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22 de setembro de 2025 - 15h59
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MEIO AMBIENTE

Brasil anuncia meta climática ambiciosa, mas amplia planos de exploração de petróleo e gás

Relatório internacional aponta contradições na política energética brasileira às vésperas da COP-30

22 setembro 2025 - 09h15Roberta Jansen
Brasil é bom 'palco' para investimento em fontes renováveis, pois vem crescendo em energia solar e eólica.
Brasil é bom 'palco' para investimento em fontes renováveis, pois vem crescendo em energia solar e eólica. - (Foto: Daniel Teixeira/Estadão)
ENERGISA

O Brasil se comprometeu a reduzir em até 67% suas emissões de gases de efeito estufa até 2035, mas ao mesmo tempo prevê ampliar significativamente a produção de combustíveis fósseis nas próximas décadas. A contradição foi destacada pelo relatório internacional Lacuna de Produção 2025 (The Production Gap), divulgado nesta segunda-feira (22) por instituições ambientais internacionais com participação de cientistas brasileiros.

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Segundo o levantamento, a produção de petróleo no país deve crescer 56% até 2030 e a de gás natural mais que dobrar até 2034, com alta projetada de 118%. O estudo analisou os planos de 20 grandes produtores de combustíveis fósseis, que juntos respondem por 80% da oferta global.

COP-30 coloca Brasil em evidência

A publicação do relatório ocorre em um momento de maior visibilidade internacional para o Brasil, que sediará a Cúpula do Clima da ONU (COP-30) em 2025, em Belém, no Pará. O governo Lula busca se consolidar como liderança nas negociações ambientais, mas enfrenta pressões internas devido aos projetos de exploração na Margem Equatorial, região da Foz do Amazonas.

A ambiguidade entre metas climáticas e expansão fóssil não é exclusiva do Brasil. Globalmente, os países planejam extrair 120% a mais de combustíveis fósseis do que o limite compatível com a meta do Acordo de Paris, que busca restringir o aumento da temperatura média do planeta a 1,5°C em relação ao período pré-industrial.

Debate interno e pressões ambientais

Para Alexandre Szklo, professor da UFRJ e um dos autores do relatório, a questão central é definir critérios mais sustentáveis para a produção que ainda será necessária. “Se reconhece que o petróleo ainda será necessário. Mas não são definidos os critérios e instrumentos para estabelecer como será feita essa produção remanescente de forma mais sustentável”, afirmou.

Dentro do próprio governo, há divergências. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defende que a Petrobras invista em energias renováveis. Já o presidente Lula reforçou a intenção de explorar a Margem Equatorial de forma, segundo ele, “responsável”.

Adesão à Opep+ e novos projetos

Outro ponto polêmico é a decisão do Brasil de ingressar na Opep+, grupo de países produtores de petróleo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu a iniciativa e afirmou que o país “não deve se envergonhar de produzir petróleo”.

Em paralelo, a Petrobras e o Ibama chegaram a um acordo para testes exploratórios na Foz do Amazonas, no Amapá, etapa que antecede a decisão sobre concessão da licença de perfuração.

Ambientalistas alertam para riscos de grandes impactos em ecossistemas sensíveis, como a fauna marinha da Margem Equatorial, em caso de acidentes. Neil Grant, cientista que também colaborou no relatório, criticou os planos globais de expansão. “É intoleravelmente injusto pensar nos custos humanos e ambientais desses projetos, sobretudo para os mais vulneráveis”, destacou.

Além da transição energética, especialistas apontam que o Brasil pode cumprir parte importante de sua meta climática com o fortalecimento da agricultura de baixo carbono e o combate ao desmatamento. Desde 2023, as taxas de destruição da Amazônia caíram pela metade, mas a degradação contínua ameaça o equilíbrio do bioma.

“O Brasil tem potencial de avançar com biocombustíveis e reflorestamento, reduzindo emissões e removendo carbono da atmosfera”, acrescentou Szklo.

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