prefeito Sá Lessa.

O motorista e o ajudante foram rendidos e obrigados a levar o caminhão até o interior da favela da Pedreira. Lá, a carga foi descarregada diretamente na rua, antes de os dois trabalhadores serem libertados.

A Polícia Militar foi acionada e localizou o carregamento roubado com o auxílio de dois blindados. Ao chegarem ao local, os policiais encontraram diversos moradores saqueando as caixas de carne, que estavam espalhadas pela via. Os agentes tentaram conter o avanço da população, mas o número de pessoas aumentava rapidamente, dificultando qualquer ação efetiva.

Após um dos blindados deixar a região, os policiais tentaram recolher algumas caixas e colocá-las no outro veículo blindado, mas acabaram recuando poucos minutos depois. A decisão de se retirar foi tomada diante da impossibilidade de garantir a segurança de todos no local, segundo a própria corporação.

Estima-se que a carga tenha sido completamente saqueada em cerca de cinco minutos. Do total, apenas 40 caixas que conseguiram ser recuperadas foram levadas à Cidade da Polícia, no Jacarezinho, onde o caso foi registrado pela Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas da capital.

O secretário estadual de Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Marcelo de Menezes, afirmou em entrevista à TV Globo que a decisão dos policiais foi adequada às circunstâncias enfrentadas. Para ele, a prioridade era preservar a integridade física dos envolvidos, diante do risco de confronto com uma multidão numerosa.

“Como é nossa orientação, os policiais militares inicialmente tentaram conter, mas, tendo em vista que o bem maior a ser protegido é a vida das pessoas, houve necessidade de que a gente fizesse apenas uma contenção”, declarou.

O coronel também informou que a favela da Pedreira será ocupada nos próximos dias como parte das ações da PM para identificar os criminosos envolvidos no roubo da carga.

A favela da Pedreira é considerada uma das áreas mais conflituosas da zona norte carioca, com histórico de atuação de quadrilhas armadas e difícil acesso para as forças de segurança. Casos de cargas roubadas e saqueadas por moradores não são incomuns nessas regiões, o que reforça os desafios enfrentados pelas autoridades.

De acordo com informações da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, o volume de roubos de mercadorias no estado do Rio tem oscilado nos últimos meses, mas a presença de áreas dominadas por facções criminosas e milícias continua sendo um obstáculo recorrente para o enfrentamento efetivo ao crime organizado.

O episódio desta quarta-feira reacende o debate sobre o envolvimento da população local em situações de saque. Embora o ato seja tipificado como crime, especialistas apontam que, em muitos casos, a ação de moradores é motivada por dificuldades econômicas e ausência do Estado nessas comunidades.

Segundo relatos de moradores próximos ao local, houve correria e tumulto generalizado no momento do saque. Alguns alegaram que sequer sabiam que a carne havia sido roubada. “Vi o povo pegando e corri também. É difícil julgar quando tem gente que não tem o que comer em casa”, disse uma moradora que preferiu não se identificar.

Para especialistas em segurança pública, episódios como esse evidenciam uma falha mais ampla na articulação entre repressão ao crime e políticas públicas de assistência social e econômica. A ausência de uma estratégia integrada contribui para que comunidades inteiras fiquem vulneráveis tanto ao domínio do crime quanto à criminalização por atos de sobrevivência.

A expectativa agora é de que a ocupação da favela da Pedreira traga respostas sobre os autores do roubo, mas também há receio de que medidas apenas repressivas possam gerar novos conflitos com a população local.

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