
A criação da União Nacional da Pecuária foi anunciada no início de julho, mas a história começou meses antes, em reuniões discretas, trocas de ligações e encontros em eventos do setor. Lideranças pecuárias de diferentes partes do país, preocupadas com os rumos da cadeia da carne bovina, decidiram dar um passo adiante: reunir as principais associações estaduais em uma só entidade, capaz de representar com mais força os produtores de gado de corte em nível nacional.

O grupo inicial já representa cerca de 106 milhões de cabeças de gado, quase metade do rebanho brasileiro de corte — um universo de peso que pode ajudar a mudar a forma como o setor dialoga com o governo, o mercado e a sociedade. Fazem parte da União as associações dos criadores de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Rondônia, além da Associação Nacional dos Confinadores e da Associação Novilho Precoce do Tocantins.
No centro das articulações está um nome conhecido no setor, alguém acostumado a circular por Brasília e pelos eventos agropecuários do país com fala firme e postura técnica. É dele a responsabilidade de conduzir a fase inicial da entidade, organizando os trâmites legais, construindo o estatuto e alinhando as diretrizes com os demais líderes.
Em entrevista, ele explica o objetivo: “Mais do que criar uma nova sigla, a ideia é construir união entre quem já trabalha pelo setor. Queremos coordenar esforços e levar propostas claras aos espaços de decisão.” Segundo ele, a nova entidade não pretende substituir nenhuma outra, mas complementar o trabalho das federações e da CNA, com foco nas pautas específicas das associações.
Um momento de reorganização - A movimentação acontece num momento importante para a pecuária nacional. Em 2025, o setor enfrenta inseguranças no comércio internacional, com destaque para a possível elevação da tarifa de importação da carne brasileira pelos Estados Unidos, que pode chegar a 50%. O país é hoje o segundo maior comprador da carne bovina do Brasil. Só no primeiro semestre deste ano, importou 181,5 mil toneladas, gerando US$ 1,04 bilhão em receita, alta de 102% em relação ao ano passado.
Para os integrantes da nova entidade, esse é o tipo de situação em que uma voz unificada pode fazer diferença. A expectativa é de que a União atue também no campo diplomático, contribuindo com informações técnicas e posicionamentos alinhados para apoiar as ações do governo brasileiro nas negociações internacionais.
Pautas e prioridades - Mesmo ainda em fase de formalização, a União Nacional da Pecuária já trabalha em torno de eixos definidos:
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Fortalecer a representatividade das associações estaduais, com atuação coordenada em pautas comuns;
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Defender a produção pecuária brasileira com base na sustentabilidade, inovação e responsabilidade social;
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Buscar soluções técnicas e econômicas que fortaleçam o setor diante dos desafios climáticos e de mercado;
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Criar pontes com o poder público, instituições privadas e sociedade civil, ampliando o entendimento sobre a importância da pecuária no país.
Segundo o líder que conduz a fase inicial, “os desafios são grandes, mas há um sentimento coletivo de que a hora de se organizar é agora. A pecuária tem papel econômico, social e ambiental importante. E precisa ser defendida com argumentos, dados e propostas claras.”
Integração sem apagar fronteiras - Um dos pontos mais valorizados pelo grupo é o respeito à diversidade regional. A ideia é atuar com integração, sem apagar as especificidades de cada estado. “Mato Grosso tem uma dinâmica. O Pará tem outra. Tocantins, Rondônia… Cada região tem seus desafios. Mas há pontos em comum que nos unem, como a necessidade de previsibilidade, de crédito, de segurança jurídica e de um marco regulatório que valorize quem produz de forma correta”, destacou.
A previsão é que, em até seis meses, a entidade esteja juridicamente estruturada, com um estatuto definido e uma diretoria permanente eleita. Até lá, o grupo continuará operando com a atual liderança interina, que tem a missão de articular, ouvir e organizar.
Um novo papel para a pecuária - A expectativa é que a União possa também requalificar a imagem pública da pecuária, frequentemente alvo de críticas generalizadas que não refletem a realidade da maior parte dos produtores.
“A gente quer mostrar que é possível produzir carne de forma eficiente, rentável e sustentável. E que já existem milhares de pecuaristas fazendo isso todos os dias. Eles só precisam de apoio, reconhecimento e condições adequadas”, resumiu o presidente interino.
O movimento, ainda em construção, é visto como um novo capítulo para a pecuária brasileira. Um capítulo escrito por quem está dentro da porteira, mas também disposto a conversar com quem está fora dela.
