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INTERNACIONAL

Plano de Israel para ocupar Gaza gera críticas de aliados e amplia temor por crise humanitária

Anúncio de ofensiva em Gaza é criticado por aliados históricos como Alemanha e Reino Unido, enquanto cresce o temor por mais mortes de civis e reféns

8 agosto 2025 - 11h25Redação
Familiares de reféns israelenses protestam em Tel-Aviv, Israel
Familiares de reféns israelenses protestam em Tel-Aviv, Israel - (Foto: Jack Guez/AFP)

O plano anunciado por Israel para ocupar por completo a Cidade de Gaza provocou reações imediatas e contundentes em diversas partes do mundo nesta sexta-feira, 8. A iniciativa, autorizada pelo gabinete de segurança israelense, gerou críticas de aliados históricos do país, como Alemanha e Reino Unido, que expressaram preocupação com o agravamento da crise humanitária no território palestino e o risco para civis e reféns ainda mantidos pelo Hamas.

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A resposta mais significativa veio da Alemanha, que decidiu suspender as exportações de armamentos que possam ser utilizados na Faixa de Gaza. O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que "está cada vez mais difícil de entender" como a operação militar em Gaza contribui para os objetivos de segurança de Israel. Segundo ele, "nestas circunstâncias, o governo alemão não autorizará qualquer exportação de equipamento militar que possa ser usado na Faixa de Gaza até novo aviso". Merz também reforçou a preocupação com o sofrimento da população civil e ressaltou que Israel tem uma "responsabilidade ainda maior" no atendimento a essas pessoas.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Keir Starmer classificou a decisão de intensificar a ofensiva como um "erro" e pediu que o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, reconsidere imediatamente. “Essa ação não contribui para encerrar o conflito nem para libertar os reféns. Apenas resultará em mais mortes”, afirmou Starmer em comunicado oficial.

=Além da Alemanha e do Reino Unido, outros países europeus como Holanda e Dinamarca também manifestaram oposição ao plano. A China declarou "sérias preocupações" e a Turquia foi mais enfática ao exortar a comunidade internacional a impedir a nova investida israelense. Já o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk, afirmou que o plano "deve ser interrompido imediatamente".

A pressão internacional sobre o governo israelense tem aumentado à medida que se multiplicam as imagens de civis feridos, crianças desnutridas e famílias desalojadas, destacando o agravamento da fome e da precariedade humanitária em Gaza.

A proposta também gerou forte contestação entre autoridades e representantes da sociedade civil dentro de Israel. O líder da oposição, Yair Lapid, afirmou que a decisão do gabinete de segurança representa "uma catástrofe que trará muitas outras". Ele criticou a estratégia como sendo arriscada e contraproducente.

O Fórum das Famílias dos Reféns, que reúne parentes dos israelenses ainda mantidos em cativeiro, também se posicionou contra a ocupação da Cidade de Gaza. Para o grupo, a medida representa um "abandono dos reféns" e ignora "alertas da liderança militar e o desejo da maioria da população".

Entre os militares, o plano tampouco encontrou consenso. O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, expressou oposição à ofensiva, citando riscos diretos aos reféns e o aumento da vulnerabilidade dos próprios soldados israelenses. Ex-oficiais de segurança também se manifestaram contra a nova operação, alegando que o Hamas já foi amplamente enfraquecido e que há pouco a ganhar com uma escalada militar.

Segundo o Exército de Israel, cerca de 50 reféns ainda estão sob poder de grupos armados na Faixa de Gaza, mas apenas 20 estariam vivos. Vídeos divulgados recentemente pelo Hamas e pela Jihad Islâmica mostram reféns em condições físicas e psicológicas graves, o que aumentou ainda mais a apreensão no país.

Relatos indicam que o Hamas orientou seus militantes a executarem os reféns caso identifiquem movimentações militares próximas aos locais de cativeiro. No ano passado, seis reféns foram mortos pelo grupo na cidade de Rafah durante uma operação do Exército israelense.

A decisão de tomar a Cidade de Gaza foi oficializada após reunião do gabinete de segurança israelense, realizada na noite de quinta-feira, 7. Na véspera, Netanyahu já havia dado sinais da ofensiva em uma entrevista à Fox News, onde disse que Israel pretendia assumir o controle total da Faixa de Gaza – embora a decisão formal não tenha chegado a tanto.

De acordo com o premiê, o objetivo seria “remover o Hamas” e garantir a segurança de Israel. Ele afirmou que não pretende manter o território sob controle israelense permanentemente, mas sim entregá-lo futuramente a "forças árabes" que possam governá-lo sem ameaçar Israel. “Queremos dar aos moradores de Gaza uma vida digna”, afirmou Netanyahu.

Atualmente, segundo autoridades israelenses, cerca de 75% do território de Gaza já está sob controle das forças israelenses. A Cidade de Gaza, no entanto, segue sendo uma das poucas regiões que não foram transformadas em zonas-tampão ou esvaziadas por ordens de retirada. A expectativa é que uma incursão terrestre nessa área provoque mais deslocamentos em massa e dificulte ainda mais a entrega de ajuda humanitária.

A guerra entre Israel e Hamas teve início em 7 de outubro de 2023, após o grupo terrorista lançar um ataque contra o sul de Israel que deixou 1,2 mil mortos e 250 pessoas sequestradas. Desde então, a retaliação israelense resultou em mais de 60 mil mortos na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.

Apesar das perdas sofridas pelo grupo extremista, os combates continuam, alimentados pela falta de um acordo de cessar-fogo e pela tensão entre os objetivos militares de Israel e as crescentes críticas internacionais.

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