
O Pantanal, uma das maiores planícies alagáveis do planeta e Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco, começa a figurar no radar de redes hoteleiras internacionais. O interesse é impulsionado pelo crescimento do ecoturismo, mas as autoridades e empresários locais impõem uma regra central: novos empreendimentos precisam respeitar a sustentabilidade e a autenticidade da região.

Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, afirma que o governo estadual aposta em um modelo de luxo sustentável, inspirado nos lodges africanos. “Queremos estruturas menores, integradas à natureza e com mínimo impacto ambiental. Não buscamos grandes resorts, mas experiências exclusivas que valorizem a biodiversidade e a cultura local”, afirmou.
Mercado em expansão - O turismo de Mato Grosso do Sul recebeu, em 2024, cerca de 1,5 milhão de visitantes, dos quais aproximadamente 25% eram estrangeiros. A atividade movimentou R$ 4,3 bilhões na economia local, segundo dados da Fundação de Turismo. O Pantanal concentra boa parte desses visitantes, atraídos pela observação de aves — já foram catalogadas 650 espécies — e pela fauna única, que inclui onças-pintadas, jacarés e araras-azuis.
Com o aumento da procura por experiências autênticas, o segmento de luxo se fortalece. Pousadas tradicionais têm migrado para o padrão premium e projetos de hotéis boutique estão prontos para sair do papel. Em Bonito, por exemplo, atrativos naturais de classe internacional já são acompanhados por hospedagens de alto nível, com serviços personalizados e foco em bem-estar.
Interesse estrangeiro - Grandes grupos hoteleiros estrangeiros — incluindo redes globais de luxo — acompanham a expansão do ecoturismo na região. Embora nomes não tenham sido revelados, fontes do setor confirmam que há conversas em andamento. A exigência do governo é que qualquer investimento respeite o conceito de sustentabilidade.
“Estamos abertos a negociações, mas a prioridade é manter o equilíbrio ambiental. O que diferencia o Pantanal não é apenas a natureza, mas também a hospitalidade de sua população. Queremos que isso continue sendo o principal atrativo”, disse Wendling.
Estratégia internacional - Para consolidar o destino no cenário global, Mato Grosso do Sul tem investido em feiras e ações de promoção turística. O estado participou recentemente de eventos internacionais em Londres e Madri, além de receber operadores estrangeiros para visitas técnicas. O objetivo é conquistar especialmente o público europeu, que já demonstra familiaridade com o bioma.
O turismo de luxo sustentável também se tornou prioridade em negociações com investidores estrangeiros. A proposta é criar lodges de alto padrão com no máximo 20 a 30 quartos, construções desmontáveis, uso de energia renovável e programas de conservação ambiental. A ideia é replicar modelos de sucesso em países como Quênia e Botsuana, onde hotéis de selva atraem viajantes dispostos a gastar mais por experiências exclusivas.
Sustentabilidade e legado - Especialistas afirmam que o Pantanal tem potencial para ser um dos principais destinos de turismo sustentável do mundo, desde que o crescimento seja controlado. O bioma, que cobre mais de 150 mil km² em território brasileiro, sofre pressão de queimadas, desmatamento e mudanças climáticas.
“Desenvolver o turismo de alto padrão pode ser uma ferramenta para preservar a região. Quanto maior a valorização econômica da natureza em pé, menor o incentivo para atividades que degradam o ambiente”, avalia o consultor ambiental Luiz Baccaro, que acompanha projetos de conservação na área.
Para Wendling, o desafio é equilibrar expansão e preservação. “Nosso maior diferencial é oferecer um destino seguro, autêntico e com liberdade para os visitantes serem quem são. Mais do que luxo ou biodiversidade, o Pantanal se destaca pela hospitalidade de seu povo. É isso que queremos preservar e mostrar ao mundo”, concluiu.
