
O ativista palestino Odeh Hadalin, conhecido internacionalmente por sua atuação contra as demolições promovidas por Israel na Cisjordânia e por sua participação no documentário vencedor do Oscar Sem chão, foi assassinado nesta segunda-feira (28) após ser baleado por um colono israelense na vila de Umm al-Kheir, ao sul da cidade de Hebron. A morte foi confirmada por Yuval Abraham, um dos diretores do filme.

Segundo Abraham, testemunhas locais identificaram o autor do disparo como Yinon Levi, um colono israelense já sancionado pela União Europeia e pelos Estados Unidos por envolvimento em atos de violência contra palestinos. Hadalin, que também era professor e pai de três filhos, foi atingido no tórax e não resistiu aos ferimentos.
“Odeh acabou de morrer. Assassinado”, escreveu Abraham nas redes sociais.
O caso reacende a atenção internacional sobre a crescente violência entre colonos e palestinos em território ocupado, especialmente na região de Masafer Yatta, onde vive Hadalin e que tem sido cenário frequente de confrontos, expulsões forçadas e demolições autorizadas pelo governo israelense.
A vila de Umm al-Kheir está localizada na região de Masafer Yatta, ao sul de Hebron, uma das áreas mais tensas da Cisjordânia ocupada. O local abriga uma população majoritariamente palestina beduína, que vive sob constante ameaça de remoção forçada. Desde os anos 1980, o Exército de Israel designou a área como zona de treinamento militar com fogo real, justificando a retirada das famílias locais.
Hebron e seus arredores são palco da presença de mais de 140 assentamentos israelenses, considerados ilegais pela comunidade internacional, pois foram construídos em território palestino ocupado. Atualmente, cerca de 450 mil colonos israelenses vivem na Cisjordânia, sob a proteção das Forças de Defesa de Israel (FDI).
A morte de Hadalin causou forte comoção entre ativistas de direitos humanos e políticos israelenses da oposição. O deputado Ofer Cassif, crítico do governo de Benjamin Netanyahu, lamentou publicamente o ocorrido e destacou a importância de Hadalin como voz da resistência pacífica em uma região historicamente marcada por tensão.
Nas redes sociais, Yuval Abraham lembrou da importância de Odeh para o documentário Sem chão, que retrata justamente a luta dos moradores de Masafer Yatta contra a expulsão forçada e a violência institucional.“Um colono israelense acaba de atirar nos pulmões de Odeh Hadalin, um ativista notável que nos ajudou a filmar Sem chão em Masafer Yatta”, escreveu.
A morte de Hadalin não é um caso isolado. Em março deste ano, Hamdan Ballal, um dos diretores palestinos de Sem chão, foi agredido por colonos israelenses e detido por militares das FDI. Segundo testemunhas, Ballal foi linchado após tentar impedir o roubo de ovelhas em uma fazenda palestina na cidade vizinha de Susiya.
Após ser espancado e vendado, ele foi mantido em uma base militar, onde continuou sendo agredido por soldados enquanto estava no chão. O cineasta foi libertado no dia seguinte, mas o caso provocou indignação e novas denúncias de abuso militar e cumplicidade com ações violentas de colonos.
O documentário Sem chão foi dirigido pelos palestinos Hamdan Ballal e Basel Adra, em parceria com os israelenses Yuval Abraham e Rachel Szor. A obra retrata o cotidiano das famílias de Masafer Yatta, que vivem sob a constante ameaça de remoção e cujas casas, plantações e estruturas básicas são frequentemente demolidas por ordens militares.
O filme foi premiado com o Oscar de Melhor Documentário, destacando-se pela abordagem colaborativa entre cineastas palestinos e israelenses, e se tornou símbolo da resistência não violenta em uma das regiões mais conflituosas do Oriente Médio.
A morte de Hadalin, uma das figuras mais presentes na obra, representa não apenas uma perda humana, mas também um ataque direto àqueles que buscam documentar e denunciar a ocupação.
O assassinato de Odeh ocorre em meio a uma escalada da violência na Cisjordânia, com aumento de ataques de colonos armados, frequentemente com impunidade e até apoio logístico por parte das Forças Armadas israelenses. A situação tem provocado reações de organizações internacionais e de países como Estados Unidos, França e Noruega, que pedem maior proteção para civis palestinos.
Em fevereiro deste ano, Yinon Levi, o colono acusado de matar Hadalin, já havia sido sancionado por Washington e pela União Europeia por envolvimento em ataques a vilarejos palestinos. Ainda assim, continuava atuando na região.
A morte do ativista reacende pressões para que governos estrangeiros e organismos multilaterais intervenham de forma mais firme na defesa dos direitos humanos nos territórios ocupados.
