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MEIO AMBIENTE

Parque do Pantanal do Rio Negro se torna referência nacional em geração de créditos ambientais

Estudo aponta o PEPRN como exemplo inovador na produção de créditos de biodiversidade e carbono, com metodologias adaptadas à realidade pantaneira

10 julho 2025 - 09h15Iury de Oliveira
O Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro (PEPRN) reúne as condições ideais para se tornar um modelo nacional na geração de créditos ambientais
O Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro (PEPRN) reúne as condições ideais para se tornar um modelo nacional na geração de créditos ambientais - (Foto: Divulgação)

O Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro (PEPRN), localizado em Mato Grosso do Sul, desponta como um dos projetos mais promissores do Brasil no campo da sustentabilidade ambiental. Um estudo técnico conduzido pela Wetlands International Brasil e pela ONG Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), em parceria com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS) e o apoio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), revelou que o PEPRN reúne condições ideais para se tornar um modelo nacional na geração de créditos ambientais.

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Com base em metodologias reconhecidas internacionalmente, como desmatamento evitado (REDD) e manejo integrado do fogo (MIF), a iniciativa identifica o potencial da unidade de conservação para gerar não apenas créditos de carbono, mas também os chamados créditos de biodiversidade — que valorizam a proteção de espécies e ecossistemas.

Manejo do fogo como diferencial inovador - Uma das principais apostas do estudo foi o uso do manejo integrado do fogo, inspirado em experiências bem-sucedidas da Austrália e de países africanos. Adaptado para a realidade do Pantanal, o método se mostrou promissor para reduzir a incidência de incêndios e conservar áreas críticas de vegetação nativa.

Segundo o levantamento, o uso estratégico do fogo controlado, combinado com zonas de amortecimento, pode gerar créditos ambientais significativos. Isso fortalece a sustentabilidade da própria gestão do parque e reduz os riscos ecológicos associados às queimadas sazonais.

Financiamento sustentável e proteção contínua - Os créditos ambientais, uma vez gerados e certificados, podem ser comercializados no mercado voluntário, gerando receita direta para a gestão da unidade. Esse fluxo de recursos permite manter e expandir ações de conservação, criando um ciclo virtuoso entre proteção ambiental e sustentabilidade econômica.

“O Parque do Pantanal do Rio Negro pode transformar ativos ambientais em benefícios concretos para o Estado”, afirma Jaime Verruck, secretário da Semadesc. “É uma oportunidade de combinar preservação com geração de valor”, completa.

Artur Falcette, secretário-adjunto da mesma pasta, reforça a importância estratégica da proposta. “Estamos diante de uma iniciativa que alia ciência e governança. É um modelo que pode servir de exemplo para o Brasil inteiro”, destaca.

Governança ambiental como base de implementação - Além dos aspectos técnicos, o estudo aprofundou a análise da governança e da estrutura jurídica necessária para viabilizar os créditos. A gestão compartilhada entre o Governo do Estado, o Imasul e a Semadesc exigiu a contratação de uma consultoria especializada em legislação ambiental, que avaliou os melhores caminhos para implementação no setor público.

“Era preciso entender como operacionalizar juridicamente essas ações dentro da administração pública”, explica Letícia Larcher, coordenadora do estudo. “Definimos critérios de tomada de decisão, seleção de metodologias e formas de priorização de ações”.

A estrutura de governança proposta visa garantir transparência, eficácia e replicabilidade do modelo, respeitando a legislação brasileira e os padrões internacionais de certificação ambiental.

Metodologias internacionais testadas e adaptadas - Foram testadas metodologias consolidadas como a Verra VM0048 (voltada para desmatamento evitado) e a VM0047 (voltada para restauração florestal). Esta última, no entanto, foi considerada inviável no momento devido às características locais do parque.

Já o manejo integrado do fogo demonstrou resultados promissores, tanto em termos ambientais quanto de viabilidade operacional. “Essa combinação entre técnica e realidade de campo foi essencial para validar o potencial do PEPRN”, afirma Rafaela Nicola, diretora-executiva da Wetlands International Brasil.

Biodiversidade ganha protagonismo - Uma das maiores inovações do projeto está na valorização dos chamados créditos de biodiversidade. Com base em diretrizes da Biodiversity Credit Alliance (2024), esses créditos levam em conta aspectos como qualidade do habitat, presença e saúde de espécies-chave e sistemas de monitoramento contínuo.

Para isso, o estudo realizou levantamentos da fauna e flora locais, análise dos habitats e mapeamentos de longo prazo da dinâmica de fogo, comparando dados entre 2013 e 2024.

“O objetivo é criar um mecanismo que valorize não apenas o carbono, mas também a riqueza biológica do Pantanal, tornando o parque uma referência em conservação integrada”, explica Nicola.

Compromissos com a neutralidade de carbono - O projeto está em sintonia com os compromissos assumidos por Mato Grosso do Sul para atingir a neutralidade de carbono até 2030. A estratégia desenvolvida para o PEPRN poderá ser replicada em outras unidades de conservação do estado, como o Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, ampliando o impacto positivo sobre o bioma.

Com embasamento técnico robusto, articulação institucional e soluções adaptadas ao contexto regional, o Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro consolida-se como um laboratório vivo de inovação ambiental. Um projeto que alia ciência, governança e sustentabilidade para proteger o que o Brasil tem de mais valioso: sua biodiversidade.

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