
O que começa com farinha, fermento e dedicação diária se transforma em uma poderosa ferramenta de transformação social. Essa é a essência da Padaria da Liberdade, projeto que uniu Sistema Comércio MS, por meio do SESC MS e SENAC MS, e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), e que já ultrapassou a marca de 1 milhão de pães doados para instituições sociais de Campo Grande.

O projeto vai além da produção de alimentos. Ele representa uma nova chance para pessoas privadas de liberdade, aliando qualificação profissional, combate à fome e justiça social. Criada em 2021, a iniciativa funciona no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande, e atualmente conta com oito internos trabalhando na padaria, que produz cerca de 6 mil pães por dia.
Solenidade marca conquista simbólica - Na última segunda-feira, 23 de março, o Restaurante Sesc Sabor e Arte, na capital, foi palco da entrega simbólica que celebrou a marca de 1 milhão de pães distribuídos. O evento reuniu representantes do Sistema Comércio MS, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Agepen, Fapec, sindicatos, gestores do programa SESC Mesa Brasil e os próprios internos que atuam na padaria, que também receberam certificados de qualificação no curso de Manipulação e Higiene de Alimentos, promovido pelo Senac MS.
Modelo que merece ser ampliado - Para o presidente do Sistema Comércio MS, Edison Araújo, a Padaria da Liberdade é um exemplo claro de como a união entre diferentes instituições pode gerar resultados concretos. “É um elo que fortalece nossa rede de apoio e transforma vidas. Mais que uma ação solidária, é inclusão social na prática”, afirmou.
O projeto também mostra como formação profissional dentro das unidades prisionais pode mudar trajetórias. Desde sua criação, os internos recebem aulas teóricas e práticas em panificação, além de aprender sobre regras de higiene e segurança alimentar. As capacitações são oferecidas pelo Senac MS, que também prestou assessoria técnica na montagem da cozinha industrial da padaria.
Vidas que se transformam de dentro para fora - A diretora regional do Senac MS, Jordana Duenha, destacou a importância de olhar para essas oportunidades como portas de recomeço. “Nossa missão é transformar vidas com educação. Atender pessoas que, muitas vezes, não teriam uma chance de se recolocar no mercado, é extremamente gratificante”, disse.
A distribuição dos pães fica sob responsabilidade do SESC MS, através do programa SESC Mesa Brasil, que entrega mais de 21 mil pães por mês, beneficiando cerca de 30 mil pessoas, entre crianças, idosos, pessoas com deficiência e famílias em situação de vulnerabilidade atendidas por instituições sociais da capital.

Justiça com função social - O projeto nasceu a partir de uma ideia do juiz Albino Coimbra Neto, do Tribunal de Justiça de MS, e tem como objetivo unir ressocialização de detentos com impacto social positivo. “Não adianta a prisão se limitar a uma punição vazia. Precisamos preparar essas pessoas para saírem de lá melhores, com responsabilidade e dignidade”, declarou o magistrado.
A seleção dos internos que trabalham na padaria leva em conta o comportamento, tipo de pena e avaliação da equipe técnica. A produção acontece todos os dias, com a coordenação direta dos próprios detentos — que participam ativamente do processo e saem com uma formação valorizada no mercado de trabalho.
Parcerias que fazem a diferença - O sucesso da Padaria da Liberdade só é possível graças à atuação conjunta de várias instituições. Além do Sistema Comércio MS e do TJMS, o projeto tem apoio da Fapec e da UFMS, que ajudam na compra de insumos, gestão financeira e também no desenvolvimento de novos produtos em parceria com o curso de Nutrição da universidade.
Hora de crescer: e se esse modelo fosse ampliado? Com resultados tão expressivos, o debate agora é por que não levar a Padaria da Liberdade para outras unidades prisionais de Mato Grosso do Sul, inclusive no interior? A iniciativa pode servir de modelo para projetos em outras áreas profissionais, como costura, hortas, marcenaria e serviços de manutenção, por exemplo.
A experiência já mostrou que qualificar e reinserir pessoas pelo trabalho é possível. Com apoio técnico, gestão compartilhada e articulação entre Justiça, setor produtivo e educação, a ressocialização se torna algo real e palpável, e os benefícios se espalham para toda a sociedade.
A expansão desse tipo de projeto também tem potencial para reduzir a reincidência criminal, diminuir os custos com o sistema prisional e ainda gerar impactos sociais positivos com a doação de produtos e serviços para comunidades vulneráveis.
A Padaria da Liberdade é uma política pública na prática — com nome, endereço, rostos e histórias. Ampliar esse modelo pode ser o próximo passo para tornar o sistema penal mais útil, justo e humano.
